Claro que não. Por motivos óbvios e exemplo práticos, explico:
Normalmente, as grandes equipes costumam entregar kits aos árbitros. Calma, nada de tentativa de suborno, mas souvenirs, lembranças da sua passagem por aquele estádio. Chaveiros, canetas ou camisas. Brindes, em geral.
Pequenas e médias equipes também fazem isso eventualmente, dependo da condição financeira. Certa vez, em Lençóis Paulista, tanto a equipe de arbitragem e os adversários ganharam cestas de chocolates do patrocinador local, que era o fabricante das guloseimas. Em outra oportunidade, em Americana (a equipe do Rio Branco sempre fazia isso), cortes de tecido (a cidade é conhecida como “tecelã”). Em São Carlos você ganhava toalhas. E por aí vai.
Até esse ponto, do oferecimento ser souvenir, tudo bem. Ou algum árbitro se venderá por uma camisa de clube? Claro que não.
Dar uma lembrança e aceitar/ou não, independente do placar, é até mesmo uma questão educacional.
O problema passa a ser o seguinte: PEDIR.
Vi muitas vezes colegas de arbitragem pedirem camisas. Nunca o fiz, pois sempre achei deselegante, e confesso que nunca tive motivos para pedir também. Ganhei, e confesso também, camisas de todos os grandes clubes de São Paulo, que foram por mim doadas. Sempre as recebi com os demais integrantes e nunca sozinho.
Em algumas situações como quarto árbitro, já passei pela delicada situação de árbitro me pedir para solicitar aos dirigentes camisas. Não o fiz por achar apelativo.
Quando a partida foi disputada sem problemas, se não houve polêmica, se tudo ocorreu bem, se por ventura o árbitro sacar da sua mala uma camisa para ser autografada pelo craque do time à um amigo torcedor, penso que tudo bem (embora não faria isso). Já presenciei isso também.
Algo complicado: árbitros que recebem camisas de brinde e as revendem. Isso também já aconteceu. Faturar em cima da gentileza de alguém. É mercenarismo.
O problema em pedir é a contrapartida da equipe em caso de derrota. Já vi dirigente levando camisas antes do jogo e reclamando ao término da partida: “assalta o time e ainda leva camisa”. Difícil…
A FPF proíbe seus árbitros de receberem qualquer coisa em seus vestiários. Presentes e agrados nem pensar.
A CBF, por sua vez, regulou a proibição de aceite em 2004, após a polêmica do dirigente do Vitória, Paulo Carneiro, ter acusado o árbitro Edilson Soares da Silva (lembram-se dele, o famoso Michael Jackson do apito?) de pedir camisas do Santos, após o término da partida Vitória 1 X 2 Santos.
No último sábado, Francisco Carlos Nascimento supostamente teria pedido a camisa de Neymar no jogo entre Santos 4X1 Atlético Paranaense. Repito: para quem ganha taxas de arbitragem num valor considerável e apita uma grande sequência de jogos, o valor de uma camisa é irrisório… Porém, o valor de estima é de ser “a” camisa do Neymar, a roupa em que ele vestia numa atuação de gala, onde a loja não possui; só quem esteve no espetáculo poderia obtê-la com maior facilidade.
O árbitro negou em entrevista, dizendo que foi Durval quem pediu seu par de cartões como lembrança. Mas mesmo se Chicão tivesse pedido, pelos lances polêmicos, seria indevido. Em outras situações, poderia ser estranho, mas aceitável. Antonio Lopes, treinador adversário do Santos, pediu afastamento sumário do árbitro (em: http://ht.ly/7drX5)
É uma questão de cultura. Mas e você, o que pensa sobre isso? Deixe seu comentário:
Sobre o jogo entre Santos X Atlético Paranaense, você pode ver a análise da arbitragem no site “Pergunte ao Árbitro”( http://pergunteaoarbitro.blog.terra.com.br/2011/10/30/o-lance-de-alan-kardec-de-impedimento-passivo-como-defini-lo-analise-da-arbitragem-de-santos-x-atletico-paranaense/) ou no Blog do Professor Rafael Porcari (http://professorrafaelporcari.blog.terra.com.br/2011/10/30/analise-de-arbitragem-santos-x-atletico-paranaense-brasileirao-2011-29102011-pacaembu/)