Um lance de difícil interpretação chamou a atenção na partida Americana X Santos neste domingo à noite. Aliás, lance onde o árbitro só pode tomar uma decisão correta se tiver pleno conhecimento em detalhes da Regra do Jogo e PRINCIPALMENTE sorte!
Vamos lá: esqueçamos os nomes e visualizemos apenas as equipes: Atacante do Americana avança para o ataque com a posse de bola. Há um companheiro seu a frente da linha da bola em posição de impedimento, mas não participando do lance (portanto, está em impedimento passivo). Na seqüência, o defensor do Santos tenta interceptar este mesmo adversário que tem a posse de bola. Eis que o atacante adianta a bola e ela bate no jogador santista que involuntariamente a lança para o adversário, que estava em impedimento passivo. Este faz o gol, que posteriormente é anulado.
Lance chato, hein?
É sabido que não há impedimento por bola lançada pelo adversário. Mas entendamos à luz da Regra do Jogo:
Regra 11 – Impedimento: “Um jogador em posição de impedimento somente será sancionado se, no momento em que a bola for tocada ou jogada por um dos seus companheiros, ele estiver, na opinião do árbitro, envolvido em jogo ativo interferindo no jogo, ou interferindo num adversário, ou ganhando vantagem por estar naquela posição (…) Exceto se receber tiro de meta, arremesso lateral ou tiro de canto”.
Se a bola fosse tocada por um jogador santista (tem o domínio de bola e toca para o atacante adversário), não é impedimento. Mas a bola veio de um domínio do adversário ou veio de uma disputa de bola? São situações diferentes.
Existe uma publicação da FIFA (é a chamada TRÍVIA-FIFA), com perguntas e respostas pertinentes do jogo. Na página 57, questão 238 desta publicação, há exatamente o lance de Americana X Santos. Abaixo:
– QUESTÃO: Um jogador em posição de impedimento recebe a bola rebatida por um adversário. Antes desse toque, a bola foi chutada por um companheiro de equipe. Qual será a decisão do árbitro?
– RESPOSTA: O árbitro marcará o impedimento. A partida será reiniciada com um tiro livre indireto.
Justificativa: Bola Rebatida é diferente de Bola Dominada. Imagine o lance em que um jogador cobra a falta com intuito de marcar um gol diretamente do seu chute (ele não queria lançar para nenhum companheiro) e esta bate na barreira e cai nos pés de um jogador que estava em impedimento passivo e nem esperava recebê-la. É o mesmo princípio.
Assim, entendamos:
– Se a bola foi tocada de atacante para atacante, logicamente é impedimento.
– Se o lateral santista chutou a bola para trás (dominou ou a interceptou) e ela foi ao atacante, é gol.
– Se a bola foi “prensada” e sobrou ao atacante, é impedimento.
– Se a bola foi adiantada pelo atacante, bateu no adversário (desviando ou por força da jogada fazendo o santista servir de “tabela”) e sobrou para o atleta que estava em impedimento passivo, é impedimento.
Como devemos sempre crer no mérito das pessoas, parabenizo a equipe de arbitragem por acertar em um lance tão difícil, rico em detalhes e, porque não, traiçoeiro para com o cotidiano do futebol.
Por fim, espero que o treinador Toninho Cecílio, iluminado pela Regra do Jogo e pelos princípios de cidadania e respeito, faça o seu mea culpa e pedido de desculpas na mesma proporção do que foram suas reclamações.
Será que o Sindicato dos Árbitros de Futebol do Estado de São Paulo tomará as medidas cabíveis e a Comissão de Árbitros da FPF indiciará o treinador? Afinal, por muito menos, Carpegiani foi citado no TJD-SP…
Ironia: as 18h publiquei um post (o primeiro anterior a este) a respeito de jogadores não conhecerem a Regra…

