São essas coisas que me revoltam: o Hospital São Vicente é destaque no JJ desta sexta-feira, e o assunto é: o salário e os agregados do supervisor da instituição (que é vereador em Cabreúva).
A matéria é de Ariadne Gattolini, e pela clareza, dispensa comentários. Lamentável! Abaixo:
SUPERVISOR DO SÃO VICENTE EMPREGA PARENTES
O supervisor do Hospital de Caridade São Vicente de Paulo, Antonio Carlos Pereira, também presidente da Câmara de Cabreúva, emprega filho e sobrinho no hospital desde 2007. Ambos estavam subordinados ao seu comando direto até o ano passado. A superintendência do Hospital São Vicente afirmou que é uma entidade privada, apesar de receber mensalmente R$ 8,9 milhões de convênios públicos – aproximadamente R$ 4 milhões de repasse do SUS (Sistema Único de Saúde) e R$ 4,9 milhões da Prefeitura de Jundiaí, e que não está sujeita às leis contra nepotismo.Apesar de vereador e presidente da Câmara de Cabreúva, eleito no ano passado, Antonio Carlos Pereira afirma que cumpre 200 horas mensais de trabalho no Hospital São Vicente. Seu cargo, que era de chefe de segurança até o ano passado passou, na atual administração, a supervisor. E o salário mais que dobrou: saltou de R$ 4 mil para R$ 9 mil.
Funcionário do hospital desde 1994, em 2007 – já como chefe de segurança – empregou o filho Cristiano Pizol Pereira, como assistente de atendimento ao cliente, com salário de R$ 2.036,72, e o sobrinho Rafael Carlos de Aveiro, como chefe de recepção, com salário de R$ 4.366,00. Naquela época, Pereira afirmou que “fazia um pouco de tudo, como segurança, recepção e manutenção.”
O JJ Regional foi até a porta do hospital para conversar com Cristiano e Rafael. A assessoria de imprensa do hospital afirmou que Cristiano estava em férias e que Rafael não iria conversar com a imprensa. Segundo nota, divulgada pela assessoria de imprensa e assinada pelo superintendente do hospital, Américo Lega (indicado pela Secretaria Municipal de Saúde), “o HSV é uma instituição privada e filantrópica, sendo excluída da lei municipal de nepotismo.
Cada contratação é feita seguindo os requisitos necessários e obrigatórios que o cargo requer, inclusive pela capacidade, necessidade profissional, qualificação e não de acordo com o grau de parentesco. Possuímos, em nosso quadro de colaboradores, exemplos de profissionais com grau de parentesco, como marido e esposa, pai e filho, sobrinhos e tios, em diversas áreas assistenciais, como médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas e colaboradores da área administrativa. Este hospital possui uma administração séria, com profissionais que visam o bem-estar da população atendida e não se presta a cabide de emprego para quem quer que seja”, informa a nota.
Pereira não quis conversar com o JJ Regional, afirmando que foi proibido pela atual diretoria. A Prefeitura de Jundiaí informou que não iria se manifestar, já que o assunto é de alçada exclusiva do hospital.
REPERCUSSÃO
O presidente da ONG Transparência Brasil, Claudio Weber Abramo, afirmou que merece atenção do Ministério Público o fato de o hospital ser mantido com dinheiro público e não se encaixar nas leis contra nepotismo. “Esta figura jurídica não pode existir. Se recebe dinheiro público, tem que prestar contas de onde emprega, de quem contrata e o que faz com o recurso, com o risco de os administradores e do Executivo serem processados por improbidade administrativa.”Abramo afirma que o fato de o supervisor ser presidente da Câmara de Cabreúva tem de ter atenção jurídica também. “Se ele é presidente da Câmara, responde como gestor administrativo da Casa de Leis e tem que se dedicar ao cargo. Como pode fazê-lo se cumpre 200 horas mensais no hospital de Jundiaí?”, questiona.
Este é a mesma opinião do professor e consultor de Direito Constitucional, João Jampaulo Júnior. “Nas duas situações – tanto como presidente da Câmara de Cabreúva como nas indicações de parentes – vejo imoralidade. Como presidente da Câmara, ele tem que cumprir seu cargo administrativo no local. Há possibilidade, inclusive, de ser alvo de processo de impeachment por não cumprir seu cargo de presidente”, afirma o especialista.
