No final do ano, sempre se faz balanços sobre os acontecimentos ocorridos. E quando penso no futebol… desanimo, tamanho é o desânimo.
Explico:
Quantos casos explícitos ou velados de racismo presenciamos em 2020? E ao invés de termos unanimidade no combate ao preconceito, testemunhamos pessoas falando que é “mi-mi-mi”… Que insensibilidade! De onde vem tanta falta de empatia?
Aí vemos os clubes não fazendo a parte deles. O Corinthians fala em “proteger as ‘minas’”, mas faz gozação homofóbica contra o São Paulo. O Tricolor, por sua vez, tem feito campanhas efetivas em defesa dos torcedores gays da sua agremiação? Lógico que não. A propósito: e a campanha para uso da “Camisa 24” que diversos clubes lançaram? Ficou só no blá-blá-blá, aparentemente.
O que entristece é o discurso descomprometido que é “só futebol”, que tudo pode. Peraí: falamos de futebol profissional, business, milhões (e às vezes, bilhões) envolvidos. É a indústria do entretenimento, que gera empregos, paixões e eventos. Não é a várzea amadora, das periferias onde tudo pode (ou quase tudo). É jogo (ou jogaço) que acontece no Morumbi, Maracanã ou Mineirão!
Como toda atividade profissional, há regras, ética, responsabilidades social e fiscal, além da necessidade de ser e dar exemplo.
Quer mais um desapontamento? Equipes falidas que abrem mão de trabalhar com parceiros sérios como Red Bull, City Group ou qualquer outro conglomerado, mas aceitam empresários suspeitos e negócios escusos, pois eles “não vão mudar o uniforme do time” ou “vender a ‘alma’ da equipe”. E se der errado, lógico, a culpa é da imprensa (como virou um mantra).
Alma? Só se for penada… ou “pelada no saldo bancário”. Mas dos cartolas envolvidos, aí é outro papo!
Já imaginaram quanta história os centenários Paulista de Jundiaí, Noroeste de Bauru, Ponte Preta de Campinas ou tantos outros têm, e correm o risco de sumir num curto médio / prazo? Sim, o panorama catastrófico é real, pois as contas vencem e o cenário global é cada vez mais rápido (e não aceita desculpas).
Vale o mesmo para os grandes, que se apequenam cada vez mais: Vasco e Botafogo vivem do quê? De títulos, de receitas, de ambos ou de nenhum deles? Ou de… história?
É desanimador, me desculpem. E se falar de outra seara, a arbitragem, é pior ainda! A FPF tinha sempre meia dúzia de árbitros em condições de apitar pela FIFA (e qualquer jogo no mundo). E hoje?
Aliás, o VAR, que tanto ajuda mundo afora, aqui atrapalha. Sem contar nos cabides de emprego: AVAR1, AVAR2 e supervisor de protocolo, onde a cartolagem do apito se auto-escala e se “auto-avalia”.
Tudo isso faz com que exista descrédito. Rogério Ceni deixou no ar que há favorecimento para o São Paulo no Brasileirão. Ué, quer dizer que árbitro paulista não pode apitar time carioca pela luta do título? Também não poderá gaúcho, mineiro e de outros estados envolvidos na parte de cima e na parte de baixo da tabela. Assim, vamos trazer árbitros do Tocantins, do Amapá e da Roraima, que não têm times na 1ª divisão.
Neste discurso cheio de teorias conspiratórias, quem vai investir num campeonato que é colocado em dúvida?
Desculpem-me, mas cansa. E para cansar derradeiramente, lembremo-nos que até semanas atrás os dirigentes dos clubes queriam, junto com os políticos, a volta das torcidas em plena pandemia.
Acabe logo 2020. Venha diferente, 2021. E bem melhor, pois esse último no cansou demais.
