Estamos nos momentos derradeiros do Brasileirão. E temos visto, como todos os anos já nos habituamos a ver, chororô de todos os lados. Sempre os mesmos discursos: perdemos pelos erros da arbitragem, pelo time rebaixado que recebeu mala branca, pelo desfalque de atletas contundidos, pela perda do mando de jogo… enfim, pelas coisas de sempre!
Cá entre nós: é exclusivamente na última rodada que se perde um campeonato? Os 3 pontos obtidos na Rodada 38 valem a mesma coisa do que os 3 pontos da Rodada 01.
Matematicamente é assim que funciona. Psicologicamente, não. O momento da vitória e da derrota é relevante. Analise: se você engata uma série de vitórias nas rodadas iniciais e depois vai perdendo a liderança e o embalo, tanto atletas, dirigentes e torcedores desanimam. Se essa seqüência é nas rodadas finais, cria-se um clima favorável e motivacionalmente importante; anima-se na luta pelo título! Assim é com os erros de arbitragem: árbitro errar no primeiro minuto dá tempo para o prejudicado se recuperar; errar nos minutos finais dificilmente há recuperação. É claro que isso também é relativo, pois se uma equipe fraca faz 1X0 e se fecha com 11 na defesa, o jogo muitas vezes acabou, por melhor que seja o adversário!
Mas o mote principal deste texto é a grita geral sobre os erros de arbitragens, baseado nas acusações feitas pelo dirigente cruzeirense Zezé Perrela na penúltima rodada. Os dias se passaram, as ofensas perduraram, e nada provou-se.
Mas… sem querer ser corporativista (ou anti-corporativista), será que os árbitros de futebol são imaculados?
Nesta última semana, um aluno da faculdade que leciono me fez a seguinte pergunta, que compartilho o raciocínio com vocês:
– Se os times tem 11 jogadores titulares, mais os reservas e a Comissão Técnica, não é muito mais fácil enviar as malas (branca, preta, rosa, o que seja) para os árbitros? São em menor número, custaria menos e eles já estariam acostumados a ser apedrejados por muitos.
O que eu poderia responder a ele?
O trivial: em todas as categorias existem os “picaretas” que se sujeitam à corrupção. Seria diferente com os árbitros? Somos todos incorruptíveis?
A diferença é a fiscalização das atitudes. Todo mundo policia o árbitro, ele tem que ser santo e parecer ser santo. Não dá para ser visto em boate nem abraçado com dirigente ou atleta. A vida dentro e fora de campo deve ser impecável. O jogador quando erra tem o apoio de uma massa de torcedores, do clube e dos dirigentes. Árbitro, quando erra, fica só com a família ao seu lado. Veja o caso mais recente: a CBF defendeu publicamente Sandro Meira Ricci? Houve algum comunicado oficial?
Não.
Que ele se vire, infelizmente.
Cartolas e Aproveitadores sabem a quem procurar. Lembra da Máfia do Apito? Quando um dos envolvidos, o tal de Gibão, sugeriu a aproximação dos envolvidos com o árbitro Paulo César de Oliveira, foi repreendido por Edilson Pereira de Carvalho: “Nesse não dá; ele conta tudo e quebra o esquema”. Quer mais lisonjeio do que esse? Lembrando: a frase fazia parte das escutas telefônicas.
Assim, fica nítido que se há árbitro corrupto, obrigatoriamente existirá um corruptor por trás, pois, sozinho, o “erro mal intencionado” seria desproposital.
No futebol profissional, se há tentativas, elas têm que ser bem feitas. Os casos em que o árbitro é vendido (e não sabe que foi) são inúmeros! O que tem de dirigente que dá dinheiro para intermediário garantir o placar… e tem tonto que entra! Agora, algo importante: se há má fé, não é com pênalti claro no último segundo que se pratica o golpe. É picando o jogo, invertendo faltas, aplicando cartões, irritando atletas… nas pequenas coisas para que se confunda “ruindade” com “desonestidade”.
Passei por uma única situação como esta, e foi no futebol amador. Na favela do Parque São Jorge, num Campeonato em Campinas, em um clássico da periferia. Estava lá eu escalado, todo pimpão no vestiário. Ainda novato. Entra um dirigente com um engradado de cerveja (24 garrafas de 600 ml), dizendo: “Essa aqui é pra vocês, porque a gente tem que ganhar, e tem mais dessas depois do jogo. Só que vocês precisam fazer a sua parte.” Na época eu era iniciante… quís dar uma crescida em cima do homem e respondi de maneira brava, incisiva, soltando alguns palavrões e dando uma de valentão! Pobre de mim… Naquele verdadeiro “buraco do piolho”, miolo de favela, o dirigente apenas ouvia minha fala sorrindo. Parecia sentir prazer! Ao terminar a ‘degustação’ do meu discurso moralista, levantou a camisa e com o mesmo sorriso mostrou a sua arma dizendo: “a cerveja tá aí. Mas se fizer m…, mudamos de tom!”
Sabem o que eu fiz? Dei um W.O. na partida. Na primeira deixa, uniformizado e com os bandeiras a tiracolo, todos nós fugimos como ratos que abandonam o barco antes do jogo! Os times e a torcida devem estar nos esperando até agora…
Claro que no futebol profissional a coisa é diferente. Ninguém ofereceria caixas de cerveja. Mas… e favores políticos? E promessas de ascensão através de interferência com outros pares? Aí recordo do meu aluno: 3 é menos do que 11…
Num campeonato como o Brasileirão da série A, duvido de esquema e de não-integridade dos árbitros. Sei perfeitamente de todas as dificuldades e percalços que diariamente passam. São normalmente bodes-expiatórios de dirigentes que não aceitam o fracasso de seus clubes e a superioridade dos adversários. Mas seria ingênuo dizer que ser árbitro é uma condição sine qua non para se entrar no Céu…
E você, o que pensa disso? Deixe seu comentário para o tema: A Honestidade dos Árbitros de Futebol.