O Zé Boca de Bagre, amigo do querido Professor Reynaldo Basile e que não tem papas na língua, me disse: “Ô Porcari, o juizão do ‘Framengo’ tentou apitar uma pelada sem expulsar ninguém e quase conseguiu, hein?”.
E com tristeza, foi mais ou menos essa a leitura do jogo: a preservação de atletas para não desfalcar por cartões as equipes na partida de volta (claro, de maneira inconsciente, sentindo a pressão). Ao menos, foi a impressão do que aconteceu. Ou foi falta de qualidade técnica da arbitragem?
Vamos aos lances:
Aos 39m: repare que após Gabigol (CRF) tocar a bola em um contra-ataque, Fernandinho (CAP) faz uma obstrução contra ele evitando que continuasse a corrida para possivelmente ele tentar receber a bola mais à frente. Como a “posse de bola” estava com o Flamengo e o ataque continuou, o árbitro Luiz Flávio de Oliveira aplicou a vantagem (se não existisse a continuidade do ataque, tem que parar o lance, dar cartão amarelo ao jogador do Athético Paranaense e marcar a falta, pois posse de bola não significa necessariamente vantagem; mas, se existir vantagem concreta, NÃO precisa aplicar o Cartão Amarelo pela obstrução quando a jogada terminar, pois esse tipo de infração não é de ação temerária, mas tática – daquelas que Felipão adora implantar no seu sistema de jogo, para “matar as jogadas”).
Porém… irritado por ser obstruído, Gabigol (sem bola) reage com um pontapé. E o que manda a Regra do Jogo?
Luiz Flávio, que tudo viu, deveria dar cartão amarelo ao Fernandinho (como corretamente deu) e dar cartão vermelho a Gabigol (por dar um pontapé sem bola no adversário). Erraram: o árbitro (por dar amarelo ao flamenguista), o jogador (por uma reação desproporcional à uma falta sofrida) e o VAR Wagner Reway (por não sugerir a revisão à expulsão).
Aos 67m: a bola está no ataque do Flamengo, e quando vai chegar a Léo Pereira (CRF), Fernandinho (CAP) puxa a camisa do seu adversário. Aqui, um detalhe importante da regra: desde 2020, a FIFA pediu atenção especial para que se avalie agarrões e puxões, pois eles devem realmente impedir que o jogador continue a jogada levando ao desequilíbrio ou evitando a projeção. Se um jogador tiver a camisa puxada, não é necessariamente infração (isso surgiu para evitar lances onde uma camisa é agarrada e o atleta abdica de jogar pedindo falta, pois a FIFA entende que ele deveria continuar ou tentar a jogada para se avaliar a infração).
No caso de ontem, para mim, há um desequilíbrio leve – mas é um lance de interpretação. Eu marcaria, mas entendo que alguns possam entender que não foi (pela dificuldade de imagens mais claras). Nessa situação, o árbitro, que é a autoridade máxima da partida, deve se socorrer a imagem do VAR para que avalie isso. Confiar na impressão de quem está na cabine é abrir mão da sua autoridade em campo e dividir responsabilidade (lembrando: se marcasse o pênalti, teria que dar o segundo cartão amarelo ao Fernandinho e expulsá-lo).
Aos 93m: Erick (CAP) está no campo de ataque e Arrascaeta (CRF) tenta roubar a bola, mas acaba aplicando um carrinho certeiro por trás. É o be-a-bá da expulsão, quando nos anos 90 a International Board mudou a regra, a fim de acabar com os carrinhos: violento ou não, imprudente ou intencional, esse lance é Vermelho. Entendi que o erro do Luiz Flávio aconteceu pois, como a continuidade da jogada resultou num ataque promissor ao clube paranaense, ele permitiu a vantagem e a situação ficou “esfriando”. Se existisse a recuperação de bola do Flamengo e a falta tivesse que ser marcada (ou seja, não tivesse vantagem), talvez naquele calor houvesse a expulsão. De novo, o VAR foi mal (aliás, como a dosagem do árbitro de vídeo em participar dos lances é confusa: ou se intromete onde não deve, ou se omite).
Aos 96m: A expulsão de David Luiz: não tem o que discutir, na súmula, há o relato de que recebeu o cartão vermelho “por fazer um movimento de tapa no ar com a palma da mão aberta, em minha direção, proferindo as seguintes palavras: ‘vai tomar no cú’!”.
Em tempo:
1- Luiz Flávio registrou na súmula sinalizadores acesos e briga entre torcedores da equipe do Flamengo.
2- Felipão, depois de “levar a Copa do Brasil” com o Criciúma 31 anos atrás, é sério candidato ao título?
3- O Paulista de Jundiaí permanece como único campeão da Copa do Brasil que venceu a competição enfrentando somente equipes da serie A do Brasileirão, ao contrário do que um comentarista registrou na Televisão (perdoe-me não guardar o nome de quem disse).

Imagem extraída de: https://www.torcedores.com/noticias/2022/07/flamengo-enfrenta-athletico-pr-quartas-de-final-copa-do-brasil