Uma discussão provocativa ou até mesmo desnecessária, causada intencionalmente pela FIFA: a pedido do jornalista Jamil Chade do jornal “O Estado de São Paulo”, a entidade se manifestou sobre quem são os campeões mundiais de futebol nos torneios entre clubes.
Para ela, são reconhecidamente campeões, de maneira oficial, os vencedores dos torneios organizados em 2000 e de 2005 em diante (até hoje). Os da Copa Rio e os do Torneio Intercontinental Europa – América do Sul, segundo ela, são reconhecidamente vencedores de torneios de dimensão mundial.
Ora, e muda o quê?
NADA, embora ela queira instigar o valor dos torneios, sem desvalorizá-los diretamente. E existe uma lógica na “estratégia” da FIFA, pois ela cita em seu pronunciamento, e o faz de maneira escrita e nominal, que a Copa Rio de 1951 e 1952, além do Intercontinental disputado entre os campeões europeus e sulamericanos (via UEFA pela Champions League e CONMEBOL pela Libertadores da América) são iniciativas de “torneios de dimensões mundiais” nas quais não pode dar sua chancela. E isso é evidente, já que não foi ela quem os organizou!
Mais do que isso: ela acaba ratificando que o Palmeiras (vencedor da Copa Rio 51) é o 1o campeão de dimensão mundial de um torneio entre clubes (no qual ela se recusa a chamar de campeão mundial unicamente por não ter sido de sua promoção), aceita o Fluminense tão campeão mundial quanto o Palmeiras (afinal, ela fala do torneio vencido pelos cariocas em 52) e assume que os jogos intercontinentais da década de 60 até o último do ano 2000, organizados pela Toyota (não cita explicitamente a montadora japonesa já que coreanos da Hyundai, parceiros atuais da FIFA, não ficariam à vontade) são da mesma importância. Por fim, destaca, disfarçadamente, que só pode reconhecer os que ela criou.
Trocando em miúdos: a FIFA admite a existência de torneios mundiais em outros tempos antes do dela, mas se recusa a reconhecê-los, pois, afinal, ela só valida o que ela mesmo criou.
Vaidade e necessidade de valorizar seu torneio. Simples. Afinal, como sugeriria australianos, japoneses, africanos e outros times do mundo para dar caráter global, se não fosse por essa competição? Tanto que ela não consegue dizer aberta e claramente que o Santos de Pelé, o São Paulo de Telê, o Flamengo de Zico ou qualquer time argentino que venceu o Intercontinental não são campeões mundiais de futebol via outros organizadores. Ou alguém um dia conseguiu registrar tal afirmação, ou melhor, negação?
E sabe de quem é a culpa de tudo isso? Dos INGLESES, os “pais” do futebol! Eles relutaram em aceitar a FIFA como instituição “dona do esporte” (na época, repleta de franceses, seus arquirrivais), se filiando em 1906 mas saindo em 1928, se recusando a participar das Copas do Mundo até 1950 (ficaram mais de 20 anos fora da FIFA). Quase montaram uma instituição concorrente, o que não se concretizou. Lembre-se, a FIFA é uma empresa privada, não uma ONG solidária de ciência e cultura esportiva.
Objetivamente: quer dizer que o futebol, em geral, inexistia antes da FIFA? É claro que não, mas pelo seu peso e importância, ela forçosamente quer criar tal situação. Portanto, esqueça tal balela de botequim e reconheça: existem os Campeões Mundiais de Clubes dos torneios oficiais da FIFA e outros Campeões Mundiais de Clubes dos torneios não promovidos por ela (pois ela não tinha interesse comercial de fazê-lo até aquele momento). E nem diga que o fato de não ter todos os continentes nas edições não-FIFA não é algo mundial, pois também na Copa do Mundo de Seleções nem sempre tivemos também todos os 5 continentes (que para ela são 6)!
Abaixo, o “print” do comunicado oficial da FIFA gentilmente publicado por Jamil Chade em seu twitter: