Antes do jogo, uma consideração importante: muito se questionou sobre a escala de Sandro Meira Ricci para esta partida, que hoje atua como FIFA-PE. Ótimo árbitro, bom caráter e que um dia processou na Justiça (e venceu) Neymar por ofensas pós-jogo contra sua pessoa, via Twitter. Num país democrático e civilizado, tudo bem. Seria normal, mas… falamos do futebol, um mundo a parte, onde se apela de todas as formas. Assim, o Santos chiou, através de Muricy Ramalho, por um “desafeto de Neymar” em ser escalado. Já o Internacional devolveu a crítica também reclamando através do seu diretor Fernandão, pois o árbitro escalado era um “sujeito pressionado pelo Santos”.
Ora, a Sulamericana poderia ter evitado tal escala, sabedora que a cultura do futebol utiliza tais fatos para pressionar a arbitragem.
Cabeça de árbitro: se errar a favor do Santos, dirão que a pressão funcionou; se errar contra, foi revanchismo. E aí?
Como a desculpa oficial é de que não temos tantos árbitros disponíveis, fica a questão: tirando os FIFAs de SP e RS (que não podem apitar tal confronto), não há ninguém competente para um confronto doméstico? Então, que estes árbitros devolvam o escudo, já que a razão de ser de um árbitro FIFA é apitar qualquer jogo internacional mundo afora.
Vamos ao jogo!
Com 30 segundos, já vimos que o Internacional estava ligado. Num escanteio a favor do Inter, o gandula (que sempre é funcionário do time da casa) colocou a bola na marca do tiro de canto imediatamente a saída da bola pela linha de meta. Incrível, a bola saiu e 2 segundos após ela estava posicionada pelo gandula e com 5 segundos foi rapidamente cobrada (não precisa esperar o apito do árbitro). Por curiosidade: o primeiro escanteio a favor do Santos, por volta dos 10 minutos, teve a bola posicionada em 12 segundos e cobrada com 26s após sua saída (tal artimanha foi copiada do jogo Once Caldas X Internacional, pela Pré-Libertadores, onde os gaúchos sofreram tal estratégia na Colômbia)
Logo aos 3 minutos, houve a primeira advertência verbal, que não foi a um jogador, mas ao treinador colorado Dorival Júnior. Jogo pegado e pesado, o árbitro quer manter o controle da partida e mostrar que ele está atento na primeira oportunidade. Foi nítida a imagem do treinador dizendo ao quarto-árbitro Péricles Bassols que não reclamara com o árbitro, mas com Tinga, seu atleta. Desculpa esfarrapada e comum pós-bronca…
O primeiro erro de Sandro Ricci ocorreu aos 5 minutos, numa falta clara sobre Leandro Damião, que avançava ao ataque. O erro só aconteceu pois o árbitro estava encoberto exatamente pelos dois jogadores santistas que estavam no lance da falta. Certamente, pelo seu posicionamento, viu a queda mas não o ato faltoso. Errou.
Como atletas experientes sabem explorar possíveis fragilidades de um árbitro (e a pressão pré-jogo era o problema na partida), aos 7 minutos Dagoberto avança no ataque e Durval o para obstruindo (sendo a falta que originou o gol). Nada de violência, nem de dizer que matou o contra-ataque. Falta normal, sem cartão. Porém, Dagoberto dá uma cambalhota forçada na queda e já se vira pedindo cartão amarelo ao zagueiro santista. Não era para tal, acertou o árbitro. Neste momento, 5 jogadores rodeiam o árbitro com o típico sinal de “pedir cartão”. Que coisa! Parecia ensaiado.
Aos 20 minutos, grande acerto técnico do árbitro e exemplo de falta de fair play: Juan levanta demais a perna em disputa de bola com Leandro Damião (portanto, tiro livre indireto). Damião não é atingido mas cai simulando ter sido acertado no rosto. Ricci nem deu bola. Porém, se houve acerto técnico, houve erro disciplinar: teria que dar cartão amarelo para Leandro Damião pela descarada simulação de agressão, já que tentou iludir o árbitro e consequentemente jogar um estádio todo contra ele.
A sequência de faltas/cartões perfeita de Ricci: aos 23m, Sandro Silva faz falta e leva advertência verbal, e exatamente 1 minuto depois, repete a mesma falta, agora em Ganso. Cartão amarelo bem aplicado. Aos 25m, Nei apela e “desce o sarrafo” em Neymar. Amarelo clássico, sem contestação. Isso é clara intimidação pela violência. Aos 29m, no meio de campo, Neymar dá um carrinho desnecessário em Sandro Silva e recebe amarelo. Acertou o árbitro novamente, e fica a observação: Neymar já não é experiente o suficiente para saber que atacante não pode cometer tal infração desnecessariamente, pois corre o risco de receber cartão?
Erro do bandeira goiano Fabrício Vilarinho: Após cobrança-relâmpago de escanteio pelo Internacional, bate e rebate onde Damião recebe a bola em posição legal e o assistente, num erro grosseiro, impugna a jogada.
Dos 30 minutos até o final do primeiro tempo, os atletas se comportaram melhor (ou seja, afrouxaram a marcação e reduziram as faltinhas anti-jogo) e visivelmente o jogo fluiu melhor. O árbitro, consequentemente, soltou mais o jogo (que no linguajar da arbitragem é: deixou correr um pouco mais).
Sem pecados capitais, a primeira etapa se encerrou tranquilamente para a arbitragem.
Após o intervalo…
Como no primeiro tempo, o segundo começou também pegado, com muito contato físico e Sandro Ricci voltando a apitar tudo (estratégia correta nos momentos iniciais). Elton, logo no início, fez falta forte em Neymar e levou correto cartão amarelo.
Por 15 minutos, o jogo ficou fácil para a arbitragem, com jogadores se respeitando e nenhuma jogada ríspida, embora 2 ou 3 lances de lesões por lances involuntários, sem reclamações ao árbitro.
Porém, aos 65 minutos, após o gol do Santos, o Internacional respondeu com pressão no ataque. Nos minutos 66 e 67, em dois ataques, jogadores colorados caem na área penal. No primeiro, queda por força da jogada; no segundo, o atacante gaúcho fica no chão tentando cavar.
Neste ínterim, um lance onde a bola supostamente bate na mão do zagueiro Edu Dracena, dentro da área. Se pegou ou não, nem importa, pois o lance é totalmente involuntário. Jogador está no chão, sem intenção de tocá-la. Portanto, irrelevante.
O lance mais polêmico ocorreu aos 84 minutos: lance para cartão vermelho, onde o colorado Rodrigo dá um carrinho com o pé erguido em Neymar, que pula. Na frente do banco santista, muita reclamação, pois o jogador do Internacional recebe apenas o Amarelo. Importante: é regra – carrinho não precisa atingir o atleta, é dar ou tentar – e a punição deve ser feita com expulsão do atleta.
Aos 87 minutos, o mesmo Rodrigo Moledo atinge Neymar com um pontapé nas pernas, em disputa de bola. Novo amarelo, e consequentemente Vermelho.
Em suma: excelente arbitragem de Sandro Meira Ricci em jogo que entrou muito pressionado. Foi competente em campo, equilibrado emocionalmente, e nos poucos erros que cometeu, nada que comprometesse, contando até mesmo com a sorte para corrigir equívocos. A única queixa: o jogo parou muito no segundo tempo; e os acréscimos (que foram poucos: 2 minutos) duraram apenas 1m27s…
Ricci segurou a pressão por 90 minutos, mas como existe um ditado no futebol que ‘acréscimo não consagra árbitro…’ fazer o quê!