Os EUA pegaram pesado no consumo de combustíveis dos carros gastões. Por lei, os carros que consomem mais (como as SUV’s), terão que fazer no mínimo 23kms/litro.
Cá entre nós: uma revolução, não? Bom para o consumidor e para o meio ambiente.
Extraído de Veja, Ed 03/08/2011, pg 82-84
MAIS CHÃO COM MENOS PETRÓLEO
Os carros americanos, por lei, terão de gastar menos combustível. A medida é boa para a economia e também para o clima do planeta.
Hoje um carro anda 12 Km
Meta para 2016 – 15Km
Meta para 2025 – 23 Km
por Alexandre Salvador
Um acordo firmado na semana passada entre o governo e a indústria automobilística dos Estados Unidos sinaliza, num futuro próximo, grandes transformações nos carros americanos. O objetivo é diminuir a hegemonia dos automóveis possantes e beberrões pelos quais os motoristas daquele país têm predileção. Pelo acordo, os fabricantes de veículos se comprometem a investir bilhões de dólares em tecnologia para reduzir o consumo de combustível dos carros que produzem, seguindo um plano de metas. Hoje, a frota americana de veículos de passeio e caminhões leves novos rodam, em média. 12 quilômetros com l litro de gasolina. Em 2016, os carros deverão percorrer 15 quilômetros com a mesma quantidade de combustível e, em 2025.23 quilômetros. Os índices se referem à média da frota – o consumo dos carros que gastam muito será compensado pelo baixo consumo de novos modelos que as fábricas serão agora obrigadas a desenvolver. A regulamentação sobre o consumo dos veículos nos Estados Unidos, chamada de Café (sigla em inglês para Economia Média Compartilhada de Combustível), existe desde 1975 e foi criada em reação à crise causada pelo embargo dos países árabes à exportação de petróleo, dois anos antes. Desde 1985 os índices obrigatórios de consumo não sofriam alterações. No ano passado, o presidente Barack Obama transformou a redução do consumo dos veículos numa bandeira de sua administração.
A princípio, a indústria automobilística reagiu com desagrado. A alegação era de que os investimentos necessários para produzir carros menos sedentos iriam encarecer os modelos e tomá-los inacessíveis a boa pane da população. O governo retrucou que a economia que os motoristas fariam com combustível compensaria o dinheiro a mais desembolsado na compra do carro. Seguiu-se uma longa negociação para estabelecer as metas de redução. O acordo da semana passada, estabelecendo metas a meio caminho entre as que cada parte propunha, encerrou a discussão. Não é a primeira vez que a indústria automobilística americana reage mal a uma regulação proposta pelo governo. O mesmo ocorreu quando se tornou obrigatório o uso de catalisadores nos escapamentos dos veículos – medida que diminuiu tremendamente a poluição do ar nas cidades – e dos airbags, que hoje salvam vidas.
O governo Obama tem três bons motivos para se empenhar na redução do consumo de combustível dos veículos. O primeiro é diminuir a dependência do petróleo que os Estados Unidos importam, boa pane dele proveniente de países com governos pouco confiáveis, como a Venezuela. O país consome diariamente quase 20 milhões de barris de petróleo e metade de seu déficit comercial, de 497 bilhões de dólares, é causada pela importação do produto. O segundo motivo é reduzir as emissões de gases do efeito estufa e, dessa forma, dar a contribuição americana aos esforços para frear o aquecimento global. Nos Estados Unidos. 29% da emissão desses gases provém da circulação de veículos. O terceiro motivo, de mais longo prazo, é preservar energia para as gerações futuras. Os Estados Unidos têm os piores índices de eficiência de consumo dos automóveis entre os países desenvolvidos. Boa pane da Europa e o Japão atingiram a meta de 18 quilômetros por litro em 2008. Os europeus pretendem chegar à meta de 25 quilômetros por litro em 2020.
Uma saída para reduzir o consumo de gasolina seria elevar os impostos que incidem sobre ela. Os Estados Unidos têm uma das gasolinas mais baratas do mundo – litro custa l dólar na bomba, quase metade do preço cobrado no Brasil. Aumentar impostos, porém, poderia ter um custo político muito elevado para o governo Obama. Some-se a isso o fato de que, nos Estados Unidos, pelo tamanho do país e pelo modo de vida de sua população, a gasolina precisa ter um preço acessível. Os americanos percorrem grandes distâncias de carro para trabalhar, ir à escola, fazer compras ou se divertir. Um aumento de impostos iria castigar as famílias menos favorecidas.
A dificuldade de investir em tecnologias que diminuam o consumo de combustível é que o motor a combustão é uma máquina limitada. Os motores que equipam os carros de hoje não diferem muito do primeiro modelo criado em 1876 pelo engenheiro alemão Nikolaus Bkolaus Otto. Em mais de 100 anos, nenhum fabricante conseguiu aumentar de forma expressiva o aproveitamento da energia obtida da queima do combustível: hoje ela é de 30% nos motores a gasolina e álcool, 50% nos motores a diesel. O restante da energia se perde em forma de calor. Explica o engenheiro automobilístico Celso Arruda, da Unicamp: “O motor a combustão interna é uma máquina térmica, que necessariamente transforma parte da energia em calor. Ele chegou muito próximo ao limite de sua evolução”.
A Europa atingiu seu patamar atual de redução de consumo com carros menores e movidos a diesel. No Japão, os híbridos são muito populares – o Toyota Prius é o carro mais vendido do país. Já nos Estados Unidos, a picape Ford F-150 ainda é o modelo preferido dos motoristas e, na sua versão mais econômica, faz apenas 9 quilômetros por litro. Disse a VEJA o engenheiro americano Paul Ronney, da Universidade do Sul da Califórnia: “Além dos desafios tecnológicos, existe nos Estados Unidos uma questão cultural de repúdio aos carros muito econômicos. As pessoas estão acostumadas a dirigir grandes caminho nestes SUVs, e não existe tecnologia que faça com que os SUVs alcancem os 23 quilômetros por litro”.