De novo um lance de possível pênalti de movimento antinatural das mãos / braços na bola no Brasileirão. Agora, em Grêmio x Flamengo. Aqui no Brasil, “bateu, marcou”. E quando não se marca, se estranha a não-marcação.
Tudo o que você precisa saber sobre “como surgiu a confusão de mão na bola / bola na mão em nosso país”, você pode clicar nesse link, onde explico o surgimento dessa mudança: https://pergunteaoarbitro.wordpress.com/2019/08/09/o-que-mudou-ou-nao-na-regra-da-mao-na-bola/
A regra diz:
“Tocar na bola com sua mão ou seu braço quando estes ampliarem o corpo do jogador de maneira antinatural: considera-se que um jogador amplia seu corpo de forma antinatural quando a posição de sua mão ou seu braço não for consequência do movimento do corpo nessa ação específica ou não puder ser justificada por esse movimento. Ao colocar a mão ou o braço nessa posição, o jogador assume o risco de que a bola acerte essa parte de seu corpo e de que isso constitua uma infração.”
Existe uma orientação (não é regra, é dica para se avaliar a marcação de uma infração por movimento antinatural) de que: se a bola desviar numa parte do corpo, e na sequência no braço, não se deve marcar infração pela rapidez do lance. É uma situação acidental, não de movimento antinatural.
Porém, além da regra (e da orientação), existe o espírito da regra, que é o que dá a subjetividade das interpretações. Para isso, reflita: Gerson poderia evitar o contato com o braço com um possível toque na barriga? E se não existisse o toque na barriga?
Há um grande detalhe nesse lance: repare que Gerson está correndo com os braços para trás, demonstrando que ele quer evitar o contato com a bola. Mas quando a bola está indo em sua direção, ele abre os braços de maneira antinatural na corrida, ampliando o seu espaço (ele deveria ter feito exatamente o contrário). O flamenguista deixa de demonstrar que não quer tirar a vantagem, e abre os braços desnecessariamente (não é um movimento natural, mas antinatural). Se bate na barriga (ou não bate), torna-se irrelevante por essa situação: ele abriu os braços quando não deveria. É bem diferente de uma situação (e a orientação da regra se refere a isso) de uma jogada onde a bola bate no joelho, desvia e atinge o braço. Ali (eu não estou convencido do desvio e marcaria pênalti), tocar ou não na barriga não modificou em nada a questão do “abrir o braço no momento errado, de maneira antinatural”.

