Sílvia Regina de Oliveira, ícone da arbitragem feminina sulamericana, excepcional caráter, foi retirada de suas funções da Escola de Árbitros Flávio Iazzetti, entidade de formação dos novos árbitros da Federação Paulista de Futebol. Para o seu lugar, entrará o ex-assistente FIFA, Cel Nilson de Souza Monção, também de ótima índole e conhecimento profundo do futebol.
– Vamos a algumas considerações?
Monção foi um dos melhores com que trabalhei. Salvo engano, o último jogo em que tive a oportunidade de trabalhar com ele foi Guarani X São Bernardo, onde ele bandeirou para mim na A2. Mas isso não importa. Importa sim o fato dele assumir um cargo de tamanha responsabilidade, no qual grandes nomes como Gustavo Caetano Rogério, Antonio Cláudio Ventura, Roberto Perassi e Sílvia Regina atuaram nos últimos 20 anos.
Formar árbitros é difícil. Moldar a universalização dos critérios mais ainda. Segurar a empolgação do jovem apitador, então… Quem entra na Escola de Árbitros para se formar é seguramente um entusiasmado estudante. O jovem se orgulha em dizer que está na FPF! E aí é o momento delicado: respeitar a individualidade do futuro árbitro (suas características pessoais que estarão presentes no seu desempenho), mostrar a necessidade de respeitar critérios de arbitragem e não deixá-lo querer ser maior que o próprio espetáculo.
Por isso, desejo boa sorte ao Nilson Monção. E é impossível não questionar: por que a Sílvia Regina saiu?
Até agora, não há uma nota sequer oficial no site da FPF sobre a saída.
Sílvia é instrutora FIFA e assessora de árbitros da Conmebol. Claro, tal acúmulo de atividades poderia ser dificultoso a ela na EAFI-FPF. Perde a escola uma ótima professora, já que a didática dela (além de conhecimento e simpatia) é muito boa. Aqui, faz-se um adentro: ser um docente do ensino de arbitragem, não necessariamente, tem a ver com suas qualidades enquanto profissional dentro de campo, ou seja, a competência dela como professora não está atrelada a atuação que teve como árbitra (Roberto Perassi, Gustavo Caetano ou Ventura foram árbitros extremamente excepcionais? Claro que não, mas conheciam bem o meio). Se assim fosse, os comentaristas de futebol virariam treinadores e os treinadores virariam jornalistas. Portanto, cada um na sua.
O problema é: dirigentes do apito creditam a sua saída à mudanças profundas na arbitragem paulista! Disse o presidente Marco Polo Del Nero, sobre o fato de ter demitido a Sílvia:
“A decisão é minha. Precisava ser feito algo. O treinamento precisa ser contínuo. Não estou feliz e os clubes também não”
Balela. Pura bobagem. O presidente da FPF quer imputar a má atuação dos árbitros no Paulistão a ela? Demiti-la seria uma satisfação demagógica às reclamações dos clubes?
Ora, não é Sílvia quem escala os árbitros. Não é ela quem promoveu a absurda e forçada renovação de 70% do quadro de bandeiras da 1ª divisão! Na Escola de Árbitros, ela ensina regras àqueles que entravam no curso. Administrar o quadro, orientá-los dentro de campo é de responsabilidade da Comissão de Árbitros, não da Escola! A função deve ser exercida pelos administradores do departamento, Cel Marcos Marinho e seu assessor, Arthur Alves Júnior. Na hora do sorteio dos árbitros e das orientações, são eles que tem a função. Na hora de punir os árbitros, são eles que determinam as penas. Quando é para dar entrevistas, eles aparecem em público. E a culpa é da Sílvia, segundo Marco Polo?
Se você considera ótimo o trabalho dos árbitros no Paulistão, elogie a eles da Comissão. Se você considera ruim, se reporte aos próprios. Mas Sílvia é a menos culpada de tudo isso.
Na ânsia em dizer que o trabalho é bom, galgam jovens inexperientes à Categoria A1. E como fica toda a história do Ranking, de que o árbitro deveria passar por diversas etapas até chegar a elite? “Foi pro saco”, junto com as denominações Ouro, Prata e Bronze, substituídas por Especial/1,2,3,4 e estagiários?
Faço uma analogia com clube de futebol: é como se a campanha ruim do Flamengo não fosse culpa dos dirigentes ou dos jogadores, mas do treinador da categoria de base…
Atitude demagógica, no mínimo.
E o que dizer da punição ao árbitro José Cláudio da Rocha Filho e do bandeira João Boulgauber? A Comissão de Árbitros os suspenderam, devido a atuação no jogo Palmeiras X Comercial. A quem eles recorrerão? Ao Sindicato, cujo presidente Arthur Alves Júnior faz parte da Comissão que os puniu? Ou à Cooperativa, cujo tesoureiro (ele próprio) faz parte da mesma Comissão e o presidente Silas Santana trabalha na Ouvidoria da FPF?
Os árbitros estão desamparados ao extremo. E depois não querem que diga que há incompatibilidade de cargos nas entidades de defesa dos árbitros…
Uma pena.
E você, o que pensa sobre a medida do Marco Polo Del Nero? Demitir a Sílvia Regina resolve os problemas da arbitragem?
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