Conversei com um grande amigo e ótimo árbitro assistente (ou melhor, ex-árbitro assistente), Dante Mesquita Júnior.
Fiquei triste por saber que não está mais no quadro de árbitros da CBF, tampouco da FPF. Com excepcionais notas nas provas escritas, ótimo desempenho nos testes físicos e altas notas nas avaliações de jogos, com larga experiência na 1ª divisão, muito bem ranqueado no ranking da Federação Paulista de Futebol, aos 39 anos não está mais na ativa. Uma pena.
Fico pensando: Sálvio, Gutemberg, Dante, Davi, Marcos Joel, José Maria, Jeimes… conheçam, gostem ou não desses nomes, ambos tem algo em comum: foram descartados em um certo momento da carreira. Nada de incompetência, de relaxo ou relapso… Você pode até julgar ser abandono dos dirigentes, má condução dos presidentes de comissões de árbitros ou qualquer outra coisa (em alguns casos, isso é latente). Mas considere também outro fator: vontade divina! Para muitos, ser retirado ou tolhido de um meio impróprio pode redirecioná-los a coisas maiores, que independente da crença, levem à busca das coisas do Alto!
Após essa divagação, queria compartilhar alguns pensamentos que surgiram desse bate-papo produtivo: estar dentro ou estar fora da arbitragem.
Confidenciei que ainda sonho que estou em campo, vestindo o uniforme ou em viagem. Mas nunca sonho com as enfadonhas e burocráticas reuniões (aí seria pesadelo…). E isso passa na cabeça de muitos árbitros: quando e como parar; se preparar para parar ou ser parado!
Citei nomes acima de árbitros desde a FIFA até iniciantes no meio, só para mostrar que esse sentimento, um misto de temor e de repugnância, assombra a qualquer um. Será que o fim da carreira de árbitro é o fim do mundo? Paulo Roberto Falcão disse, certa vez, que “o atleta de futebol morre duas vezes: quando morre de verdade e antes, quando encerra a carreira de jogador”. O que difere isso do árbitro? Nada.
Mas estando de fora, a depressão, a tristeza ou a saudade importunam. Carece-se de apoio familiar, preparo e tudo mais. Nos EUA, é comum a existência de profissionais que preparam atletas para o encerramento paulatino das carreiras esportivas. Aqui, isso inexiste.
Uma constatação em nossa conversa, lembrada sabiamente por Dante:
“Arbitragem é um vício, e a droga que a sustenta são as escalas (…) Quando seu nome não está na escala, na quarta ou quinta-feira, como você se sente? E quando, na semana seguinte, você vê que foi escalado, aquilo passa…”
Perfeito! A analogia da arbitragem com vício resume plenamente uma dura realidade: vivemos de escalas de jogos, e morremos semanalmente quando não somos escalados! Administrar, ou melhor, lidar com isso, é um problema não só para o árbitro, mas para a família dele. E principalmente, para as Comissões de Árbitros!
