Depois do empate de 2×2 com o Resende, vale o repost desse texto sobre Paulo Sousa…
A cabeça dos portugueses que estão trabalhando no Brasil “vai pirar”! Contratados para lutar por grandes conquistas, são pressionados para jogar campeonatos estaduais e vencer jogos numa 4a feira em Conselheiro Galvão, contra o Madureira (respeitosamente, usando-se esse exemplo), em pleno verão brasileiro. E “ai” do time se não der o melhor de si…
Imagine essa situação hipotética:
Um grande time do futebol brasileiro, chamado Fluminengo, contratou um treinador estrangeiro, o português Pedro Silva. Sua equipe quer conquistar o Brasileirão e a Libertadores da América, e todo o planejamento do técnico girará sobre isso.
Seu diretor de futebol, Marcelo Brasa, informou que existem no Brasil os campeonatos regionais (no mundo, não há algo do tipo), e que se poderia usar o torneio como pré-temporada. Embora Pedro Silva desejasse viajar com a agremiação para intercâmbio na Europa, decidiu jogar com as equipes locais, usando o torneio como preparativo.
Logo de cara, o Fluminengo jogou contra seu rival, o Laranjais, e perdeu a partida. Pedro Silva se assustou com a repercussão da derrota (afinal, era só um campeonato curto e local). Imaginou que fosse em decorrência da rivalidade.
No segundo jogo, resolveu testar outros jogadores do elenco, a fim de saber com quem poderia contar ou não. Foi chamado de Professor Pardal (pois “inventou uma escalação” diferente da que jogava). Questionado pelo diretor Marcelo Brasa, argumentou em bom português lusitano: “Ora, pois, o Gabigolo, o Breno Henrique e o Arrancaieta eu já conheço. Preciso saber da qualidade dos outros atletas da equipa”.
Na partida seguinte, fez muitas variações táticas e montou seu time com uma forma diferente de jogar. Aí foi chamado de “burro” pelos torcedores. Pedro Silva não compreendia: num jogo era “professor”, no outro um “asno”?
O portuga respirou fundo, usou da sua experiência e sapiência e seguiu seu planejamento, apesar da pressão. Eis que soube que sua equipe tinha outros torneios: Copa do Brasil, Recopa, Supercopa, Hipercopa e o que aparecesse na frente. Foi consultar o calendário, e viu que o ano no Brasil também tem 365 dias como em Portugal. Ficou encafifado: “Como os brasileiros encaixam tantos jogos em poucos dias?”
Resolveu ir à praia esfriar a cuca, e viu que nas rodas dos quiosques à beira-mar, os torcedores do Fluminengo já falavam de outro patrício: o antigo treinador Jorge Cristo, que ganhou tudo nas temporadas anteriores.
O que estaria pensando Pedro Silva, que saiu de um selecionado onde tinha chance de ir para a Copa do Mundo, ao perceber que em tão pouco tempo as críticas seriam muitas por conta de um campeonato que, em tese, não precisaria ganhar e sim treinar sua equipe?
A ilustração acima mostra: os estaduais não ajudam treinador algum; ao contrário, só os desafiam e pressionam, sem permitir que preparem os times para o Campeonato Brasileiro.
Na linguagem do árbitro de futebol, existe um dito: “nenhum árbitro se consagra nos acréscimos”. E faço a mesma analogia: algum treinador se consagra no Estadual, e isso o garante no Nacional?
Crespo que o diga… e tantos outros por aí.

(Foto: Vicenzo Pinto / AFP)