Eu era um dos críticos do comportamento do garoto santista Neymar. Eu e muitas outras pessoas!
Reforço: crítico do COMPORTAMENTO, nunca da qualidade do futebol dele. Afinal, não sou maluco.
A verdade é que a então jovem promessa do Santos era um menino diferenciado com a bola nos pés, mas ainda irresponsável.
Lembram do desnecessário chapéu no zagueiro Chicão, na Vila Belmiro, com a bola parada e após a marcação de uma falta? Ali ficou a dúvida: deboche de um moleque malandro ou ingenuidade de um jovem em início de carreira?
A verdade é que o Neymar do Barcelona-ESP é diferente do Neymar do Santos FC. Quando subiu para o profissional, abusava das simulações de falta. Caia mais do que o normal, se jogava descaradamente e, utilizando-se do seu dom nato da qualidade técnica, perdia-se na ousadia com a ironia. Prova disso foi o emblemático gesto do árbitro americano no amistoso de inauguração da Red Bull Arena em New Jersey, onde o Santos fez um amistoso e após uma das inúmeras simulações o juizão apontou o dedo ao santista e sinalizou que não marcaria mais faltas nele! Pudera, era difícil saber o que era “falta real” ou “falta virtual”.
Conforme foi amadurecendo, Neymar foi aprendendo. Dois treinadores devem receber os aplausos: Muricy, que o ajudou com muita orientação; e Renê Simões, quando treinador-adversário que declarou em 2010 após um jogo contra o Atlético Goianiense na Vila Belmiro:
“Em nome dessa arte de jogar futebol, da qual eu sou partidário, estamos criando um monstro. Temos que fazer um dossiê pelo número de vezes que ele se joga. A televisão tem que mostrar. O que esse rapaz tem feito é inaceitável. Algo precisa ser feito, Neymar tem de ser educado logo. Desse jeito, ele vai virar um monstro. Fui ao Dorival dizer que estava certo ao repreendê-lo. Neymar, hoje, não é um homem, nem um grande jogador, É UM PROJETO DISSO TUDO. Fiquei decepcionado com o futebol dele depois desse episódio. Torno a pedir educação a ele, por parte dos árbitros e do clube.”
Felizmente, para o bem do futebol brasileiro, Neymar passou de “projeto” para REALIDADE e se reeducou.
Hoje, cai muito menos, provoca o adversário jogando muita bola (e não debochando com lindos dribles de malabarista “para o lado”), dá excelentes entrevistas falando muito bem, e, apesar da pouca idade, já arrisca ser líder da Seleção Brasileira e do próprio Barcelona.
Claro, o staff que ele tem deve ser responsável por isso também. É inegável que o ótimo gerenciamento da sua carreira (até mesmo em episódios delicados, como o caso de assumir o seu filho com uma moça menor de idade e se mostrar um ótimo “pai solteiro”) tem o ajudado muito.
Nesta última semana, sua brilhante atuação diante do Atlético de Madrid e as discussões nas quais o atleta se envolveu suscitaram um curioso debate: jornalistas espanhóis questionaram o seu treinador, Luiz Henrique, se o futebol ofensivo de Neymar era provocativo. E a resposta foi interessante:
“É preciso ver o perfil dos jogadores e a nacionalidade deles. Os brasileiros veem o futebol como algo para jogar se divertindo. A Espanha é um país curioso, onde ofende mais um drible do que quatro ou cinco entradas fortes. Somos assim. Tire o futebol, o samba e outra coisa de um brasileiro que já não será mais brasileiro. Eles têm outra maneira de entender o jogo. Que Neymar siga desfrutando dessa alegria e nos faça desfrutar dela”.
Gostei. As botinadas – essas reais – que esse Neymar mais “low profile” está levando não estão sendo discutidas, mas sim o jogo de bela plástica!
Que os árbitros espanhóis (fracos tecnicamente) preservem o garoto. Afinal, ele é a esperança brasileira (ao menos, ele é a maior certeza) para a formação do escrete canarinho visando a Copa da Rússia em 2018.

