Está na moda criar ambientes descontraídos para os empregados tirarem o stress. Mas eles dão resultado realmente?
Ótimo conteúdo para reflexão, extraído de Folha de São Paulo, Caderno Sobre Tudo, 18/09/2016, D4.
PUFE E SINUCA AJUDAM MESMO A RELAXAR?
Por Anna Rangel
Espaços de relaxamento com pufe colorido, mesa de sinuca e videogame começaram a aparecer nos escritórios de empresas de tecnologia nos anos 1990, nos Estados Unidos. Hoje estão por todos os lados, de companhias do setor de inovação, como start-ups, a segmentos mais tradicionais, que seguem o horário comercial.
A ideia por trás da iniciativa é criar um ambiente descontraído, no qual o número de horas trabalhadas contaria menos do que os resultados entregues, explica Tania Casado, doutora em administração e chefe do escritório de desenvolvimento de carreiras da FEA (Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis da USP).
Falta consenso, no entanto, quanto à efetividade das ações -afinal, dá para desestressar no meio do expediente, dentro do trabalho?
“É algo considerado ‘cool’, mas em áreas rígidas, como a tesouraria de uma companhia que depende do horário comercial, a iniciativa pode não dar certo”, diz Casado.
Em setores criativos, o expediente flexível e as distrações são propositais, segundo Marcelo Nakagawa, doutor em empreendedorismo tecnológico pela USP e professor do Insper. “Faz sentido porque incentiva o profissional a pensar em soluções diferentes”, afirma.
Em empresas mais tradicionais -escritórios de advocacia ou de contabilidade, por exemplo-, no lugar de salas de jogos são oferecidas palestras sobre bem-estar e serviços gratuitos de massagem e manicure para relaxar.
Mas nem sempre a moda pega entre os funcionários. A gerente de estratégia digital Ana Lucia Conti, 50, teve dificuldade para começar a usar os serviços e espaços de descompressão da empresa de benefícios Sodexo, que incluem café da manhã, quiropraxia e manicure.
“Para mim, é difícil parar durante o expediente, porque venho de uma geração que separa o trabalho e o lazer e sente até culpa quando tira tempo para descansar”, diz.
A contadora Aline Andrade, 31, do portal de imóveis VivaReal, também não se acostumou com a estrutura de lazer da empresa, que inclui espaços com jogos e jardim no piso térreo.
“Venho de outra cultura corporativa, menos descontraída. Profissionais do marketing aceitam mais essa liberdade do que os de contábeis”, afirma. Como forma de desestressar, ela usa o horário de almoço para fazer academia perto do trabalho.
A vice-presidente de RH do VivaReal (visite o site da empresa: http://www.vivareal.com.br/), Renata Lorenz, diz que há alta adesão dos funcionários ao espaço de descompressão da sede, inaugurada em 2015. “A pessoa tem direito de fazer pausas. Os gestores só se incomodam quando o profissional não entrega o que é pedido.”
NOVA CULTURA
Para especialistas, a efetividade das práticas de relaxamento no trabalho depende de uma mudança de cultura e não apenas da instalação de pufes ou jogos.
“O gestor deve entender o valor desse momento e não cobrar que seus funcionários compensem cada minuto longe da mesa”, afirma Casado.
O assistente de operações do Mercado Livre Vinícius Santos, 20, diz que o tempo que passa no salão de jogos da nova sede da empresa em Osasco (na Grande São Paulo) não é descontado de sua carga de trabalho.
“Não sou cobrado a repor esse tempo, mas acabo compensando, porque, às vezes, preciso ficar a mais para trabalhar em algo urgente.”
Para Elisa Kozasa, neurocientista do Hospital Israelita Albert Einstein, o espaço deve estar aliado a uma filosofia interna de não sobrecarregar os colaboradores.
“Não basta abrir uma sala com almofadas se o dia a dia da empresa é massacrante, porque isso só traz um alívio momentâneo, não um benefício a longo prazo.”
É importante ainda que os funcionários saibam aproveitar com moderação. “O excesso de descontração pode atrapalhar o andamento do trabalho”, afirma Nakagawa.
SEM SAIR DA MESA
Exercícios antiestresse para fazer no trabalho
- Respire profundamente pelo nariz, expandindo o estômago. Repita esse processo lentamente por três vezes, até que a respiração se estabilize
- Estique as pernas e coloque os pés em forma de garras. Inspire e tensione os dedos dos pés. Prenda o ar por cinco segundos e solte
- Repita duas vezes para cada grupo muscular: pernas e panturrilha, abdome, ombros e braços e pescoço
- Gire a cabeça várias vezes, lentamente, para os dois lados. Tente tocar o ombro com a orelha esquerda
- Jogue a cabeça para trás, olhando para o teto, e repita o movimento do lado direito. Gire para a frente até que o queixo toque o peito. Faça isso três vezes de cada lado
- Repita o movimento de contrair e relaxar os músculos do passo 2, mas agora com o rosto. Comece pela boca, depois pálpebras e testa. Franza bem o rosto antes de relaxá-lo
Fonte: Jouce de Almeida, enfermeira e responsável por técnicas de relaxamento no trabalho no IPq (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas)

Crédito: Fábio Braga / Folhapress, Imagem extraída de: https://www1.folha.uol.com.br/sobretudo/carreiras/2016/09/1814149-espacos-de-descompressao-viram-moda-mas-podem-ter-pouco-efeito.shtml
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