Não está fácil para ninguém: nesses tempos em que as pessoas se tornam cada vez mais materialistas e vaidosas, onde preenchem seus dados como “tenho um lado independente de religião”, ou “espiritualidade própria”, a Diocese Católica de Nova York senta na carne a diminuição de fiéis e fechará 40 igrejas.
A questão é quase a mesma que a do Brasil: está diminuindo o número de fiéis declarados ou se está contabilizando apenas os praticantes?
Isso é importante: há muitos “católicos de carteirinha”, que declaram uma religião ao IBGE mas que não a praticam verdadeiramente. Desses, talvez, a Igreja só os vê quando buscam algum sacramento. Por isso que quem vive a fé, deve praticá-la exemplarmente.
Abaixo, extraído da Folha de São Paulo, caderno Mundo A12, por Thaís Bilenky
DIOCESE DE NOVA YORK FECHA 40 IGREJAS A 2 MESES DE VISITA DO PAPA
A menos de dois meses da chegada do papa Francisco aos EUA, a Igreja Católica em Nova York fez um enxugamento inédito ao fechar, na última sexta-feira (31), quase 40 paróquias, deixando fiéis e até padres inconformados.
Ao menos sete frequentadores de diferentes igrejas enviaram apelos ao Vaticano na tentativa de reverter a medida do cardeal Timothy Dolan.
A decisão foi tomada devido à queda no número de fiéis nas missas e também pela escassez de padres. Além da extinção, diversas igrejas foram fundidas.
Em carta aberta, o cardeal Dolan disse que “não se pode mais esperar que o nosso povo vá aparecer, que as pessoas que foram batizadas e criadas como católicas vão morrer católicas. Não podemos mais gastar energia e recursos mantendo estruturas que não estão funcionando”.
Segundo o centro de estatística católica da universidade Georgetown, em 1965 havia quase 59 mil padres nos EUA. No ano passado, eram só 38 mil. A população católica praticante representava um quarto da população; agora, é um quinto.
Francisco chegará aos EUA em 22 de setembro e viajará a Nova York dois dias depois. Na cidade, fará um discurso na Assembleia-Geral da ONU e uma missa no ginásio Madison Square Garden.
MÁ PUBLICIDADE
O fechamento das igrejas havia sido anunciado já no fim do ano passado. Mas esperar até as vésperas da visita do papa para a celebração da missa final causará embaraço aos líderes católicos em Nova York, afirmou o padre Patrick McCahill, 72.
“Não é boa publicidade à diocese de Nova York. O papa quer que a gente sirva às pessoas pobres e aqui fecham as igrejas para as pessoas pobres. Não faz sentido”, disse.
O padre é responsável pela paróquia Santa Isabel, dedicada a surdos. Ele celebra as missas na linguagem dos sinais, e há programas específicos voltados à comunidade que deverão ser transferidos a outra igreja próxima.
Os fiéis não gostaram. Na última missa, houve choro e lamento. “Nós nos sentimos traídos. Eles não tinham o direito de fechar. Não vinha muita gente, umas 50 no máximo. E daí? Quem se importa com quantas pessoas frequentam a missa? A gente frequenta”, disse um fiel, que não quis ser identificado.
Kal Chaney, 58, membro atuante da comunidade, é autor de um dos recursos enviados ao Vaticano. Ele argumenta que a igreja está em bom estado de conservação e possui reservas financeiras.
Chaney suspeita que a valorização imobiliária no bairro onde fica a igreja –o Upper East Side– devido à construção de uma estação de metrô pode ter motivado o fechamento. O Vaticano deve responder ao apelo de Chaney até setembro. Mas o padre McCahill acredita que a visita papal acelere o processo.
“Minha esperança é que a atitude de Francisco de cuidar de pessoas vulneráveis tenha penetrado na burocracia da igreja e que não vejam motivo para fechar.”