Os árbitros de vídeo (VAR) foram bem preparados para, pela 1a vez, trabalharem numa competição oficial da FIFA. Eles foram convocados com o critério de terem a mesma competência técnica do árbitro central (caso fossem novatos, a chance de equívocos seria maior).
E o primeiro lance ocorreu em uma situação NÃO COMBINADA originalmente! A FIFA queria o recurso para, em um primeiro momento, 4 situações: pênaltis ou simulações; dúvida se o lance seria para cartão amarelo ou vermelho; gol mal anulado ou não; dúvida de quem seria o infrator de uma falta (vide essas situações mais detalhadas em: http://wp.me/p55Mu0-Q5). Entretanto, durante os testes, a FIFA achou importante que se permitisse ao VAR comunicar ao árbitro outros lances relevantes da partida, como, por exemplo, agressões fora do campo visual. E foi justamente o que ocorreu no jogo entre Atlético Nacional x Kashima!
Aos 27m, Mosquera (NAC) tromba com Nishi Daigo (KAS). Supostamente durante a trombada, o atacante do time japonês é também calçado (confesso que tenho dúvidas se ocorreu a infração ou não). O detalhe é que o árbitro central Vitor Kassai (húngaro) não viu o lance pois, conforme seu posicionamento em campo, estava com a visão encoberta. O árbitro de vídeo Damir Skomina (esloveno) é quem viu e relatou. Avisado, na primeira paralisação da partida o juiz correu à beira do gramado e assistiu o lance em um monitor junto ao quarto-árbitro (isso também não estaria originalmente disponível, já que a primeira ideia era de que a informação fosse somente por rádio).
Tecnicamente, o sistema de uso da tecnologia funcionou perfeitamente, com os ajustes acrescentados durante as experiências: o árbitro foi informado do lance, e em dúvida da informação consultou a jogada em um monitor à beira do gramado. Simples.
Mas outro grande detalhe não foi somente o uso da tecnologia, mas de conhecimento da regra: no mesmo lance, o atacante Nishi ESTAVA EM IMPEDIMENTO!
Acertou ou errou o árbitro então?
Vamos lá: acertou!
Explico: a bola é cruzada na área e não vai para Nishi. Ele está em impedimento passivo! Se a bola fosse a Nishi e ele estivesse tentando dominá-la, seria impedimento ativo – e essa condição precederia o pênalti. Dessa forma, você não pode marcar o pênalti, mas deve confirmar o impedimento. E dependendo da violência da infração, pode dar a sanção disciplinar (cartão amarelo ou vermelho), mesmo não marcando o pênalti pois o jogo já estava paralisado com o impedimento ativo.
Assim, o pênalti (se realmente houve o toque infracional) foi duplamente bem marcado: pelo uso da tecnologia em um lance fora do campo visual do árbitro e por ser em uma jogada de pouco conhecimento teórico de muita gente. Reitero: se estivesse em impedimento ativo, não seria pênalti; mas em impedimento passivo, é infração fora do lance de bola e falta (como está dentro da área, é pênalti).
Lembrando: se o uso do VAR fosse como anteriormente discutido no começo do ano em Cardiff (as 4 situações citadas), esse pênalti não seria avisado ao árbitro.