Há tempos se faz necessária essa discussão, e talvez o momento adequado seja este.
Atualmente, os árbitros de futebol da FPF são acuados por um sistema covarde, de submissão à entidades ditas representativas e que na prática, nada os representa.
Converso regularmente com muitos amigos que continuam no quadro de arbitragem da FPF, e sempre ouço da maior parte deles a reclamação da relação “oficiosa” das entidades representativas.
Cito dois exemplos inacreditáveis:
Primeiro- A Ouvidoria da Arbitragem da FPF declarou que no jogo Corinthians X Noroeste, no Pacaembu, pela série A1, o árbitro prejudicou o time de Bauru não marcando dois pênaltis, e afirmando ainda que tal fato “pode ter interferido no resultado”. O ofício está disponível em:
http://www.futebolpaulista.com.br/arbitragem.php?sec=52&sub=117&cod=45374
Pois bem: apitou a partida o árbitro Flávio Rodrigues Guerra, que, por constrangimento ou por outros motivos, poderia discordar do ouvidor (Flávio Rodrigues Guerra continua apitando normalmente pelo Campeonato Paulista, apesar da situação vexatória de ‘incriminá-lo’ indiretamente pelos erros involuntários que poderiam ter favorecido o Corinthians). Se Guerra for à Cooperativa dos Árbitros, que é uma das entidades representativas da categoria, pedir ou reclamar do fato, ele acionará o presidente da Coafesp, Sr Silas Santana. Normal, caso o ouvidor que o acusa é… Sr Silas Santana, Ouvidor da Arbitragem da FPF!
Ué, quem acusa pode ser o mesmo que teoricamente deveria defender? A quem o árbitro reclamará?
Essa mesma Ouvidoria reconheceu um absurdo erro do árbitro Magno de Sousa Alves, na partida entre Paulista X São Bernardo. O time jundiaiense protestou e o ouvidor Silas Santana reconheceu o erro e pediu providências à CEAF, que o afastou. A quem Magno deverá reclamar? Ao presidente da Coafesp… Silas Santana!
Perceberam a incompatibilidade?
Há outra entidade representativa, o Safesp (Sindicato dos Árbitros). Seria representativa, caso o presidente da entidade, Sr Arthur Alves Jr, não fosse o mesmo integrante da Comissão de Árbitros da FPF, Sr Arthur Alves Jr.
Se um árbitro se sentir acuado pela CEAF ou desprestigiado, poderá reclamar ao seu Sindicato? Imagine a “cena-pastelão”, de um árbitro chegando na sala da presidência do Sindicato:: – Sr Arthur, presidente do Safesp, gostaria de reclamar do Sr Arthur, membro da FPF…
Desde janeiro/2011, a FPF passou a descontar 6% das taxas dos árbitros para a Cooperativa, sendo que 2% das mesmas são repassadas ao Sindicato. Ora, quer dizer que para apitar o árbitro precisa bancar a Cooperativa e o Sindicato, que de maneira anti-ética é dirigida pelos próprios membros da CEAF?
Assim, como muitos árbitros fazem para continuar apitando, são obrigados a se calarem e aceitar tal prostituição financeiro-esportiva. E muitos acabam escrevendo nos diversos fóruns com pseudônimos. Seja nesse humilde blog, no Blog do Fernando Sampaio ou nos outros que defendem a moral no esporte e que simplesmente são chacoteados pelos dirigentes, que incrivelmente ainda nos lêem.
Me recordo das reações pós-sorteios de árbitros feitos pela Rádio Jovem Pan (AM 620 SP), sempre irônicas de alguns dirigentes do apito, que viam com escracho a cobrança de sorteios não-dirigidos. Lembro-me da repercussão de um artigo escrito no blog do Wanderley Nogueira sobre as eleições do Safesp, onde árbitros gravaram depoimentos de apoio à candidatura única na entidade (A propósito, um dos garotos-propaganda é um iluminado ganhador de sorteios!). Lembro, ainda, das notas da Coluna De Prima, do jornalista Marcelo Damato no diário Lance!, expondo um encontro do mesmo com o Arthur onde disse que não acumularia funções. Por fim, recordo-me de uma matéria-denúncia da Folha de São Paulo sobre a obrigatoriedade da dupla sindicalização, imposta pela FPF, em brilhante trabalho do jornalista Ricardo Perrone, na qual o Ministério Público proibiu tal irregularidade.
Passado tanto tempo, os nomes continuam lá, e os árbitros continuam financiando duas instituições. E, acreditem, o aumento do valor das taxas, segundo essa mesma entidades, seu deu por “clamor dos árbitros”!
Alguém acredita que os árbitros pediram para ganhar menos por querem financiar Cooperativa do Ouvidor-FPF Silas e Sindicato do membro da CEAF-FPF Arthur?
O pior é que essas entidades são ditas “dos árbitros”. Pergunte o que cada árbitro pensa sobre isso e as respostas serão unânimes no aceite da situação. Preserve-o da identidade, e verá que ninguém concorda com isso.
Uma pena não termos árbitros para representar os próprios árbitros e que deixemos funcionários da FPF fazê-los por eles…
E você, o que pensa sobre isso: “patrões da FPF” podem representar os árbitros como sindicalistas dos mesmos? Deixe seu comentário:
Abaixo, o parecer final (último parágrafo) da carta do Ouvidor da FPF ao presidente do Noroeste, Damião Garcia:
O equivoco do árbitro na não marcação destes pênaltis pode ter interferido no resultado final do jogo.
Lamentando os equívocos cometidos pelo árbitro aproveito a oportunidade para renovar os votos da mais elevada estima e respeito.
Cópia será remetida à Comissão de Arbitragem para avaliação da conduta do árbitro.
Cordialmente,
Silas Santana
OUVIDOR DA ARBITRAGEM
Gostaria de saber se o árbitro Flávio Guerra acionou a Coafesp, do presidente Silas Santana, para defendê-lo do posicionamento tomado pelo Ouvidor da FPF, Silas Santana.
