Quando adolescente, me lembro bem da figura de um rabino que falava engraçado. Era estrangeiro, mas sempre presente em assuntos importantes. Lutava pela paz entre as religiões com espírito ecumênico pleno. Trabalhou contra o fim da ditadura. Sempre inteligente e respeitado. Falo de Henry Sobel, um carismático e importante líder judeu.
Recordo-me também que um dia ele foi inacreditavelmente preso! Havia afanado uma gravata nos EUA! Coisa inimaginável…
E não é que a sua culpa parece ter sido eterna? Nunca mais o vi na mídia, e todos os seus méritos parecem ter sido esquecidos. Agora, leio essa matéria da Isto É em que ele é citado. Veja abaixo:
(Extraído de: http://www.istoe.com.br/colunas-e-blogs/coluna/311137_PERDOEM+A+NOSSA+FALHA)
PERDOEM A NOSSA FALHA
Uma importante liderança com trânsito livre nas altas rodas sociais e do poder erra num ato moralmente condenável. Nenhuma novidade. Ele assume o erro e pede perdão: fato inédito.
Qualquer pesquisa que seja feita hoje em torno do nome Henry Sobel trará invariavelmente, nas primeiras linhas, um episódio que ganhou enorme projeção em 2007. Uma das mais visíveis e proeminentes lideranças religiosas do País havia sido flagrada furtando uma gravata em uma loja num shopping center na Flórida. Sua participação na luta contra a ditadura militar, no movimento que exigia a volta das eleições diretas, na aproximação entre religiões e povos eternamente em conflito e até mesmo seu gosto pela vida social e pelo trânsito entre famílias abastadas e poderosas, tudo fica reduzido a algumas linhas na parte de baixo da tal pesquisa.
Pouco depois, Sobel chegou a pedir desculpas através das câmeras do “Jornal Nacional” e tratou do assunto em sua biografia lançada em 2008, mencionando inclusive um incidente semelhante que já teria ocorrido bem antes, em 1985. Na época, Sobel e seus advogados falaram em um problema de saúde e no uso de um medicamento para dormir chamado Rohypnol que o teria levado a cometer atos impensados. Hoje, seis anos depois do episódio, com o distanciamento que o tempo proporciona, Sobel escreveu, a convite da Trip, uma carta aberta pedindo perdão por seus erros. Uma atitude que imediatamente faz refletir e que, em boa medida, devolve ao seu autor a dignidade que o erro pode lhe ter retirado. A íntegra da carta é inédita e segue aqui com exclusividade para os leitores da coluna:
“O que há de tão significativo no perdão? Pensemos em nossa própria vida. Em primeiro lugar: é bom ser perdoado. Quando eu era menino, ser perdoado era uma necessidade diária. Sempre que eu cometia um erro, eu podia contar com a compreensão, a ternura, o perdão de meus pais. Eu me lembro da sensação… Um grande peso sendo tirado de meu coração; uma gostosa certeza de ser aceito; um laço inquebrável de amor. É bom ser perdoado.
Em segundo lugar: é bom perdoar. Quando cresci, foi a minha vez de conceder perdão aos meus pais pelos seus erros e fraquezas, reais ou imaginários. É um estágio natural no processo de amadurecimento compreender os nossos pais e perdoá-los por serem menos perfeitos do que gostaríamos. Eu me lembro da sensação… A crítica se abrandando, os ressentimentos se dissolvendo, a consciência do afeto libertando a alma. É bom perdoar.
Em terceiro lugar: é bom perdoar a si próprio. Quando me tornei rabino, eu era muito intolerante comigo mesmo. O autojulgamento era severo, e o sentimento de culpa, duradouro… Até que eu me conscientizei de que o rabino também é um ser humano e, portanto, falível. Eu sofri na pele as consequências de um erro cometido, em 2007, nos EUA, que é de conhecimento de todos. Até hoje eu trabalho internamente para compreender e aceitar o meu ato. Eu tento me perdoar; não é fácil.
Perdoar não é esquecer. Se fosse, não haveria mérito algum no perdão. Não: perdoar é reconhecer plenamente a falta cometida, analisar cuidadosamente a situação, e desculpar conscientemente o culpado. Sem penalidades, sem jogar culpa, sem recriminações, sem reviver o passado, sem ares de superioridade. Perdoar é o ato de reconstruir o relacionamento original, uma tentativa de recuperar a inteireza inicial e a determinação de procurar um começo mais bem-sucedido.
É impossível sobreviver se as raças não perdoarem depois de tanta intolerância e preconceito. É impossível sobreviver se as religiões não perdoarem depois de tanto ódio e perseguição. É impossível sobreviver se as nações não perdoarem depois de tantas guerras e derramamento de sangue. Em toda parte, as pessoas têm que dizer umas às outras: Volte, eu te perdoo; eu te amo; vamos tentar novamente; não é tarde demais! Abraços, Henry I. Sobel. Rabino Emérito.”

