E o treinador Tite disse que encerrou as negociações com o Corinthians pois teve uma crise de ansiedade. Ele pausará a carreira para cuidar da saúde física e mental. Ótimo! Isso é necessário e não há de se ter vergonha ou esconder. Creia: muitas pessoas não admitem tal quadro e desdenham dessas questões, dizendo que “outrora ninguém tinha isso” ou simplesmente chamam de “frescura”.
O futebol atual é extremamente maléfico para a Saúde. Por mais que se diga que é “o preço de uma carreira de alta remuneração”, os desgastes físico e emocional têm sido desumanos.
Não condeno Tite, ao contrário, apoio tal inciativa e faço uma observação “cruel”: se ele (com todos os recursos financeiros e médicos à disposição) está passando por isso, imagine o cidadão comum, com contas a pagar e sem poder pausar a carreira profissional para se cuidar, pois os boletos chegam e as contas vencem…
Compartilho, abaixo, um texto de 2 anos, onde se fala de outros casos de Desequilíbrio e Outras Doenças Sociais no Futebol (extraído de: https://sampi.net.br/jundiai/noticias/2813166/opinioes/2024/01/saude-mental-no-futebol).
SAÚDE MENTAL NO FUTEBOL, de 31/01.2024.
A pressão entre os atores do mundo do futebol é enorme, mas há um silêncio muito grande sobre esse tema: o da saúde mental no esporte.
Em 2009, o goleiro alemão Robert Enke se matou atirando-se em uma linha de trem. Dois anos depois, o árbitro iraniano Babak Rafati, cansado da pressão do meio, tentou o suicídio cortando os pulsos. Mais recentemente, o ex-atacante Nilmar (Inter-RS e Corinthians) disse ter sofrido depressão e pensou em se matar.
Vários atletas de outras modalidades encerraram precocemente a carreira por conta da pressão por resultados, e isso decorre pelo fato de que o esporte de alto rendimento, no fundo, não é algo saudável. O exagero no desempenho do corpo, a carga enorme de treinamentos, a maratona de partidas e disputas, por fim, esgotam fisicamente a pessoa. E se o atleta não tiver um condicionamento emocional adequado, sucumbe.
Muricy Ramalho, treinador, abandonou a carreira depois dos problemas de saúde, fruto da sua atividade. O AVC de Ricardo Gomes, ocorrido ao vivo num jogo do Brasileirão, credita-se ao stress. E aí somos obrigados a refletir: por mais que se possa dizer que grandes técnicos ganham muito dinheiro, e que isso é a sua compensação pelos percalços e cobrança que passam, a Saúde Mental fala muitas vezes mais alto. Às vezes, nem fala: grita!
Jürgen Klopp, treinador do Liverpool, considerado um profissional atencioso e sempre divertido, demonstrou na Premiere League um comportamento diferente, perdendo a cabeça e se enervando desnecessariamente. E nessa última semana, Klopp anunciou que fará uma pausa na carreira. Será que voltará quando?
Pense: quantos outros treinadores não gostariam de fazer a mesma coisa? Abel Ferreira, treinador do Palmeiras, falou abertamente: “ganhei tanto dinheiro e não consigo gastá-lo, não consegui passear ainda na cidade de São Paulo”. Mano Menezes, do Corinthians, jogo a jogo vem demonstrando sinais de estafa com as derrotas do seu time e com as trapalhadas da sua diretoria.
Imagine, agora, os seguintes problemas: um jogador sofre pressão da torcida nas arquibancadas, não recebe o seu salário em dia, não pode sair para passear em shopping ou restaurante quando o clube perde, além da sua cobrança interior. Se não tiver ajuda psicológica, adoece. De que adiantou todo o dinheiro conquistado, se a qualidade de vida (e até a liberdade cotidiana) se esvazia?
Há um fator que potencializa ao extremo isso: as Redes Sociais. No Twitter (ou melhor, no atual “X”), torcedores entram nos perfis dos boleiros e ofendem com as maiores barbaridades possíveis. O assédio moral é violento e não há muito o que fazer: ou o profissional abandona a Internet ou ignora as críticas.
Um exemplo para comparação: Tom Holland, o jovem ator que interpretou “Homem Aranha” nos cinemas, anunciou que saiu das Redes Sociais para preservar a saúde mental. E considere: ele tem um staff enorme, acompanhamento terapêutico, é rico, e seu trabalho é elogiado. E ainda assim não aguentou. Imagine um atleta de futebol, que mexe paixões contrárias e a favor.
Fica o alerta para a FIFA, além das entidades locais, como a CBF: façamos campanhas de prevenção ao equilíbrio emocional e à saúde mental, antes que algo mais grave possa acontecer.
