Se você não conhece Chaim Zaher, é melhor ler sua história: ele pode ser o homem mais rico do négocio de “Ensino Privado” no país. Um ex-franqueado do Colégio Objetivo, que almeja em pouco tempo ter 1 milhão de alunos estudando nos COC’s.
Matéria interessante, extraída da IstoÉDinheiro, ed 614 de 15/07/09, pg 54-58 (por Leonardo Attuch).
A FÓRMULA SECRETA DO BILIONÁRIO DA EDUCAÇÃO
De porteiro de escola a dono de rede de ensino
Corria o mês de outubro de 2007, quando o empresário Chaim Zaher, à época dono de uma promissora rede de ensino particular no interior de São Paulo, se viu diante de uma encruzilhada. Ele estava pronto para lançar ações na Bovespa, mas os banqueiros que o assessoravam trouxeram uma péssima notícia.
O preço de lançamento dos papéis não seria de R$ 40, como havia sido planejado, mas de no máximo R$ 33, em razão da crise imobiliária americana, que já causava os primeiros estragos. Chaim quase desistiu, mas antes ligou para o economista Paulo Guedes, um velho amigo e também fundador do Banco Pactual. Eis o diálogo:Zaher ouviu o conselho e convidou o economista para um encontro com sua família em Ribeirão Preto. Todos, a começar pela esposa Adriana, teriam de ser convencidos.
O jantar começou pouco antes da meia-noite e foi até às 3h do dia seguinte. Tomada a decisão, o SEB -, Sistema Educacional Brasileiro foi para o IPO – um dos últimos antes da tempestade global – e levantou R$ 400 milhões. “Foi a decisão mais acertada que tomamos”, disse Zaher à DINHEIRO (leia sua entrevista à página 58). “Para acabar com aquela indecisão de ‘pulo ou não pulo´, colocamos uma asa-delta nas costas dele e o empurramos morro abaixo”, brinca Guedes.
Com o dinheiro levantado no IPO, Zaher colocou em marcha a maior máquina de aquisições do setor educacional brasileiro. Em dois anos, ele investiu quase R$ 200 milhões em 12 operações e triplicou de tamanho – a mais recente foi a compra, na semana passada, da tradicional rede Pueri Domus, de São Paulo, por R$ 41 milhões.
Com quase 500 mil alunos, o SEB detém a marca COC, líder no interior paulista, e outras renomadas, como o Dom Bosco, no Paraná, e o Inei, em Brasília. Ao todo, tem valor de mercado de R$ 604 milhões e deve fechar 2009 com receita próxima a R$ 450 milhões. Como tudo isso aconteceu? “Maktub”, responde Zaher. De acordo com a sabedoria árabe, já estava escrito. Só isso.
O maktub esteve presente em vários momentos da vida deste empresário que nasceu em Beirute, no Líbano, e que, com apenas seis anos, veio para o Brasil. Sua família pousou em Araçatuba e, ainda menino, Zaher começou a ajudar o pai, Zein Zaher, no trabalho como mascate.
Aos 18 anos, quando o velho Zein se instalou em Pereira Barreto, Zaher decidiu voltar para Araçatuba, onde arrumou um emprego num cursinho local, chamado Prever. Foi porteiro, bedel de alunos e vendedor de matrículas. Em pouco tempo, já entendia como funcionava a gestão de uma escola, enquanto, nas horas vagas, trabalhava como rádio-ator e colunista social.
E, lá pelos idos de 1972, ele enxergou uma ameaça: a chegada de cursinhos da capital paulista, como Anglo e Objetivo, que invadiam o interior. Foi então que ele decidiu sugerir ao patrão, o empresário Waldir Suliani, que buscasse um parceiro.Resultado: acabou demitido. “Em vez de cair em depressão, percebi que havia conquistado minha liberdade”, diz Zaher.
Seus primeiros parceiros foram os professores do Colégio Equipe de São Paulo, que também estavam criando um cursinho. Mas Zaher já enxergava o Objetivo, do empresário João Carlos Di Genio, como o grupo mais profissional do setor. E, em 1976, ele conseguiu agendar uma reunião com o professor Jorge Bryhi, braço direito de Di Genio, não sem antes realizar uma pequena peripécia.
Depois de esperar horas por uma audiência, ele decidiu se trancar no banheiro de uma escola, onde dormiu até o dia seguinte. E quando Bryhi voltou ao Objetivo, Zaher já estava lá esperando por ele. Na mesma hora, tornou-se franqueado da rede. A atitude foi tão inusitada que o próprio Di Genio quis conhecê-lo. E quando Zaher soube que o dono do Objetivo era também da região de Araçatuba, os dois se tornaram amigos – Di Genio foi até seu padrinho de casamento. No Natal de 1984, após ter trabalhado quatro anos como franqueado do Objetivo, Zaher recebeu uma ligação do amigo Di Genio:
– Você quer mesmo uma oportunidade para crescer e sair de Araçatuba? Venha para Ribeirão Preto e ficaremos meio a meio na escola – disse Di Genio.
– Aceito, respondeu Zaher.
Assim que desligou o telefone, Zaher, aquele mesmo personagem que havia dormido num banheiro para conseguir sua primeira audiência no Objetivo, começou a fazer as malas para se mudar para a “cidade grande”. Desta vez, como sócio.
À época, o grande concorrente do grupo de Di Genio era o COC, um cursinho criado por professores de medicina que ia de vento em popa. A tal ponto que era capaz de fretar um jatinho para trazer em primeira mão as listas de aprovados na Fuvest, num tempo em que ainda não existia internet.
E mais uma vez Zaher executou uma pequena proeza. Alugou um helicóptero, pousou nas proximidades da Universidade de São Paulo e chegou em Ribeirão Preto mais cedo do que os concorrentes, que tinham de tomar um avião em Congonhas. Com o tempo, o pêndulo virou em favor do Objetivo. A tal ponto que o próprio COC foi colocado à venda, em 1986.
E foi Zaher quem apareceu para comprá-lo, num negócio que o afastou do antigo mentor. “Aprendi tudo com o Di Genio, mas precisava seguir meu próprio caminho.”
De lá para cá, o COC, que virou parte integrante do SEB, decolou. É o maior grupo de ensino médio do País, com mais alunos do que o próprio Objetivo. Uma das razões é a aliança desenvolvida com escolas públicas.
Várias prefeituras do interior tornaram-se parceiras de Zaher ao adotar o método de educação conhecido como Name, Núcleo de Apoio à Municipalização do Ensino. Desenvolvido pelos professores do COC, ele tem melhorado drasticamente os indicadores da educação pública.
Os alunos das escolas públicas de Adolfo, uma pequena cidade de 3,9 mil habitantes no interior paulista, ficaram em primeiro lugar na avaliação do Ideb, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, criado pelo MEC. E as prefeituras pagam cerca de R$ 160/ano por aluno para ter acesso ao material didático do COC – hoje, mais de 100 mil alunos da rede pública estão integrados a esse sistema de ensino.
“Além de rei do ensino médio privado, o Chaim também tem a chave para melhorar rapidamente os indicadores do setor público”, diz o economista Guedes. O sonho do dono do SEB é chegar a um milhão de alunos. E os especialistas do setor dizem que isso é plenamente viável. “A educação ainda é extremamente pulverizada e o processo de consolidação está apenas começando”, diz Ryon Braga, da Hoper Consultora, especializada em educação.
As sócias do Pueri Domus tomaram a decisão de vender a escola, com mais de 40 mil alunos, ao perceberem a tendência de concentração do setor. “Constatamos que se não fizéssemos parte de um grande grupo econômico, não conseguiríamos concorrer no mercado”, disse a diretora Fernanda Simeoni, filha da fundadora Beth Zocchio, ao jornal Valor Econômico.
Outra grande avenida de crescimento é o setor público e Zaher tem conversado com o ministro da Educação, Fernando Haddad, para convencê-lo da necessidade de se criar um Prouni para o ensino médio – em vez de comprar vagas apenas em universidades, o governo bancaria bolsas de estudos de alunos carentes em escolas privadas.
Outra grande aposta de Zaher é a educação a distância, que já responde por 13% das receitas do grupo, que também atua no ensino superior. Para isso, o SEB investiu fortemente em tecnologia. Além de aulas interativas, que podem ser transmitidas para mais de 150 cidades ao mesmo tempo, as escolas estão implantando lousas eletrônicas, com duas telas simultâneas.
Se um professor ou palestrante estiver transmitindo sua aula, os alunos poderão encaminhar perguntas instantaneamente. “Educação hoje combina conteúdo e tecnologia”, diz Tadeu Terra, diretor de material digital e editorial do COC. E, como os investimentos são altos, os ganhos de escala são fundamentais. No processo de crescimento de suas escolas, Zaher recorreu frequentemente a outras peripécias. Uma delas foi o marketing de emboscada.
Na Copa de 1998, na França, ele conheceu um torcedor que sempre era flagrado pelas câmeras da Globo com uma grande faixa do Corinthians. Zaher então o convenceu a abrir também uma faixa do COC. Assim, sua marca apareceu espontaneamente em vários jogos da Copa de 2002 e em muitos outros dos campeonatos brasileiros. Certa vez, o torcedor foi surpreendido por um policial, mas se saiu com maestria. Disse que COC significava “Comissão Organizadora do Corinthians”. Foi por essas e outras que o grupo se tornou o maior do País em educação privada. Maktub, como diriam os árabes.