– A Polêmica do Opus Angelorum e o Papa Bento 16

 

Uma Congregação Católica, a Opus Angelorum, é olhada com cuidado pelo Vaticano. Motivo: a preocupação com exageros do rito devocional aos anjos.

 

Abaixo, extraído de: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI188984-15228,00-A+BATALHA+DOS+ANJOS+COM+O+PAPA.html

 

A BATALHA DOS ANJOS COM O PAPA

 

Por Humberto Maia Junior

 

Por que o crescimento do Opus Angelorum, ala da Igreja Católica inspirada nas “revelações” de uma religiosa austríaca, incomoda Bento XVI

 

Todos os dias, em qualquer lugar do mundo, os anjos protegem as pessoas, numa eterna guerra contra os demônios. A influência demoníaca pode estar presente em qualquer ser ou objeto – em galinhas, gatos pretos, cães de pelo curto, parteiras e certas plantas. Pelo menos é nisso que acreditam os membros de um grupo religioso chamado Opus Sanctorum Angelorum, ou Obra dos Santos Anjos, que tem seguidores em Portugal, nos Estados Unidos, na Áustria e no Brasil há pelo menos 30 anos. O Vaticano tem advertido aos adeptos da Obra por achar que se trata de uma seita dedicada a propagar ideias supersticiosas, incompatíveis com a doutrina católica. No início de novembro, o cardeal William Levada, atual prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que zela pela unidade de pensamento da Igreja Católica, divulgou uma carta em que condena a ala mais radical da Obra e chama a atenção para o fato de que sacerdotes ligados ao que seria o “autêntico Opus Angelorum” “professem e pratiquem tudo o que foi proibido”. A carta convida “a vigiar sobre tais atividades desagregadoras da comunhão eclesial, proibindo-as, quando aparecerem nas suas dioceses”.

No Brasil, a Obra dos Santos Anjos, ligada à Ordem de Santa Cruz, tem duas sedes. Uma ocupa o mosteiro Belém, em Guaratinguetá, no interior de São Paulo, numa área florida e arborizada aos pés da Serra da Mantiqueira. Entre os prédios baixos que formam o complexo circulam jovens de camiseta branca e crucifixo preto pendurado no peito, além de freiras e padres com batina negra. A outra sede fica em Anápolis, Goiás. Oficialmente, o objetivo da Obra é lembrar a importância dos anjos e da ajuda que eles podem oferecer. “Na doutrina da Igreja, os anjos ajudam as pessoas”, diz o padre Cido Pereira, da Pastoral da Comunicação da Arquidiocese de São Paulo. “E a proteção deles pode ser invocada.”

Em novembro de 2008, a Santa Sé aprovou o estatuto que regula a Obra dos Santos Anjos. De aparência inofensiva, ele afirma que a meta do Opus Angelorum é “a renovação da vida espiritual na Igreja com a ajuda dos Santos Anjos nas direções fundamentais da adoração, contemplação, expiação e missão”. No dia a dia dos padres ligados à Obra, a devoção aos anjos é mais explícita. “Para nós, o caminho da santidade pode ser atingido por meio dos anjos”, diz o padre Stanislaus, integrante da Obra dos Santos Anjos em Guaratinguetá.

Na origem das críticas do Vaticano a esse grupo, estão os escritos da católica austríaca Gabriele Bitterlich. Na década de 1940, dizendo-se sob inspiração de um anjo, ela redigiu textos que somam 80 mil páginas. Neles, descreve o mundo secreto dos anjos e demônios. As revelações de Gabriele foram reunidas no livro Kalendarium, que dá nome a cerca de 600 espíritos do bem – e do mal –, descreve suas funções e até vestimentas. Entre eles aparecem “são Gethuliel”, “santo Ophajim” e o “demônio Astaroth”.

As ideias de Gabriele se espalharam com o apoio do bispo de Innsbruck, na Áustria. O Opus Angelorum foi criado por católicos em 1961. A primeira advertência do Vaticano contra essas crenças data de 1983 – numa carta assinada pelo então cardeal Joseph Ratzinger, hoje papa Bento XVI. Era uma tentativa de limitar a difusão das ideias de Gabriele Bitterlich. A devoção, afirmava Ratzinger, deveria seguir a doutrina da Igreja, que reconhece nominalmente apenas os anjos Miguel, Rafael e Gabriel. Os seguidores da Obra dos Santos Anjos dizem ter acatado a recomendação do Vaticano. “Foi um processo de renúncia, mas seguimos a hierarquia da Igreja e abandonamos as teorias de irmã Bitterlich”, diz o padre Simon, superior do mosteiro Belém. Mas a admiração pela religiosa parece intacta. “Por meio da irmã Gabriele, Deus nos diz que devemos invocar o auxílio dos anjos”, afirma o padre Stanislaus.

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