Na Arena Corinthians, um lance protagonizado pelo árbitro assistente 1 Fábio Pereira (TO) trouxe novamente à tona a história de “apito amigo” e outras tantas teorias conspiratórias que costumamos ouvir.
O certo é: houve um erro importante, grosseiro e que vale a pena entender os motivos que levam um bandeira a errar.
Aos 10 minutos do 2o tempo, após a cobrança de escanteio, Edson cabeceia e a bola sobra para o ataque do Fluminense. A defesa do Corinthians sai em disparada, tentando fazer a “linha burra” e deixa Wellington Paulista em posição de impedimento. Entretanto, a bola sobra para Cícero (que vem de trás e em posição legal) chutar e fazer o gol. Equivocadamente, o bandeira tocantinense da FIFA impugna a jogada marcando impedimento.
Vendo e revendo o lance, entendo que o impedimento foi marcado pela posição de Wellington Paulista. Correto, se fosse há 30 anos…
Tentando “entrar na cabeça do bandeira”, vejo que ele interpretou que o jogador do Fluminense que estava em cima da linha na área de meta, em frente ao Cássio, em posição de impedimento, atrapalhou o campo visual do goleiro, pois “interferia contra um adversário” (a 2a condição da regra do jogo para marcar impedimento). ERROU! Antigamente era sancionado o impedimento a qualquer atleta à frente da bola sem ter dois adversários entre ele (sem diferenciar a existência de impedimento passivo e impedimento ativo). Hoje não!
Wellington Paulista está em POSIÇÃO DE IMPEDIMENTO, mas não impedido (que é a clássica situação que chamamos de PASSIVO)! Ou seja, só poderia ser sancionado por dois motivos:
1) se a bola vai para ele (e aí ele se torna em impedimento ativo por interferir na jogada tocando na bola, que é a 1a condição da Regra do Jogo p/ impedimento);
2) se corre em direção ao goleiro interferindo contra ele atrapalhando o seu campo visual (situação citada anteriormente). Me parece que o bandeira Fábio Pereira entendeu que houve essa interferência, e o equívoco é esse: o jogador demonstra claramente que não quer participar do lance, ele fica “duro”, parado, estático, assistindo seu companheiro (Cícero) que vêm de trás, legalmente, sem ter nada a ver com isso, marcar o gol.
Portanto:
– seria um gol bem anulado nos anos 80;
– duvidoso nos anos 90 (há nesse período o uso dos termos “ativo e passivo” de maneira mais popular);
– mal anulado nos anos 2000 (quando começou a se cobrar que só se marque impedimento se efetivamente existir a interferência) e,
– ridiculamente / grosseiramente / assustadoramente errado em 2015, pois a última orientação da FIFA, pré-Copa de 2014, pede que os árbitros assistentes saibam discernir muito bem quando um jogador que está à frente da linha da bola realmente participa da jogada, privilegiando sempre a “calma” (contar 1,2,3…) para perceber que quem vai concluir um lance é outro atleta em condição legal.
A única dúvida que me persiste é: nas imagens que eu assisti, não mostram o bandeira no momento em que a bola é cabeceada, só o vejo depois que ergueu o instrumento. Tenho muita curiosidade em saber: ele já ergue o instrumento quando a bola ainda está viajando ou só depois que o Cícero a domina?
a- Se foi durante a trajetória da bola, mostra que ele fez a leitura errada do atleta que estava sobre a linha de meta (confirmando tudo o que citamos);
b- Se ele parou só depois da conclusão do gol (improvável, quero crer que não tenha acontecido isso), o bandeira provavelmente o faz sem certeza alguma do que estava fazendo – ou seja, por pressão, por “susto” em ver todos na frente sozinhos (a defesa do Corinthians saindo durante a cabeçada pode ser determinante para ele se atrapalhar) e até mesmo a cor do uniforme (Corinthians de Laranja e o time das Laranjeiras de branco). Nenhum desses fatores pode ser descartado para tal erro grosseiro.
O problema maior é que os erros estão acontecendo em vários jogos e em todas as rodadas e a todas as equipes. Não acredito em erros propositais ou esquemas armados, pois, se fosse assim, o Corinthians de Andrés Sanches é desafeto da CBF e estaria brigando para não cair; tampouco penso em erro para time de massa, pois se fosse dessa forma, o Flamengo seria um dos ponteiros.
A verdade é: a CBF tem um presidente ilhado no Brasil, acuado e acusado por corrupção e que está cercado de pares políticos cheios de interesse. Seus subordinados se mostram incompetentes. É o chamado “desmando” administrativo.
Puxa, até pareceu o retrato da administração pública de um certo país… O futebol, sem dúvida, é um microcosmo da sociedade.
O que me deixa mais triste é: os dirigentes de clubes que hoje se queixam, não têm a mesma atitude de quando são beneficiados. Por quê hipocritamente a grita é diferente? Quando o erro é a favor, o cartola discursa: “o lance é difícil, o árbitro é humano…“. Mas quando é erro contrário, sempre se acusa de esquema!

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