– Destrinchando as Denúncias da Arbitragem

Ontem, o jornalista Fernando Sampaio, da Rádio Jovem Pan, conseguiu uma brilhante entrevista com o árbitro carioca Gutemberg de Paula Fonseca, retirado da relação de árbitros do quadro da FIFA para 2012. Dias atrás, o árbitro havia dito ao site ‘Voz do Apito’ que abandonaria a carreira, caso fosse excluído sem explicação da lista (matéria em: http://is.gd/MR98LP). E, o agora ex-árbitro não só falou, como fez importantes revelações na matéria veiculada na Rádio Jovem Pan.

Em aproximadamente 10 minutos de entrevista, Gutemberg abalou o meio esportivo com denúncias fortes, firmes, e segundo ele, embasadas. Mas e os quase 40 minutos gravados, o que teriam de mais surpreendente?

Quem ouviu o Jornal de Esportes, programa esportivo da emissora paulistana, ficou impressionado. Hoje, a Jovem Pan colocou a entrevista inteira em sua programação, onde Sampaio aborda outros temas pertinentes e Gutemberg responde a todos os questionamentos sem titubear.

Confesso que me impressionou a firmeza nas respostas, teor das queixas e a certeza garantida pelo árbitro das provas a serem apresentadas. Gostem ou não da arbitragem ou da pessoa de Gutemberg de Paula, inegavelmente sua atitude pode ser classificada como corajosa. Claro, pois assumiu a responsabilidade de tudo o que falou.

O link da reportagem pode ser acessado via Jovem Pan, em seu site, ou pelo caminho abaixo:

1 – clique em http://is.gd/gutembergdenunciaafsampaionajp

2- clique, abaixo da imagem do vídeo, em PodCast (o vídeo, que abre automaticamente, tem a apresentação de 3 minutos. Feche-o. O Podcast, na barra em cor verde, possui a íntegra, com 38 minutos e 02 segundos.

3- clique em, Play no Podcast.

Abaixo, 15 tópicos relevantes da longa e bombástica entrevista, divididos pelos minutos do aúdio do link:

1) CRITÉRIOS DA CBF (00:00 a 01:30)

Gutemberg questionou o por quê, com notas altas e acima da média proposta pela CBF, foi excluído. Qual o critério que levaria um árbitro a ser FIFA ou não?

(Transparência em critérios é algo difícil em algumas relações. Se levarmos em conta exclusivamente as notas, um mesmo avaliador pode fazer a nota de um árbitro ir de 0 a 10 com muita facilidade. Entretanto, certamente não são só as notas que levam um árbitro a ser FIFA. André Castro-GO teve atuações muito melhores do que Chicão de Alagoas, mas o segundo entrou para a FIFA em 2012…)

2) ACUSAÇÕES (01:30 a 01:40)

Mentiroso, mariquinha e corrupto”.

Esses foram alguns adjetivos dirigidos ao presidente da Comissão de Árbitros, Sérgio Correa da Silva. Ao longo dos tópicos, entenderemos as queixas.

3) INTERESSES PESSOAIS (01:40 a 02:00)

Quando faz algo pelos anseios pessoais, não precisa dar dinheiro. Corrupção pode ser por presente também”.

Fala em referência a supostas vaidades, interesses pessoais e questionamentos da ética do presidente da Comissão.

4) RELAÇÕES POLÍTICAS E DESRESPEITO AOS ÁRBITROS (02:00 a 05:20)

Os árbitros atuais sabem da sacanagem da comissão atual”.

Gutemberg defendeu o ato de Sálvio Spínola encerrar a carreira, por não concordar com a retirada do nome dele do quadro internacional. Falou sobre o desrespeito à figura do árbitro de futebol, onde os mesmos são usados e descartados pelas comissões. Aqui, não tenho como não me solidarizar com Gutemberg. Corretíssimo.

5) LIGAÇÕES PÓS-ESCALA E RECOMENDAÇÕES (05:20 a 08:20)

Sérgio inventou a situação de quando receber a escala, ligar para ele para receber recomendações”.

Falou sobre a constrangedora necessidade de, após a escala, ouvir conselhos. Citou ainda que logo após ter sido escalado para Corinthians X Goiás (5X1), Sérgio disse: “Vai lá, boa sorte. Vai apitar o jogo do Timão, hein?

Se fosse Corinthians X Grêmio, FlaXFlu, ou outro grande clássico, entendo normal o fato da Comissão de Árbitros ligar e dizer: “Atenção, boa sorte, você está em um jogo importante”. Mas o árbitro ter que ligar? E se fosse São Paulo X Paulista de Jundiaí? Ligaria?

Tal frase, pela experiência de árbitro, não soa bem. Parece intimidação, assédio moral ou qualquer outra coisa indevida. O Goiás lutava na época contra o rebaixamento. Não deveria dizer para ter atenção com o time goiano também?

Agora, não podemos dizer que o campeonato foi encomendado. Teria que combinar com todos os árbitros do quadro que apitaram o Corinthians e os times que brigavam diretamente pelo título. O problema é: sugestionar uma atenção, um privilégio ou um carinho maior com o time grande ou afinado politicamente. Se isso ocorreu, é antiético.

6) PAULO JORGE ALVES E A LAN HOUSE (08:20 a 13:32)

Gutemberg contou um assustador episódio onde Paulo Jorge Alves, ex-bandeira e atual membro da CA-CBF, forjou de maneira cinematográfica certidões negativas contra ele, descobertas em investigação policial! Tudo virou ação criminal e com o depoimento na Polícia por parte do Sérgio Correa de que Paulo seria afastado, o que não houve. Segundo Gutemberg, Paulo continua firme em seu cargo até hoje. As acusações atingiram inclusive Pablo dos Santos Alves, filho de Paulo, que é aspirante à FIFA e que tivera feito as consultas sobre certidões criminais.

Medonho o caso, não?

7) SANTA CRUZ DENUNCIANTE (13:32 a 14:20)

Lembrou-se de uma denuncia do Santa Cruz/PE contra uma suposta atitude de corrupção de Paulo Jorge Alves, onde curiosamente o caso foi encerrado quando o presidente da equipe pernambucana assumiu um cargo diretivo.

Seria o famoso cala-boca?

8) MOTIVAÇÕES (14:20 A 15:24)

Contribuir para que toda a sujeira seja lavada”. Esse foi o mote de Gutemberg, segundo ele próprio.

9) CRIAÇÃO DE SITE CHAPA BRANCA (15:24 A 19:30)

Algo delicado foi a denúncia de que um site chapa branca levantou suspeitas sobre uma negociação do escudo FIFA. Tal site, segundo Gutemberg, dizia que o escudo FIFA foi oferecido a ele em troca de um CT de excelência à arbitragem. E que o mesmo fez inúmeras denúncias falsas e caluniosas.

O árbitro lembrou que é assessor de vereador no Rio de Janeiro, e que solicitado pelo Sindicato dos Árbitros, negociou dentro dos trâmites legais a doação de um terreno para os árbitros, com aproveitamento para toda a categoria, respeitando todos os processos burocráticos. O site teria levantado suspeitas e, segundo Gutemberg, ameaçado sobre questões “hierárquicas”.

Se verdade a negociação, Sérgio Correa seria o negociante? Claro, se há corruptor, há corrupto também.

10) FORTALEZA X CRB (19:30 a 24:48)

Num jogo denunciado pela grande imprensa, onde supostamente as equipes teriam combinado o resultado, e numa contenção de despesas num momento impróprio, bandeiras locais foram escalados no jogo decisisvo para o não-rebaixamento do time do Fortaleza. Foi a partida onde Carlinhos Bala pediu para o zagueiro ajudar (e parece que ajudou…). E se a partida tivesse erro a favor da equipe cearense? Gutemberg era o árbitro escalado nesse jogo.

No mais, a partida foi ao TJD e o árbitro também. As equipes foram absolvidas, junto com o próprio árbitro, Mas a CA manteve-o na geladeira.

11) SAÍDA ANUNCIADA ANTECIPADAMENTE (24:48 a 27:17)

Sua saída foi avisada primeiramente por Ubiraci Damásio, que alertou que ele sairia de qualquer forma. Gutemberg falou de vários colegas de arbitragem que tiveram a carreira encerrada prematuramente.

12) PESSOAS DA CBF (27:17 a 28:20)

Uma lista de pessoas consideradas de bem e corretas foi citada: Manoel Serapião, instrutores e o Dr Edson Rezende.

13) VAGAS FIFA (28:20 a 32:00)

A briga de escudos e atendimento de pedidos políticos foi debatida, com a disputa da vaga de Carlos Simon, número de vagas para o Rio de Janeiro e a ascensão de Péricles, Sandro Ricci e ele próprio à categoria.

14) COMANDANTE CONTROLADOR (32:00 a 34:02)

Gutemberg ironizou a autoridade de Sérgio Correa, lembrando que

se pudesse controlaria o árbitro por controle remoto, sentado em uma poltrona”.

Disse também – e aí concordo plenamente – que Ricardo Teixeira tem coisas muito mais sérias envolvendo Copa do Mundo do quese preocupar com a arbitragem. Ou seja, o mandatário-mor não está nem aí, desde que não se leve o problema a ele.

15) CORRUPÇÃO NO FUTEBOL (34:02 a 38:02)

A entrevista é finalizada com frases de efeito:

Não se seduz por dinheiro apenas, mas por presentes.”

Ou:

Árbitro não pode errar quando o interesse do dirigente é outro”. Ou ainda: “Árbitros são desmotivados pelos sistema atual”.

Mas a principal foi: “

Nas reuniões, não pode gravar, filmar e fotografar nada (…), estamos respirando com canudinho numa lagoa cheia de lama”.

Aí é complicado: tenho todas as ressalvas àqueles que proíbem registros. Por quê proibir? Há algo a esconder?

Recordo-me que um dia, Francisco Dacildo Mourão, então árbitro CBF pelo Ceará, gravou numa vexatória palestra Armando Marques, presidente da CA-CBF na ocasião, onde dava orientações absurdas e pedidos de vistas grossas a certos detalhes da regra e demais situações.

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ACRÉSCIMO: Rubens Pozzi, da ESPN, conseguiu posteriormente falar com Gutemberg, ontem a noite. E, acrescentou algo a mais: Segundo Gutemberg, as escalas para os jogos mais importantes SÃO TODAS VICIADAS. O vídeo está disponível em: http://ht.ly/8ljxr

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Tudo o que foi relatado acima está registrado na entrevista nos links citados. Não tem nenhuma informação particular minha (até porque não sou jornalista, mas ex-árbitro). Em meio aos respeitosos pitacos, quero acrescentar uma opinião bem clara: Gutemberg está sendo criticado por denunciar somente agora, o quê, para muitos, levantaria-se suspeitas dos propósitos. A perda do escudo traria um misto de mágoa e vingança? Para muitos, sim. Ora, fui árbitro e digo: qualquer um que critique atuando, é engolido pelo sistema. Se faz necessário abdicar da carreira para fazê-las. Poucos se arriscaram a isso: os valorosos Cláudio Vinícius Cerdeira e Evandro Rogério Roman, em seus estados, conseguiram herculeamente denunciar e sobreviver.

Independente do momento, todas essas denúncias graves e críticas que são reveladas ao público são feitas com o lembrete de Gutemberg que há provas! Me parece bem fundamentado e embasado para corajosamente vir ao público e fazê-las. Ademais, aquilo que é denunciado é mais grave do que a discussão sobre o valor do momento de quem a faz.

Conheço inúmeros ex-árbitros que nunca reclamaram pois sabem que há a necessidade de comprovação das queixas, que muitas vezes são difíceis de serem obtidas. O assédio moral não deixa rastros e é subjetivo. Não posso citar nenhum nome, claro, pois não tenho autorização. Mas falo por mim: a arbitragem e os dirigentes têm o seu encanto. Sobre o caso, Arnaldo César Coelho disse que “o árbitro acha que dirigente de arbitragem é bonito quando tem escala, quando sai fica feio”. Não é bem assim. Você pode ser confundido com a beleza exterior da categoria, e descobrir a feiúra interior com a convivência, suportando-a por um tempo limitado.

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Por fim, encerro com a reflexão: apurando-se tudo (por caminhos e entidades sérias, julgando e punindo os responsáveis), não está na hora de um choque de gestão? Urgente? Que tal?

Vamos repassar a arbitragem em todas as searas: Comissões, Sindicatos e Cooperativas viciadas, e em todas as esferas: nacional e estadual.

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E aí, depois de tudo isso, o que você tem a comentar? Deixe sua mensagem.

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