– 34 anos da última dobradinha de Piquet e Senna

Quem viu, viu. Quem não viu, vai demorar bastante tempo para ver algo assim…

Há 34 anos, dois brasileiros campeões do mundo faziam a última dobradinha deste tipo na Fórmula 1: Piquet e Senna!

Abaixo, quando da ocasião dos 30 anos, uma matéria extraída de: https://globoesporte.globo.com/motor/formula-1/blogs/f1-memoria/post/2020/06/10/ayrton-senna-e-nelson-piquet-fizeram-ultima-dobradinha-entre-eles-ha-30-anos-no-canada.ghtml

DOBRADINHA – Ayrton Senna e Nelson Piquet fizeram última dobradinha entre eles há 30 anos, no Canadá

Piloto da McLaren dominou desde o começo, deixou-se passar por Gerhard Berger, que estava punido por queima de largada, e liderou compatriota, que fez corridaça para chegar em segundo

Dia 10 de junho de 1990, trinta anos atrás: Ayrton Senna e Nelson Piquet fizeram a oitava e última dobradinha envolvendo os dois numa corrida de Fórmula 1. Foi no GP do Canadá, em Montreal. Numa pista que começou molhada e terminou seca, Ayrton fez uma corrida de categoria largando da pole position e não teve a vitória ameaçada, enquanto Nelson subiu de quinto para segundo com uma prova de inteligência e garra, sobretudo na linda ultrapassagem sobre Alain Prost. Era um tempo no qual tínhamos dois dos melhores pilotos da história na pista.

Pole position, Senna viu o companheiro de equipe Gerhard Berger queimar acintosamente a largada, mas ainda assim contornou a primeira curva na liderança. Em seguida, vinham Alessandro Nannini (Benetton), Jean Alesi (Tyrrell), Piquet e Prost.

Desde as primeiras voltas, Senna e Berger se destacaram em relação aos demais, enquanto Nannini e Alesi travavam boa briga pelo terceiro lugar. Mais atrás, Thierry Boutsen (Williams) passou por Prost e subiu para sexto – pista molhada não era mesmo a praia do francês.

Na oitava volta foi divulgada a informação de que Berger seria punido ao fim da prova com o acréscimo de um minuto ao seu tempo de prova pela queima de largada. Numa época na qual ainda não havia sensores para detectar os apressadinhos na partida, as imagens de TV eram usadas como prova. E, nesse caso, foi uma queima de largada até risível.
Com Berger teoricamente fora da disputa pela vitória, Senna ficou mais tranquilo na prova, sabendo que não precisava forçar o ritmo. A essa altura, como já não chovia desde a largada, a pista já estava secando, e uma troca para pneus slicks era iminente.

O primeiro a entrar nos boxes, na nona de 70 voltas, foi justamente Berger, no que foi seguido por Senna e Piquet duas passagens depois. Alesi, Boutsen e Prost fizeram a troca na volta 12. No mesmo giro, avisado pelo rádio que Berger estava punido, Senna abriu passagem ao austríaco, e ambos ultrapassaram Nannini, que era o líder por ainda não ter feito o pit stop.
Com todos tendo efetuado a troca de pneus, a ordem na pista era Berger, Senna, Prost, Boutsen e Piquet, sendo que o austríaco na prática estava fora dessa briga devido à punição. Nigel Mansell, que teve um começo apagado, já era o sexto com a Ferrari, enquanto Alesi teve um toque com o retardatário Andrea de Cesaris (sempre ele envolvido nas confusões!) e caiu para 11º.

Com um trilho seco no asfalto molhado, qualquer erro seria fatal, e vieram os acidentes. O primeiro a bater foi Boutsen, que, ao tentar passar Prost, saiu do trilho, escorregou na parte molhada do asfalto e acertou o retardatário Nicola Larini (Ligier). Logo depois, Nannini, que tentava reagir de um mau pit stop, derrapou ao tentar passar Satoru Nakajima (Tyrrell) e bateu com violência nos pneus. Por fim, Alesi escapou no mesmo lugar, e o carro atingiu o de Nannini, que estava parado. Por sorte, ele não se machucou.
A essa altura, perto da metade da prova, Berger andava em ritmo alucinante para tentar compensar o tempo que seria dispendido na punição, enquanto Senna fazia corrida sossegada, até porque tinha quase 30 segundos de vantagem sobre Prost. Mais atrás, Piquet vinha com excelente ritmo e se aproximava do francês, trazendo Mansell com ele.

A 21 voltas do fim, Piquet estava sendo apertado por Mansell, mas decidiu partir para o ataque em cima de Prost e mergulhou na freada do grampo. A linda ultrapassagem fez Nelson assumir o terceiro lugar, que na verdade era o segundo pela punição a Berger. Na volta seguinte, Mansell também passou por Prost, que depois se enrolou com o retardatário Gregor Foitek (esse também era complicado…).
A essa altura, Senna tinha mais de 30 segundos de vantagem para Piquet, que, com categoria para driblar os retardatários, manteve uma distância suficiente para não ser atacado por Mansell. Já Prost, com problemas de freios, não tinha mais forças para chegar nos dois. Mais atrás, com um ritmo alucinante, Berger vinha virtualmente encostando no trio. Com a melhor volta, o austríaco ainda terminou em quarto no tempo corrigido, à frente de Prost.

Nas últimas dez voltas, Senna tirou o pé, e a diferença para Piquet baixou de 30 para 10 segundos, com Mansell terminando 2s9 atrás do piloto da Benetton. Já Berger, com todo o esforço, ficou apenas 14s854 atrás de Ayrton no tempo corrigido. Mesmo com Senna tendo reduzido bastante na parte final porque não precisava acelerar, o ritmo do austríaco foi espetacular. Será que ele poderia ter vencido em condições normais? Difícil saber, porque Senna teria tido outro comportamento em pista também.

– No início eu mantinha o ritmo de Berger, mas depois baixei o trem de pouso – disse Senna, que fez um discreto elogio ao desafeto Piquet:

– A Benetton contratou um piloto que entende de carros de corrida, mas a minha preocupação é vencer.

Já Piquet comemorava a volta ao pódio depois de um ano e meio, desde o terceiro lugar no GP da Austrália de 1988. Como de costume, fez piada ao falar sobre o fato de ter ficado entre os dois pilotos da Ferrari boa parte da corrida:

– Fiz valer a minha experiência de 13 anos de Fórmula 1. Sabia que a entrada do hairpin era o único ponto possível para ultrapassar. O problema foi o Prost, que segurou um pouco. Eu me senti um presunto num sanduíche, um Piquet à la pate.

Naquele mesmo domingo, a Seleção Brasileira estreou na Copa do Mundo de futebol na Itália, e Cleber Machado fez a sua estreia nas transmissões de F1 da Globo substituindo Galvão Bueno. O Brasil ganhou da Suécia por 2 a 1, mas seria eliminado pela Argentina nas oitavas de final, numa campanha que não deixou saudade.

Já Senna e Piquet continuam deixando saudade no torcedor brasileiro. Afinal, como escrevi no começo do texto, tínhamos dois dos melhores pilotos do mundo na pista. Definitivamente, áureos tempos…

podio-canada-1990

Imagem extraída da Internet, autoria desconhecida.

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