A Mudança de Nomes e Conceitos na Condução da Arbitragem Brasileira é Utopia ou Possibilidade Real?
Nos últimos dias, muito se tem falado sobre as denúncias do ex-árbitro FIFA Gutemberg de Paula à Rádio Jovem Pan. Em suma, cita um gigantesco tráfico de influências na Comissão de Árbitros da CBF, onde, segundo ele, o presidente da entidade, Sérgio Correa da Silva, sugestionaria facilidades para clubes politicamente fortes.
Em contrapartida, surgem novas denúncias, agora contra Gutemberg de Paula, alegando que o mesmo manipulava resultados. Árbitros encapuzados apareceram na ESPN Brasil fazendo as acusações.
Nesse fogo cruzado, quem perde e quem ganha?
Se as denúncias fossem apuradas, ganharia o futebol brasileiro. Mas os perdedores já são conhecidos: a credibilidade da CBF e seus parceiros, a categoria dos árbitros e o prazer dos torcedores em assistir futebol.
Gutemberg de Paula diz que está documentado e pronto para provar. Seus acusadores, não identificados, dizem que a prova são seus depoimentos. E quem está com a razão? Pela disposição dos órgãos que deveriam agir no caso, não saberemos.
O que dizer da ANAF – Associação Nacional dos Árbitros de Futebol, que ao invés de resguardar o seu filiado, defendeu a CBF? Ou do procurador Paulo Schmidit, que alegou não ver nada de importante para ser apurado (mesmo com Gutemberg ter dito que protocolou reclamações e o STJD nada fez).
Pior: o argumento maior é que outros árbitros não apoiaram Gutemberg em suas palavras. Ora, e alguém espera que os árbitros atuantes trabalhem contra seus chefes? Ilusão.
Infelizmente, a categoria é desunida e só quer saber das suas escalas. E não há quem os defenda, quando atacados, por culpa do próprio sistema. Quer exemplos? Em SP, o Sindicato dos Árbitros é presidido pelo Sr Arthur Alves Júnior, membro da Comissão de Árbitros da Federação Paulista. A outra entidade, a Cooperativa dos Árbitros, é presidida por Silas Santana, funcionário da FPF. Por mais que sejam e aleguem independência, moralmente não se dá para discutir incompatibilidade de cargos? No RJ, a situação é idêntica: tanto Cooperativa de Árbitros quanto Sindicato da categoria são presididos pelo Presidente da Comissão de Árbitros da Federação Carioca, Sr Jorge Rabello. Alguém imagina árbitro indo ao SAFERJ reclamando do presidente da CEAF-FERJ?
Em sã consciência, não dá para acreditar que há independência total, abrangendo política, moral e eticamente entre árbitros e suas instituições.
Que ninguém se iluda: não se vê autoridades brasileiras apurando os fatos até agora, nem movimento de rebeldia. Apenas poucos se levantando desorganizadamente para tentar mudar o triste panorama da arbitragem nacional, que é de: o de árbitros aparentemente assediados moralmente, passivos e lutando pelo interesse pessoal, nunca coletivo.
Esqueçam uma primavera árabe em pleno verão brasileiro. Na África Árabe e no Oriente Médio, a população saiu a rua à caça e queda dos ditadores que estavam no poder. Uma versão futebolística da revolução que mudou aquela região, lamentavelmente, pode estar longe se o caso ficar esquecido e se a desculpa de desqualificação do acusador for levada adiante.
Uma pena. Estaríamos perto de uma reviravolta nunca vista na arbitragem brasileira.
A esperança: Chris Eaton, chefe de segurança da FIFA destinado aos esquemas de manipulação de resultados, declarou que está interessado nesse caso brasileiro e já encaminhou agentes para o Brasil. Enquanto nossas autoridades relutam em agir, alguém de maior repercussão se interessou pelo caso.
O problema, cá entre nós, é que a própria FIFA não tem muita moral… Ou os casos de corrupção envolvendo ISL, Ricardo Teixeira, João Havelange e Joseph Blatter foram totalmente esclarecidos?
Pobre futebol brasileiro…
IMPORTANTE: REITERANDO UMA POSIÇÃO, A PARTIR DE UMA RESPOSTA A PERGUNTA DE INTERNAUTA: Acho que qualquer dirigente, independente do bom ou ruim trabalho, deve se descompatibilizar de cargos que possam ser contraditórios. É saudável para a categoria. E isso deve ser contestado no RJ, SP ou qualquer outro estado.
Não critico aqui o trabalho de Arthur, Silas, Rabello ou qualquer outro citado; critico a compatibilização ou não do cargo. Sobre os nomes, respeito. Se são competentes ou não, aí é com seus associados!
