Mais notícias sobre manipulação de resultados no futebol brasileiro. Sugiram novos nomes de atletas (por enquanto, nenhum árbitro ou dirigente).
Segundo o Ministério Público de GO (que está cuidando do caso), Bruno Lopez de Moura (conhecido como BL) é o líder de uma quadrilha de apostadores, que cotou os seguintes atletas:
Victor Ramos, da Chapecoense,
Kevin Lomónaco, do Bragantino,
Paulo Miranda, ex-Juventude,
Eduardo Bauermann, do Santos
Igor Cariús, do Sport,
Moraes, ex-Juventude e hoje no Atlético-GO,
Gabriel Tota, ex-Juventude e atualmente no Ypiranga-RS,
Fernando Neto, ex-Operário-PR e hoje no São Bernardo-SP,
Nikolas, do Novo Hamburgo-RS,
Romário, Vila Nova-GO.
Joseph Maurício, Tombense-MG.
Jarro Pedroso, do Inter-SM.
Alguns valores pagos:
R$ 30 mil para que Moraes, lateral-esquerdo do Juventude, para receber cartão amarelo contra o Palmeiras. Pagou-se R$ 5 mil antes do jogo e R$ 25 mil após a partida, após cumprir a tarefa.
R$ 70 mil para Kevin Lomónaco, zagueiro do Red Bull Bragantino, para que receber cartão amarelo contra o América-MG. Pagou-se R$ 30 mil antes do jogo e R$ 40 mil após a partida, após cumprir a tarefa. Posteriormente, no Campeonato Paulista, Lomónaco recebeu a oferta de R$ 200.000,00 para cometer um pênalti no jogo contra a Portuguesa, no Canindé, e recusou.
R$ 50 mil para Eduardo Bauermann, zagueiro do Santos, para receber cartão amarelo contra o Avaí. Aqui o caso é curioso: Bauermann não consegue ser advertido, e combina em cavar uma expulsão no jogo seguinte, contra o Botafogo, para compensar “o desacordo” anterior. Só que ele recebe o cartão vermelho por reclamação após o apito final – e isso não servia ao apostador, que discute com ele!
O diálogo, aqui:
Apostador: “Olha a porra da merda que você fez. Mano, pq você não fez a porra que eu te falei. Mano, pq não tomou essa porra no primeiro tempo. Pq não deu uma porra de uma cutuvelada (cotovelada). Mano, pq você não me escuta, mano. Você me fudeu de novo mano. Mais (sic) dessa vez você vai resolver. Mano, você vai me pagar, tudo. Eu te pedi, eu confiei em você mano. E você me desonrou. De novo mano. Não tô acreditando nisso. Não deu certo porque você não escuta os outros. Era uma porra de uma curuvelada (sic), um tapa na cara do jogador. Só isso, você não fez mano, pq você não quis”.
Eduardo Bauermann: “Mano, de coração, não foi porque eu não quis, eu te juro! Senão não tinha tomado nem no final e teria inventado uma desculpa para você…”.
Apostador: “Pq você não deu uma cotovelada no cara???? O barato vai ficar louco para você”.
Eduardo Bauermann: “Mas estou correndo atrás pra conseguir te pagar esses 800 mil que você falou”.
Apostador: “Cadê os 50 (mil) que eu já te mandei mano?”.
Eduardo Bauermann: “Tá aqui, nem mexi nesse dinheiro”.
Apostador: “Já vê aí pra já mandar esse dinheiro mano”.
Fico imaginando: se em campeonatos de grande visibilidade, como o Brasileirão e o Paulistão, isso vem acontecendo (onde, em tese, temos jogadores de equipes bem estruturadas), imagine nas divisões regionais inferiores…
Já abordamos as manipulações na 4ª divisão de SP e em outros torneios, em: https://professorrafaelporcari.com/2023/02/17/a-operacao-penalidade-maxima-nos-traz-um-alerta-nossos-atletas-sao-alvos-faceis-de-apostadores/
Informações extraídas de GE.com. com todos os outros detalhes no link: https://ge.globo.com/sp/futebol/noticia/2023/05/08/manipulacao-mp-go-faz-nova-denuncia-apos-descobrir-valores-veja-jogadores-investigados.ghtml
Matéria, abaixo atualizada de Veja.com, em: https://veja.abril.com.br/brasil/mp-revela-maior-esquema-de-manipulacao-de-resultados-no-futebol-do-pais
MP REVELA MAIOR ESQUEMA DE MANIPULAÇÃO DE RESULTADOS NO FUTEBOL DO PAÍS
Escândalo levou catorze pessoas ao banco dos réus e envolveu clubes da elite
Por Sérgio Quintella
Já eram 23h30 do dia 17 de outubro do ano passado quando chegou a proposta indecente via WhatsApp: “Tomou um vermelhinho no primeiro tempo, já era. Serão 400 000 reais a mais na fortuna”. O receptor da mensagem era o zagueiro Joseph Maurício, 28 anos, do Tombense (MG), clube que disputa a Série B do Brasileiro. A oferta em questão: ser expulso contra a Chapecoense (SC) dali a quatro dias. “Coisa grande, né?”, respondeu o jogador. Apesar de tentado pela sondagem, ele acabou rejeitando o negócio. Duas semanas depois, Joseph recebeu uma segunda oferta: cometer um pênalti no primeiro tempo contra o Criciúma (SC), em 5 de novembro. Aos trinta minutos da primeira etapa, ele abraçou um adversário na área após cruzamento. Pênalti marcado, gol dos catarinenses e um PIX de 150 000 reais na conta de Joseph. Ele nega a acusação, mas está no banco dos réus com mais treze pessoas acusadas de integrar o maior esquema de manipulação sob investigação no país e que já atinge até partidas envolvendo clubes da elite nacional.
A reportagem de VEJA teve acesso a diálogos em poder do Ministério Público de Goiás, responsável por investigar o caso, que mostram como funcionava o esquema (veja alguns deles abaixo). A Operação Penalidade Máxima 1 começou quando o presidente do Vila Nova (GO), Hugo Jorge Bravo, tomou conhecimento de que um de seus jogadores, Marcos Vinicius Alves Barreira, o Romário, estaria envolvido em manipulações de resultados e em situação muito delicada. Ele teria contraído uma dívida com uma quadrilha após pedir 10 000 reais adiantados para entregar a um colega de time, comparsa no esquema. O dinheiro foi destinado, mas a promessa de pênalti não foi cumprida e o bando deixou de arrecadar 500 000 reais. Com o “rombo”, o grupo criminoso, liderado por Bruno Lopez de Moura, o BL, não conseguiu arcar com outros compromissos e deixou descontente uma parte dos executores do plano.
À medida que o MP puxou o fio da meada, ficou claro que os tentáculos iam além do futebol goiano. Mesmo com a investigação, o grupo continuou manipulando apostas em 2023 e chegou aos campeonatos estaduais de São Paulo, Paraíba, Mato Grosso e Rio Grande do Sul. Dos seis jogos da Série A de 2022 sob suspeita, quatro já tiveram confirmações de irregularidades, segundo os investigadores: Santos x Avaí, Santos x Botafogo, Palmeiras x Juventude e Goiás x Juventude. Os atletas investigados são os zagueiros Paulo Miranda (Juventude) e Eduardo Bauermann (Santos) e o meia Gabriel Tota (Juventude). Eles negam ter participado do esquema.
A quadrilha de Bruno Lopez começou a atuar em meados de 2022 e era dividida em núcleos: intermediadores, apostadores, administrativo e financiadores. Tudo era tratado via WhatsApp. Depois que os intermediadores faziam o primeiro contato e acertavam os valores, os financiadores entravam em cena para disponibilizar o valor da “entrada”. Um desses era Zildo Peixoto Neto, primo de Camila Silva da Motta, esposa e sócia de Bruno Lopez na BC Sports Management. Em depoimento, Neto contou que o grupo se cotizava para conseguir os recursos. “O Bruno disse que um jogador do Novo Hamburgo (RS) pediu 15 000 reais de adiantamento para cometer um pênalti. Ele mandou 6 000 reais, eu mandei 6 000 e o Ícaro (outro investigado) mandou o restante. Em outro caso, eu mandei 7 500 reais para um jogador do Vila Nova”, disse.
A operação conduzida em Goiás é a maior, mas não é a única. Em São Paulo, por exemplo, a polícia investiga ao menos dezoito casos de fraudes envolvendo jogos do Brasileirão Feminino e de torneios menores da Federação Paulista. Para tentar obter uma visão mais abrangente do problema, o Congresso instalou em abril a CPI das Apostas Esportivas, cujo objetivo é juntar o maior número de apurações.
A atuação de grupos criminosos vem na esteira da vertiginosa expansão do mercado de apostas esportivas no Brasil. O setor, que movimentava 2 bilhões de reais em 2018, agora projeta 20 bilhões de reais para este ano. A estimativa é que cerca de 1 000 sites atuem no país. Embora eles permitam apostas em vários esportes, é no futebol que têm ganhado visibilidade — dezenove dos vinte clubes da Série A são patrocinados por empresas do tipo. O crescimento também está na mira do governo Luiz Inácio Lula da Silva, que vai regulamentar a atividade e passar a cobrar impostos. A terra sem lei que virou esse negócio bilionário, de fato, exige toda a preocupação possível das autoridades. O jogo tem de ser limpo.
SOB SUSPEITA – O zagueiro Bauermann, durante Santos x Avaí, em novembro de 2022: oito partidas da Série A do Brasileiro estão na mira de investigação (SFC/Divulgação)