Me recordo que em 1998, Zagallo foi pressionado para convocar Sony Anderson para a Seleção Brasileira, artilheiro do Campeonato Francês e ilustre desconhecido para os brasileiros. Anderson saiu do XV de Jaú para o Vasco e antes do profissionalismo foi para a França.
Naquela oportunidade, se questionava sobre o fato de um jogador brasileiro que fez carreira no Estrangeiro antes de explodir no Brasil merecer a Amarelinha. Em geral, se esnobava dizendo que “como ele, tínhamos vários”.
Aí surgiu o tal de Alex Afonso, matador do Campeonato Holandês, anônimo no Brasil e convocado por Dunga. Não deu em nada…
Na sequência, de Campina Grande para o mundo, Hulk, goleador português descoberto por Mano Menezes e que até hoje figura na seleção Brasileira. Transferido para o Zenit da Rússia, continua fazendo gols. Mas até ser convocado, era uma grande dúvida.
Recentemente tivemos o episódio “Diego Costa”, que vem fazendo sucesso na Espanha e defenderá a Fúria, alegando que sua vida profissional se deu toda por lá e jogar pela Seleção Espanhola seria mais coerente.
Enfim, teremos que nos acostumar com os jogadores nascidos no Brasil e que surgem às centenas (centenas sim, não às dezenas) no Velho Continente. O menino vai embora cedo do país, acaba atuando nas categorias de bases das equipes européias e quando surge no estrelato, questionamos por qual clube brasileiro jogou, já que ninguém nunca o viu, por pura ignorância nossa e por grande número de atletas exportados ainda na juventude.
É cada vez maior o número de atletas naturalizados nas Seleções, e, creio, um caminho sem volta. É a questão profissional: se jogou a vida inteira por um país, porquê não jogar por sua seleção local? Isso difere dos jogadores “contratados para naturalização”, e lembro do episódio do ex-jogador do Guarani, Aílton, que jogava no Borússia da Alemanha. Sempre esquecido pela Seleção Brasileira e fazendo sucesso na Europa, com 34 anos o centroavante foi convidado a se naturalizar catariano para a disputa das Eliminatórias Asiáticas. A FIFA proibiu, alegando que não existia nenhum vínculo do brasileiro com o Catar para permitir uma convocação.
Hoje, países ricos agem diferente: levam jovens pobres para estudarem e jogar futebol em sua terra, naturalizam-os e depois os convocam para a Seleção Principal. É uma estratégia arriscada, mas funcional (e cara).
Fico pensando: isso só se resolveria se a FIFA obrigasse as Seleções a convocarem jogadores natos do país (ao invés de naturalizados). Mas, cá entre nós, seria injusto.
Desse jeito, acostumemo-nos com os jogadores “surpresas”, desconhecidos da maior parte do público, e que vingam lá fora pelo neocolonialismo futebolístico e financeiro do Século XXI, disputados pelas Seleções de onde nasceu e de onde joga.
Coitados dos treinadores: brigarão por jogadores que ainda não testaram mas que se destacam (como Diego Costa do Atlético de Madri – que já se definiu pela Espanha- ou Fernando do Porto – cortejado por Portugal). Perderemos também alguns craques, como Liédson e Deco. Mas que não nos confundamos ao inventarmos os anônimos, como Fábio Bilica e tantos outros (né Luxemburgo?).

