Republico o texto pós-vitória de Dilma Rousseff, acontecido há 2 anos. Abaixo:
Democracia é respeito.
Quando um candidato vence, seus eleitores devem cobrá-lo para que cumpra o prometido. E os que não votaram nele, devem cobrar ainda mais o convencimento de que deveria estar lá, pois, afinal, a opção política era outra.
Quem nasceu na década de 70 como eu, sofreu com a inflação. Via os preços subirem nos anos 80, a falta de liberdade em expressar sua crítica e as mãos atadas. Aqueles que lutaram contra a ditadura, como Fernando Henrique Cardoso, Lula, Tancredo Neves e tantos outros tentavam um certo protagonismo contra o fim do regime autoritário.
Entretanto, José Sarney (o mesmo que reina até hoje) foi aquele que assumiu a presidência pós-militarismo, criando o congelamento de preços e o Plano Cruzado. As mercadorias faltavam nas prateleiras, as embalagens eram remarcadas com outros pesos para se burlar a lei e os preços disparavam em novos rótulos.
Aí surgiu uma esperança do Partido Jovem: Fernando Collor de Melo, que criou o PRN e se lançou como o “Caçador de Marajás”. Eleito presidente, por muito menos que um escândalo de Sivam, de Pasta Rosa, de Mensalão ou ainda por migalhas de um “Petrolão” sofreu o Impeachment.
Com a saída de Collor, vimos Itamar Franco assumindo o poder num país amargando a inflação crescente e crise moral do país. Sua saída foi aceitar uma pseudo-dolarização da economia proposta por economistas brasileiros, capitaneados pelo novo Ministro da Fazenda: FHC. Assim, nasceu o Plano Real com a URV trazendo paridade de 1/2750 nos valores monetários.
O país se abriu, a Economia cresceu, o povo adorou! Fernando Henrique se candidatou e levou fácil. Nessa Eleição, Lula era o cão raivoso contra o Real, a oposição radical que não discutia. Na campanha da Reeleição, Lula mudou o discurso: “o Real é bom e vamos continuá-lo “(identicamente como Aécio Neves discursou a respeito dos programas assistenciais atuais). Mas só na Eleição seguinte Lula venceu, no momento em que o Mundo entrava em recessão e o Brasil tomava medidas de contenção antipopulares, gerando desemprego.
E aí vem a geração que só viu o PT no Governo Federal, que teve o privilégio de não sentir na pele o que era um país com 20% de inflação ao mês. Testemunhou um Luís Inácio incrível, visitando pobres do interior do Brasil, criando um programa para a erradicação da miséria chamado de Fome Zero e que depois se virou por completo ao Bolsa-Família. Assistiu a um populismo somente lembrado na história da República a Getúlio Vargas. E, igualmente como Getúlio dividia amor e ódio (não nos esqueçamos da Revolução Paulista contra a ditadura getulista), Lula mergulhou em um mar de escândalos: Máfia dos Vampiros, do Correio, Caixa 2, Mensalão… sempre se desvencilhando dos seus pares que sempre estiveram com ele: José Dirceu, seu Secretário da Casa Civil e, portanto, que viva ao seu lado no Palácio do Planalto; José Genoíno, Delúbio Soares, João Paulo Cunha…
Entretanto, com popularidade em alta, conseguiu a transferência de votos para a sua escolhida: Dilma Rousseff, ex-Ministra das Minas e Energia e que não tinha carisma nenhum junto a sociedade. Diante de uma frágil, inoperante e omissa oposição do PSDB e seus aliados, Dilma ganhou. E os escândalos continuaram, e as queixas continuaram, e as obras superfaturadas continuaram… e devem ter continuado desde o tempo da Monarquia, sejamos justos.
O mais curioso é: em Junho de 2013 o país parou pedindo mudanças, num dito ato apolítico e popular, onde jovens saíram as ruas e sorriam por estar fazendo história.
Mas que história?
O que começou com um protesto contra R$ 0,20 no aumento de ônibus promovido pelo movimento Passe Livre, agigantou-se como um ato anti-corrupção. Nada de PT ou PSDB, era revolta das ruas, sendo que posteriormente vimos baderneiros black blocs se infiltrando.
E mudou o quê?
Nada. A corrupção continuou galopante, vide o inegável “Petrolão”, com o doleiro Alberto Youssef lavando o dinheiro de parlamentares pelos desvios do diretor Paulo Roberto Costa, financiando os bolsos e as campanhas de políticos importantes, afirmando e reafirmando que Lula e Dilma sabiam dos acontecimentos.
Nas urnas, nada disso foi relevante. Ontem, Dilma se reelegeu falando da mudança que o povo escolheu.
Mudar com o mesmo?
A presidente era ela ontem, anteontem, semana passada, em 2013 e nos últimos 4 anos.
E se Aécio ganhasse?
Oxigenaria-se os nomes, mas não seria nenhuma salvaguarda de honestidade no Congresso e nas instituições, sejamos francos. O efeito positivo é que a corja corrupta criada há 12 anos onde apenas os mensaleiros petistas José Dirceu, Genoíno e Delúbio foram para a cadeia (com regalias, é claro) estaria fora.
Enfim, o Brasil rachou, ninguém duvida disso, embora não se queira assumir publicamente. No mapa dos colégios eleitorais, criou-se um “Brasil do Sul aecista” e um “Brasil do Norte petista”, criando minorias barulhentas do PSDB no Norte e minorias atuantes do PT no Sul.
Os mais radicais dirão que os nordestinos elegeram Dilma. Sim, eles foram fundamentais, é claro. E qual o problema? Xenofobismo tupiniquim? Não deveria ser com essa ótica…
Se para os nordestinos as bolsas assistenciais são importantes para a realidade deles, isso basta. Eles têm o direito a voto e escolheram segundo a realidade que vivem, assim como cada brasileiro pode votar pensando no seu benefício pessoal ou da nação.
Da mesma forma, se os sulistas não escolheram Dilma, deve-se respeitar igualmente. Se para os paulistas a corrupção (que somente num dos escândalos, o da Petrobrás, atingiu 10 bilhões de reais) tornou-se causa maior, que assim seja. Ou haverá contestação sobre o direito ao voto?
Digo por Jundiaí, minha cidade: industrializada, com ótima taxa de escolaridade e uma das campeãs em recolhimento de impostos, teve como placar: Aécio 71 x 29 Dilma, com o prefeito sendo do PC do B e o vice do PT, após 24 anos de PSDB na Prefeitura.
Como interpretar? O que as urnas quiseram dizer?
Difícil falar por um município, pior ainda por uma nação.
Irrita propagar-se que Dilma é o “novo”. Não é. Mas já que está eleita, que trabalhe, que não seja demagoga, que satisfaça o ego dos seus eleitores e conquiste o coração dos opositores. Que puna sem dó nem piedade os corruptos, e em especial os seus pares que ela sabe que existem e que infestaram o poder, e que seja muito diferente do seu 1o mandato.
Em Outubro de 2018, teremos 16 anos do PT no Governo Federal. Como isso entrará para a história? Aliás, as gerações mais novas só viram Lula e Dilma. Quem eles colocarão no poder para 2019?
O meu medo é: o não distanciamento de Cuba, da Venezuela e da Argentina, ditaduras latinas que estão sucateando o povo, acabando com a Democracia e censurando a mídia, sem contar, claro, com a péssima política econômica.
Boa sorte aos brasileiros, força para a presidente e que Deus nos abençoe e nos acude!
Ah – me recuso a falar presidenta. Quando acabarão com esse horroroso vício “popululista”? Por acaso existe presidento? Nunca ouvi falar em estudanta, gerenta…
