Dias atrás, quando o atleta da S.E. Palmeiras João Vitor foi agredido por torcedores, vários jogadores e dirigentes se manifestaram publicamente. Andrés Sanches, presidente do arquirrival Corinthians, disse que numa situação dessa, a equipe não deveria entrar em campo e que deveria-se paralisar o campeonato!
Ontem, o árbitro gaúcho Jean Pierre, que havia apitado América X Corinthians, foi agredido (com seus auxiliares) durante conexão em São Paulo. Fizeram o boletim de ocorrência, onde se registrou que eram torcedores do Corinthians. E depois de meia-hora, a PF os liberou!
– Nesse episódio, houve o mesmo impacto de manifestações e a mesma indignação como a do caso João Vitor?
– Andrés Sanches sugeriu que os árbitros não entrassem em campo, como no episódio do jogador palmeirense? Deixará de fazer reclamação formal contra o árbitro, em compaixão?
(Interessante que reclamará do pênalti mal marcado contra; o pênalti a favor, se esqueceu…)
– A ANAF – Associação Nacional dos Árbitros de Futebol – está se mobilizando para que a CBF tome providências, ou essas entidades não gostam de entrar em atrito?
– Os árbitros se manifestaram em conjunto?
Amigos, fica a observação: futebol é esporte! E quando agressões começam a acontecer com frequência, algo está errado. Daqui a pouco, o alvo pode ser até mesmo jornalistas que defendam algo contrário ao desejo dos dirigentes (lembram-se do episódio do Milton leite com o Vasco da Gama e seu dirigente imperador?)
Aí vemos com o conceito de que o futebol é business, negócio, evento. Ok. Que providências devem ser tomadas quando o agredido é o único elemento não-profissional desse futebol-empreendimento comercial? E que com frequência acaba sendo ele- o trabalhador amador do sistema – a levar a responsabilidade da incompetência das equipes em campo?
Claro que a arbitragem brasileira está num momento crítico e os dirigentes não dão a devida atenção, mas é de uma tamanha irresponsabilidade ouvir discursos OFICIAIS de que “o Corinthians tem DVD de erros da arbitragem“, ou da fala de Luiz Felipe Scolari jogando a culpa pelos resultados na arbitragem, como foi dito contra o Coritiba, de que “não consigo entender o critério do Alício, o jogador que sofreu a falta estava 5 segundos depois em pé, apesar dela ter sido por trás, e ainda assim expulsou meu atleta“.
É fácil jogar os erros nas costas de quem já está cambaleando. O problema é: uma hora ou outra, algum torcedor fanático, iludido por chororôs descabidos e persistentes, fará alguma bobagem maior. E a culpa será de quem?
Zezé Perrela pintou e bordou no final de 2010. Qual a punição por chamar o presidente da CA/CBF de ladrão e dizer abertamente que havia esquema?
Escrevo esse texto neste final de segunda-feira. Até agora, não há uma linha no site da CBF ou da ANAF sobre o episódio. Os primeiros que deveriam se manifestar, nada fizeram. Parece que nada aconteceu ou isso é algo corriqueiro ou um fato desprezível.
Por fim: Já que a CBF obriga os árbitros a comprarem suas passagens aéreas pela Pallas Eventos Esportivos, por que não sorteia árbitros de mesmos estados e os faz ir de vôo direto, sem escala na terra dos torcedores das equipes envolvidas (já que ela se preocupa tanto com o bem-estar dos árbitros)?
E o pior é acreditar que os agressores já estão impunes e pronto para agirem na próxima semana. E a cada rodada do término do Brasileirão, mais dirigentes, treinadores e jogadores incentivam tais atos, inconscientemente fometando a violência contra os árbitros.
Triste ver que isso ainda acontece justo no país da Copa, no celeiro de craques e terra de cartolas vitalícios. Imagino que ontem, no luxuoso hotel onde se encontraram Ricardo Teixeira, Marco Polo Del Nero, Jeromè Valcke e o nobre deputado da bancada da bola, Vicente Cândido, tenham discutido tal problema.
Ou será que isso não é problema?
Antes, a preocupação era quando o árbitro saía do estádio, com a meia dúzia de bêbados que ficavam no portão dos vestiários. Hoje, temos que nos preocupar inclusive no aeroporto. Evoluímos…
Gente, não vamos esperar outro “Escobar”, jogador colombiano morto por um torcedor. Façamos algo! Ou será que vão tomar providências somente quando um dirigente de Federação for agredido? Ah, mas eles só andam com segurança…