Sempre gostei muito do trabalho do treinador Tite. Porém, sejamos justos que as contestações que está recebendo neste momento como treinador da Seleção Brasileira, muitas delas, são justas (mesmo com o excepcional índice de aproveitamento, acima de 80%, embora contra adversários nem sempre incontestáveis).
Quando o técnico Carlos Alberto Parreira, indiscutivelmente um estudioso do futebol, respeitadíssimo no Exterior e entre seus pares, disse que no futebol “o gol somente é um detalhe” (dentro de um contexto onde explicava seus conceitos), o mundo caiu-lhe sobre a cabeça. Não é o linguajar que o torcedor gosta de ouvir, pois traz antipatia.
Tite, quando ganhava o Mundial de Clubes pelo Corinthians, estava sendo considerado um “semi-Deus”. E com justiça! Com mérito, chegou a Seleção. Se o time joga bem, ninguém se importa com termos como “treinabilidade”, incorporados ao vocabulário do esporte por ele. Mas quando o time joga mal (como está jogando, independente dos placares e dos testes de novos nomes), tudo conspira contra. Evitar certas demonstrações de superioridade, se fazer próximo e aberto às críticas, se faz necessário para não se perder a simpatia. Só que, num sábado à tarde, quando você vê a Seleção Pentacampeã do Mundo (que, sabemos, diminuiu sua qualidade nos últimos anos) empatar com o humilde Panamá, não se pode em hipótese alguma dar entrevistas usando justificativas de que observou o funcionamento das “sinapses no último terço”, que o time ousou com “extremos desequilibrantes” e o importante é “performar com resultado”.
Pô, Tite, nem todo mundo vai te entender. É claro que esse vocabulário não altera o placar do jogo, mas modifica o apoio ou a repulsa do torcedor e aumenta ou diminui a pressão. É EVITÁVEL usar tais vocábulos.
Me recordo que um dia discuti sobre “como todo grande pensador pode ter o ego massageado ao criar um termo, um modismo ou um conceito”. Trazendo isso ao futebol: Rinus Michel criou o Carrosel Holandês que assombrou os anos 70; Guardiola o Tik-Tak mais recentemente. Se voltarmos na história, o (na época) revolucionário WM de Herbert Chapman (treinador do Arsenal) que mudou os conceitos naquele momento histórico. E ao falar com palavras não usuais e termos fora do futebol (não condeno isso, apenas questiono), Adenor Bacchi estaria querendo mostrar a criação de um novo modelo ou conceito de futebol, no qual futuramente lembraremos dele? O do modelo de “sinapses rápidas desequilibrastes”?
Tomara que, usando a linguagem mais formal, não seja somente “diálogo flácido para acalentar bovino: (conversa mole para boi dormir). Torço pelo Tite, vejo que a equipe melhorou nesta apresentação contra a República Tcheca (embora nunca se possa avaliar um trabalho pelos dois últimos jogos), mas buscar a empatia e evitar a subida a um pedestal é importante. Nesse momento difícil de remontagem da Seleção e de futebol contestável, o quanto menos colocar o “bumbum na janela”, melhor.
