Brincamos antes do jogo do Maracanã que, se Renato Gaúcho quisesse classificar sua equipe, teria que orientar seus atletas para que chutassem a bola na mão dos zagueiros flamenguistas; afinal, tal ironia tem fundamento: no Brasil, diferente do restante do mundo, qualquer toque no braço vira “movimento antinatural” e se é marcado pênalti. Bráulio, por exemplo, foi o mesmo que marcou rodadas atrás no Morumbi uma bola espirrada, a queima-roupa num são-paulino, pênalti ao Internacional. Um desrespeito às Regras do Jogo!
Enfim: os gremistas reclamam da marcação de um pênalti ao Flamengo na bola que bateu na mão de Rodrigo Ely. Têm razão ou não?
Entenda: aos 68′, é cobrado um escanteio para o Flamengo e Leo Pereira (FLA) pula junto com Rodrigo Ely (GRE). O goleiro Gabriel Grando defendeu e o jogo seguiu. Depois o VAR avisa o árbitro da revisão, e após 3 minutos de análise, marcou-se o tiro penal.
Quem conhece o texto, sabe de todas as nuances. Mas para o leitor, vale usar os termos mais didáticos, claros, sem a tecnicidade ou frescuras literárias. Sendo assim:
– Primeiro, se avalia INTENÇÃO. E vem a pergunta: Rodrigo Ely quís tocar a mão na bola intencionalmente? E claramente não foi isso.
– Segundo, se avalia MOVIMENTO ANTINATURAL. Para isso, esqueça os mitos populares como “desviou a trajetória da bola”, “evitou o domínio” ou “ía direto para o gol”. Isso não existe na Regra, e pode confundir na avaliação do que é natural ou antinatural. O que existe é: tirou proveito por ampliar o espaço?
Só que aqui reside a confusão: esse “tirou proveito pela ampliação do espaço” tem que ser pelo movimento antinatural, e não pelo natural! Ou seja: se a bola bateu na mão dele, estando os braços em um salto com movimento natural, não é infração. Se saltou com os braços em movimento fisiológico antinatural, aí é infração.
Pelas imagens que pude ver pela TV Globo, nos ângulos da emissora, eu não marcaria. Primeiro, foi sem intenção; segundo, foi movimento natural, pois Leo Pereira cabeceia a bola que bate imediatamente na mão do jogador que saltava. Repare que ambos saltam e ambos têm o braço naturalmente aberto pelo impulso. Não há tempo hábil para “desaparecer” aquela mão, pois a proximidade é grande.
Recordemos de Massimo Bussaca, chefe da arbitragem da FIFA, em 2014, numa entrevista ao Estadão, dizendo sobre esses lances brasileiros:
“Um jogador precisa de sua mão e de seu braço p/ correr, se equilibrar e saltar. Não se pode jogar sem a mão. O árbitro precisa fazer a leitura correta do lance. Não se pode dar falta a qualquer toque na mão. Isso é um absurdo.”
Como se vê, parece que quem orienta ou apita, não entende o futebol e sua dinâmica em si, pois a leitura dos lances é péssima. Alguns, eu diria, são “Analfabetos do Espírito do Jogo”, além de entenderem equivocadamente os textos da Regra.
Aqui, existe uma observação importante: quando o VAR chama, os árbitros têm medo de contrariar a decisão dos seus colegas (que são assistentes, tem o mesmo peso que os bandeirinhas, mas estão sentados em frente a uma TV). Eles transferem a responsabilidade para a cabine, com o argumento de que estão mais frios, descansados e com imagens. E isso é uma constante no Brasil: o árbitro central só se entende como autoridade máxima quando lhe convém. E mudam de opinião muito fácil – embora, exista todo aquele ritual na frente do monitor, criando suspense e ostentando os patrocinadores…
Se o leitor argumentar que viu vários lances desses que são marcados, saiba: foram equivocados.
Em tempo: imagino que, por mais que esse pênalti não fosse marcado (não deveria), seria difícil reverter o placar. Pela bola jogada, o jogo foi decidido em Porto Alegre, no primeiro tempo em que o Flamengo jogou muito e o Grêmio não jogou nada.

Arte extraída de Terra.com.br
