Um debate levantado por pertinente reportagem do Bom Dia: Profissionalizar ou Regulamentar a Arbitragem? (reportagem em: http://www.redebomdia.com.br/noticias/Esporte/65843/o+pedido+agora+e+regulamentar+os+arbitros+de+futebol/comentario+enviado+com+sucesso)
Leio na matéria do jornalista Gustavo Longo com Arthur Alves Júnior, presidente do Sindicato dos Árbitros de Futebol do Estado de São Paulo (Safesp), que a entidade defenderá a Regulamentação da profissão de árbitro de futebol, ao invés da profissionalização.
Estamos remando contra a maré?
Apesar da intenção do Sindicato, seria a verdadeira vontade dos árbitros?
Regulamentar não trará os benefícios desejados pela categoria. Imagine que apesar da proposta em reconhecer a atividade da Arbitragem de Futebol, os árbitros não teriam os benefícios que sempre sonharam, que se resumem a: se tornarem funcionários da Federação Paulista de Futebol.
O árbitro quer ter direito a Férias, Abono Salarial, 13º Salário, FGTS, suporte médico com plano de saúde bancado pela entidade, garantias e estabilidade no emprego, além da certeza de que não haverá veto sobre eles.
Mas a quem interessaria regulamentar a atividade de árbitro e não profissionalizá-la? Por incrível que possa parecer, interessa à Federação Paulista e ao Sindicato, menos aos próprios árbitros!
Explico: com a atividade regulamentada, os árbitros continuariam vinculados ao Sindicato, pagando suas taxas e anuidades ao mesmo, recebendo os valores como autônomos através da Cooperativa dos Árbitros, e nunca tendo compromisso empregatício a quem realmente deveriam: ao organizador do evento, que é a Federação Paulista de Futebol.
Pergunte a qualquer árbitro se ele quer continuar recebendo via Cooperativa e pagando taxas ao Sindicato (bancando os seus custos de treinos e cuidados da atividade com dinheiro do seu próprio bolso, sem férias e 13º, vivendo das escalas e da ‘sorte do sorteio’), ou quer ser funcionário da FPF (com todos os benefícios e garantias aos quais os empregadores são obrigados pela legislação trabalhista, além da certeza do salário mensal)? A resposta será óbvia…
Acrescente a tudo isso um elemento perturbador: Arthur Alves Júnior é o presidente do Sindicato dos Árbitros, dirigente da Cooperativa e secretário-geral da Associação Nacional dos Árbitros (3 entidades que arrecadam dos árbitros). Incompativelmente, exerce a função de membro da Comissão de Árbitros da própria FPF!
Custa a crer que o presidente do Sindicato Arthur Alves compraria uma briga com a FPF. Lá, reclamaria a quem? A ele próprio?
Profissionalizar é o caminho. A questão é: qual modelo de profissionalização deve ser adotado?
Uma pena que os árbitros não manifestem publicamente o seu desejo. Afinal, regulamentar a atividade apenas encheria os cofres das entidades da categoria e faria com que o árbitro de futebol permanecesse desprotegido da mesma forma. Infelizmente, não interessa a muitos a profissionalização, pois, afinal, ninguém quer assumir os custos dela.
Rafael Porcari foi árbitro de futebol por 16 anos pela FPF, é professor universitário, consultor em arbitragem e blogueiro do Bom Dia Jundiaí: http://blog.redebomdia.com.br/blog/rafaelporcari/
