Normalmente, jornalista experiente costuma dizer que com o peso da idade vai torcendo para os amigos. E isso é verdade. Mas tem sim um time do coração também, cuja relação profissional é a barreira exata para à credibilidade do seu trabalho.
Repercutiu muito na última semana a imagem da emoção do jornalista Ivan Moré, que lembrou do seu pai e disse ser corintiano. Aí você se recorda de Milton Neves, Roberto Avalonne, Chico Lang, Juca Kfouri e Mauro Beting, que são jornalistas e torcedores assumidos dos seus clubes. Aliás, de todos esses, nos comentários, vejo o Mauro como o mais “totalmente imparcial”. Parabéns, não deve ser fácil aguentar a cornetagem da sua própria torcida quando escreve ou diz algo que o mais exacerbado se sinta desagradado.
Eu não declararia, apesar que, depois que você se torna árbitro de futebol e conhecer os bastidores dele, percebe que o esporte do ludismo infantil nada mais é do que um negócio profissional. Assim, por força do ofício, por perder o encanto e por entender que muitos torcedores não conseguiriam entender a separação, não digo publicamente meu time grande de infância. Mas, o time de hoje, adulto (que também era o de infância juntamente com o “grandão” que já não consigo mais torcer), publicamente todos sabem, é o Paulista Futebol Clube, Galo da Japi, Tricolor Jundiaiense. E aí por vários motivos: ser o primeiro campo de futebol que fui, influência do pai, estar na minha cidade, passar a minha infância torcendo (já disse aqui: meu jogo inesquecível “in loco” é Paulista x Palmeiras de São João da Boa Vista, gol do Ricardo Diabo Loiro nos acréscimos, no ano da campanha que culminou com a vitória sobre o Vocem de Assis por 7×1 no Parque Antártica na volta à Divisão de elite do futebol Paulista – mais importante e emocionante para mim, na época criança, do que a Copa do Brasil 2005).
Enfim:
1- Pessoa pública, em especial jornalista esportivo, dizer para quem torce, é um risco de se pagar o preço alto das patrulhas da Web.
2- Árbitro de Futebol, mais ainda! Acredite, acontece o fenômeno de se “desgostar do time” por conta de se tornar juiz, mas o principal é: você torce para “você mesmo, pela sua carreira”. Claro, falamos no início de quem já “pendurou o apito”, mas para quem está na ativa é inaceitável por lógica (Importante: vejo alguns poucos ex-Árbitros famosos torcendo para seus clubes grandes de infância – aí é com eles). Para os comentaristas de arbitragem, declarar o time grande cai na mesma seara da desconfiança por parte dos mais fanáticos, embora possam fazer com total isonomia.
3- Jogador de Futebol, outro problema: você consegue ver o são-paulino Rogério Ceni como treinador do Palmeiras? Eu não consigo, penso que a rejeição será grande. Aliás, repararam o número de atletas que o Corinthians está contratando que são redescobertos com fotos vestindo a camisa do Timão quando criança? Se forem para outro clube… Inesquecível a contratação do jogador Getterson pelo SPFC, que horas depois, descobriu-se no Twitter que era corintiano e fazia troça do São Paulo quando mais jovem e foi descontratado na sequência. O que aconteceu com a carreira dele? Alguém lembra hoje do Getterson? Se tivesse tomado cuidado, poderia ter agarrado a chance em jogar num time de expressão.
Dito tudo isso, responda:
1- Você torce para time grande e time pequeno? Essa vale para o torcedor que vai ao Estádio da sua cidade no Interior (Guarani e Ponte Preta, sabidamente, são exceções).
2- O que você acha de pessoas da imprensa declararem o seu time do coração? Essa se refere à figura conhecida nacionalmente, como Galvão Bueno, por exemplo.
Deixe seu comentário:
(Em tempo: para ficar claro, meu time de infância era o XXXX Atlético Clube e o Paulista FC; quando me tornei árbitro e vi os bastidores, percebi que o desgosto em ter simpatia pelo XXXXXX era grande mas não consegui deixar de gostar do Paulista – embora sendo vetado pela FPF em trabalhar no Jayme Cintra por força das regras da carreira, fui escalado algumas vezes em jogos do Galo como 4o árbitro, agindo com isenção e profissionalismo – assim como faço hoje, em minhas análises como comentarista na Rádio Difusora, nas colunas postadas na Web e em outras mídias).