– SAF é certeza de sucesso? Nem sempre…

César Grafietti é um dos maiores especialistas em “Economia e Finanças no Futebol” do Brasil. Analista de risco e consultor, ele escreveu sobre as SAFs e os investidores endinheirados “Faria Laimers” que entram no Futebol como Negócio, além de fazer uma excelente observação: há SAFs boas e há SAFs ruins, sendo que “ser SAF” não quer dizer que você é competente.
Desde meu Mestrado, quando escrevi sobre Gestão Profissional no Futebol, digo: “ter competência financeira não significa necessariamente ter competência administrativa”. Trocando em miúdos: ter dinheiro não quer dizer que você sabe gerir o futebol.
Há torcedores que não se importam com os balanços dos seus times. A eles, mais aficcionados, “eu quero título e as contas que se explodam!”. Pobres ingênuos… não sabem que é justamente isso que mata os clubes e impede a sua sobrevivência campeonato a campeonato.
Vale a pena ler o texto do Grafietti, extraído de seu LinkedIn: 
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ENTRE A FARIA LIMA E OS ESTÁDIOS: A RELAÇÃO ENTRE FUTEBOL E MERCADO FINANCEIRO.

Há algum tempo venho falando que sempre que o mercado de capitais se aproxima de algum setor é sinal de que a organização está se aproximando. Há uns 5 anos eram poucos na Faria Lima que estavam dispostos a sujar os sapatos com terra explorar o mundo agro. Desde então o que vimos foi evoluções importantes em termos de organização, transparência, capacitação por parte dos produtores, e capacidade de compreensão dos riscos e oportunidades do setor por parte de quem fica atrás das planilhas.

Desde a lei das SAFs – Sociedades Anônimas do Futebol – temos visto mudança relevante na visão que o mercado financeiro tem em relação ao futebol. Setor ainda de difícil compreensão – ainda que tenhamos 200 milhões de treinadores no país – mas em fase de ruptura com o modelo amador de controle e gestão.

Já estamos no 3º ano de SAFs, e vimos alguns clubes ganharem donos – tem até quem já trocou de dono ou está em fase de trocar – bons projetos, projetos ruins. Começamos a entender que o futebol, que só entre os clubes da Série A do Campeonato Brasileiro movimenta mais de R$ 8 bilhões em receitas e tem dívidas de mais de R$ 11 bilhões, pode apresentar ativos interessantes sob o ponto de vista de retorno e oportunidades de negócios.

Se é verdade que no caso do Vasco da Gama o primeiro controlador da SAF (777 Partners) fez água, no Cruzeiro o Ronaldo Fenômeno já lucrou após reestruturar um ativo que estava prestes a cair no ostracismo esportivo, mesmo com uma história rica em conquistas. A Treecorp apresenta bons resultados nas ações fora de campo, mas ainda sofre na gestão esportiva do Coritiba – fazer futebol fora de campo é mais fácil do que conseguir construir uma estrutura vencedora dentro dele – enquanto John Textor criou um modelo de negócios arriscado, mas que tem apresentado resultados esportivos positivos.

O futebol na era das SAFs tem de tudo um pouco. Até bilionários que se comportam como mecenas, e associações que se comportam como corporações, cuidadosas nos investimentos e controle da condição econômico-financeira. Tudo fruto de uma mudança de mindset, através da qual a sustentabilidade dos clubes no longo prazo é função de gestões eficientes, e não do abnegado perdulário.

Por isso o mercado de capitais passou a olhar o futebol de maneira mais atenta. Não só com as SAFs, mas através de operações antes inimagináveis. O FUDC do São Paulo FC capitaneado pela Galapagos e Outfield, as debêntures-fut do Atlético-MG, a investida de fundos sobre a Portuguesa, com um olhar esportivo, mas essencialmente de exploração dos ativos imobiliários.

Alternativas que só um mercado atento é capaz de encontrar, mesmo que o futebol siga sendo uma indústria que sofre de preconceitos. Não é fácil depender de casas de aposta para fechar as contas, nem ver o nome “futebol” envolvido em ações da Polícia Federal. Processos de amadurecimento costumam doer e demandam esforço para ultrapassar barreiras. O mercado de capitais precisa entender a dinâmica do futebol, e encontrar o trigo no meio do joio, mas cabe ao futebol romper com um passado pouco transparente e de comportamentos nada republicanos se quiser realmente deixar a várzea – no sentido amador do termo – e se transformar num negócio de mais bilhões de reais.

O caminho está sendo pavimentado. Há interesse de todos os lados. Basta que as partes se adaptem e, quem sabe, ao lado dos festivais sertanejos teremos na Faria Lima telões acompanhando os nossos times do coração.

Meu acréscimo: investir em Flamengo, Palmeiras e outros grandes clubes com potencial de mercado e torcida nacional, há retorno, se os gastos forem inteligentes. Investir em quem não tem potencial de retorno coerente com o que se vai investir, aí é incompreensível…

Meu acréscimo, parte 2: John Textor ganha títulos, investindo como um Mecenas. Mas quando ele terá retorno financeiro do que já gastou?

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