Disse o irlandês Roy Keane ao canal britânico ITV (ele comenta a Copa do Mundo nessa emissora) sobre os gols brasileiros serem comemorados com dança:
“Eu não consigo acreditar no que vejo. Nunca vi tanta dança. É como assistir ao Strictly [Come Dancing, espécie de Dança dos Famosos]. (…) Eu sei que tem o ponto da cultura, mas acho realmente desrespeitoso com o adversário. São quatro (gols) e eles fazem toda vez. A primeira dancinha ou seja lá o que façam, tudo bem. E então o técnico se envolve. Não fico feliz com isso. Não acho isso nada bom“.
Não me consta que o ex-jogador e atual comentarista Roy Keane tenha sido um atleta exemplar, defensor do Fair Play e engajado em causas politicamente corretas (aliás, quando jogava, ele “quebrou” com um pontapé violento Alf-Inge Haaland – o pai do atual atacante do Manchester City – que teve que encerrar a carreira). E ainda reclama de uma dancinha de comemoração de gol. Que cara chato!
Vamos lá: qual o problema em comemorar seu gol numa Copa do Mundo dançando? É o momento de extravasar! Sem ter ofendido ninguém, tudo bem.
Não houve deboche ao adversário, houve festa de quem conseguiu seu objetivo! E aqui vai um ponto positivo a Tite: um gestor de grupo que sabe demonstrar aos seus liderados que confia neles (todos os jogadores convocados entraram em campo, além da própria dança realizada). O treinador soube ser elegante quando questionado, defendendo a comemoração e diplomaticamente não atacando Roy Keane. Foi excelente! Aliás, participando dela, Tite se mostrou um líder participativo e carismático.
Pela lógica do reclamante: quando sair o gol, que o atleta grite: “Viva, que desenlace bem afortunado da nossa jogada”; que os seus companheiros aplaudam polidamente o marcador do tento; que os torcedores levantem-se e possam saudar educadamente o acontecimento, e que todos se policiem em não proferir palavrões! Ah, e não nos esqueçamos: que o artilheiro vá até o goleiro e peça desculpas pelo gol obtido, que prejudica o trabalho do adversário.
Claro que todo o país tem a sua cultura e ela deve ser respeitada. A Seleção Brasileira, ao dançar, não desrespeita ninguém (é até uma bobagem insistir nesse tema). A Seleção Inglesa, mais séria, pensa diferente. Mas… será que no seu íntimo, Roy Kaine não queria se confraternizar como os brazucas fazem?
Quando você não consegue namorar a moça bonita que tanto sonhou, desdenha dela e vê defeito. Talvez seja isso…
Começo a torcer para um Brasil x Inglaterra nesse Mundial! E que a próxima música seja um Chorinho ao rival.
Em tempo: sensacional o comentário do treinador do Botafogo FR, Luís Castro, que está no Reino Unido com o Fogão (empatou com o Crystal Palace em amistoso por 0x0) e que foi entrevistado pelo Sportv:
A primeira coisa que faço quando chego a um país é observar a cultura do país. Roy Keane não percebe a cultura do futebol brasileiro, da Seleção Brasileira, então se pronuncia de forma deselegante. Todos nós sabemos que não é desrespeito, é uma grande união entre treinador e jogadores, um conjunto de sinergias que pode catapultar a grandes conquistas. Ficaria muito admirado se Tite ficasse quieto, não comemorasse e os jogadores não passassem confiança. Todo o povo brasileiro estaria preocupado. Agora, isso (a comemoração) deixa muito otimista todos que gostam da Seleção Brasileira. Roy Keane não entende a cultura do país. Quando cheguei aqui, quis entender a cultura do Brasil e do Botafogo, para me adaptar o mais rapidamente. Quando cheguei ao Oriente Médio e a Kiev, fiz ao mesmo. É algo que não deve perturbar minimamente o mundo do futebol, porque o Roy Keane nos habituou a manifestações pouco elegantes e até muito arrogantes. É mais uma que faz ao longo da sua carreira.
Imagem extraída de: Shaun Botterill Collection Getty Images Sport