– O Episódio Derradeiro da Blockbuster Chegou?

 

Imagine o cenário: uma empresa símbolo na virada do século, com 60.000 funcionários e que hoje possui apenas 2.400?

 

Trágico, não?

 

Pois é: a locadora de filmes Blockbuster foi vendida em meio a crise. De ícone mundial à empresa estagnada, a pergunta fica: sobreviverá?

 

No Brasil, ela era administrada pela família Moreira Sales (dona do Unibanco) e que vendeu sua participação às Lojas Americanas, que nunca pensaram na questão de locação de filmes, mas nos pontos estratégicos para implantar junto à elas suas lojas “Express”.

 

Extraído de: Revista Época, Ed 11/04/2011, pg 30.

 

O FIM DA ERA BLOCKBUSTER

 

Por Danilo Venticinque

 

Desde que a primeira loja da rede abriu as portas, em 1985, a Blockbuster foi um pesadelo para as locadoras de bairro. Com suas promoções agressivas e prateleiras repletas de lançamentos, a empresa americana dominou por duas décadas o mercado de locação de fitas de vídeo, games e, mais tarde, DVDs. Como outros gigantes do entretenimento off-line, porém, a Blockbuster perdeu boa parte de seu público na concorrência com a internet. Em setembro de 2010, depois do fechamento de milhares de lojas e pressionada por uma dívida de mais de US$ 1 bilhão, a empresa pediu concordata. Na última quarta-feira, após três dias de leilão, a empresa de televisão via satélite Dish Networks ofereceu pouco mais de US$ 320 milhões pelos direitos da marca e cerca de 1.700 lojas da rede. Caso a venda seja aprovada pela Justiça, o novo controlador deve enfrentar o desafio de reabilitar a empresa em crise – ou liquidar seu patrimônio.

O valor oferecido na compra é uma prova da decadência da Blockbuster. Em 2002, ela chegou a ser avaliada em US$ 5 bilhões. Em seu auge, empregava 60 mil pessoas em mais de 9 mil lojas. Hoje são apenas 2.400, e 700 deverão fechar ainda neste ano.

A crise da Blockbuster não significa que alugar filmes deixou de ser um bom negócio. Mas indica a falência de um modelo. Desde o surgimento da Netflix, em 1997, o consumidor passou a ter a opção de alugar filmes sem sair de casa. O serviço é simples: o cliente acessa o site da locadora, faz uma lista dos filmes que deseja ver e paga uma assinatura. Recebe os DVDs em casa e, depois de assistir aos filmes, devolve-os para receber os próximos da lista. O crescimento da empresa acompanhou a popularização da internet: em 2009, ela ultrapassou a marca dos 10 milhões de assinantes. Ao mesmo tempo, surgiram outros concorrentes para a Blockbuster, como a compra de filmes no sistema pay-per-view e os sites para download e streaming de vídeo. Ameaçada, a Blockbuster tentou imitar os concorrentes. Mas tombou por culpa de seus enormes gastos: para oferecer filmes pelo correio ou pela internet, nenhuma empresa precisa ter tantas lojas e funcionários.

No Brasil, com a concorrência da pirataria, a crise da Blockbuster chegou antes. Em janeiro de 2007, as Lojas Americanas compraram por R$ 186,2 milhões as 127 lojas e os direitos sobre a marca no país. Ao contrário do que ocorre no exterior, o número de lojas interessava mais que a marca: a aquisição fazia parte de um plano para aumentar a presença das Lojas Americanas no país.

As razões da compra da Blockbuster pela Dish parecem menos claras. Tom Cullen, vice-presidente da empresa, citou como motivos “a marca altamente reconhecível” e os “múltiplos métodos de entrega”. Especula-se que, com a estrutura mais enxuta e uma nova administração, a Blockbuster possa se reerguer e enfrentar a NetFlix e outros sites em seu próprio território. Mas, para que isso ocorra, muitas lojas ainda deverão fechar.

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