… para que ela não seja esquecida!
Quando o Brasil foi escolhido como sede para a Copa do Mundo de 2014, ouvimos claramente do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, a seguinte frase afirmativa:
“Não haverá dinheiro público na Copa do Mundo”
Tudo bem. Alguns acreditaram. Mas estamos em 2011, e que tal algumas constatações:
– Algumas sedes da Copa nem tem licitação realizada: Natal, por exemplo. Quanto tempo levará para definir quem vai construir a Arena das Dunas e quanto tempo levará para começar a construção do estádio?
– Quando se permitirá, na prática (pois na teoria temos diversas datas) a construção do estádio do Corinthians, que deverá ser a sede paulista do torneio (segundo a vontade dos políticos locais)?
– Em que data começaremos a mexer nos nossos aeroportos? Eu moro próximo a uma das rotas de Viracopos, e à tarde, os Boeings e Airbus passam sobre nossas chácaras de 3 em 3 minutos exatamente. E assim ocorre em Cumbica e em Congonhas. Ninguém vai se mexer?
– As estações de metrô e hospitais prometidos em boa parte das localidades próximas às sedes já iniciaram sua construção? Os cronogramas estão em ordem?
Custa-me a crer que para resolver esses imbróglios e pendências a simples ação da iniciativa privada poderá ser providencial. Acreditar na viabilidade de alguns estádios parece ser o grande problema, já que se fossem lucrativos, haveria briga judicial para ganhar os contratos de tantos candidatos a operacionalizarem as obras.
É claro, lógico, evidente e cristalino de que o governo, em qualquer esfera (federal, estadual, municipal), colocará dinheiro na Copa do Mundo. Aliás, terá que colocar: para a mobilidade urbana, infraestrutura logística e saúde, é saudável e necessária a intervenção pública, pois, afinal, são obras que ficarão para a população e beneficiará a sociedade. Mas… e para os estádios? Colocar dinheiro do nosso bolso para elefantes brancos?
Ok, o “Itaquerão” não será uma obra ociosa porque, afinal, o Corinthians será o dono do estádio. Mas por que nós, contribuintes, temos que arcar com a conta? E o governo do RJ com o Maracanã? E os demais?
Há uma lei (que parece ter sido descoberta depois de estar empoeirada) que traz benefícios fiscais generosíssimos para a região de Itaquera. Tudo bem, a idéia é desenvolver a região. Mas os benefícios são voltados para quem? Para empresas associadas a FIFA? Para parceiros comerciais de grandes construtoras e lobbystas? Ora, é claro que a lei é anterior à decisão do estádio. Mas vai beneficiá-lo. Não deveria ser uma lei (para dizer que há moralidade na administração pública paulistana) exclusiva aos pequenos e médios empresários que desejem estabelecer-se por lá, ou para os já estabelecidos?
Dar dinheiro para quem já tem, facilitando pagar suas contas, é fácil. Boa lei é aquela que ajuda quem realmente precisa. Leciono as disciplinas “Administração de Pequenos e Médios Negócios” e “Empreendedorismo”, além de ter uma PME. Sei das dificuldades em se obter crédito barato. Crédito caro sobra na praça!
Será que o dono da pequena confecção, do comércio popular, do bar da esquina ou o borracheiro da quadra (todos de Itaquera) foram informados de que poderiam pagar metade do IPTU e aliviar em 60% o INSS? As Pequenas e Médias Empresas, segundo qualquer instituto de pesquisa ou ONG do setor, mostram que os grandes empregadores do Brasil são os pequenos e micro-empresários. Assim, fica a pergunta: o BNDES é tão generoso à eles quanto aos parceiros da FIFA?
Portanto, é demagogia dizer que não há dinheiro público na Copa do Mundo. Seja por linhas de crédito a juros baratos (que poderiam atender a outras significativas parcelas da sociedade), seja por renúncia fiscal (abatam os impostos da população em geral, já que sobra dinheiro) ou ainda por obras de infraestrutura que atendam a uma parcela pequena da população mas alguém em específico (a Arena de Recife é um ótimo exemplo dessa imbecil conta).
Deixar de dar linha de crédito com subsídios e carências aos sofredores microempresários e as dar para times de futebol e parceiros da FIFA: é esse o cenário. Tenha dó…
Aguardemos 2013, quando a coisa apertar. Aí a farra será mais absurda.
E você: sempre foi a favor de Copa do Mundo no Brasil ou está mudando sua opinião? Deixe seu comentário:
