Amigos, após a participação ousada e inusitada do quarto-árbitro Francisco Neto na partida entre Internacional X Santos (já publicado no blog quanto a sua oportuna ou inoportuna ação em: O MICO DO 4º. ÁRBITRO), surgiu uma polêmica muito grande: o que faz de verdade um quarto-árbitro? Até onde ele é importante? O árbitro precisa mesmo dele?
Vamos em 2 tópicos: na teoria e na prática
a) NA TEORIA
As Regras de Jogo regulam o trabalho do Quarto Árbitro. Embora ele não esteja entre as 17 regras (Regra 5 – o árbitro, Regra 6 – os árbitros assistentes), ele ganhou há anos um capítulo especial: O Quarto Árbitro. Há quase 2 anos, esse capítulo passou a se chamar: O Quarto Árbitro e o Árbitro Assistente Reserva. Há 4 meses, esse mesmo capítulo sofreu alterações e ganhou importância maior. Vamos lá:
– O quarto árbitro é o substituto imediato de qualquer um dos outros membros da equipe de arbitragem; exceto se existir um árbitro assistente reserva (o popular 5º. Árbitro); se este existir, torna-se substituo exclusivo do árbitro.
– Ele é o ajudante de todos os trabalhos administrativos do árbitro (confecção de súmula, relatórios, comunicações de penalidades, etc)
– Será responsável pelos procedimentos de substituições de atletas; é ele quem confere equipamentos e a permissão dos reservas para entrarem em campo, após sinalizar para o árbitro.
– O quarto-árbitro é responsável pelo controle da dinâmica de reposição de bolas (trocando em miúdos: se as bolas são repostas a contento, sem cera dos gandulas e se estão localizadas em pontos estratégicos).
– O MAIS IMPORTANTE: antes, o texto dizia que era função do quarto-árbitro indicar ao árbitro se adverte errado um jogador, se há confusão na distribuição dos cartões, se ocorre algum lance fora do campo visual do árbitro e dos árbitros assistentes, se há conduta indevida dos atletas substitutos e comissão técnica. Tal texto questionava a existência de limites ou não para o quarto árbitro. Entretanto, a partir de 01 de junho de 2010, após a reunião de 06 de março do mesmo ano, o texto passou a ser: ‘o quarto-árbitro ajudará o árbitro a dirigir o jogo conforme as Regras do Jogo. Entretanto, o árbitro mantém sua autoridade para decidir sobre qualquer fato relacionado ao jogo’. Essa modificação esclareceu que o quarto-árbitro pode informar o árbitro sobre toda e qualquer ocorrência, sem limites para isso; claro, com a decisão final cabendo ao árbitro (acatar ou não a informação).
b) NA PRÁTICA
Na prática, o quarto-árbitro é aquele que antes do jogo providencia a súmula e, muitas vezes, já entra em litígio com os treinadores (lembram-se de Corinthians X São Paulo, onde Mano Menezes e Muricy Ramalho liberaram a escalação oficial somente dentro do gramado, sem cumprir os 45 minutos de antecedência exigidos pelo regulamento? Tivemos o absurdo de ter 13 jogadores do Corinthians perfilados para cantar o Hino Nacional, a fim de confundir o adversário). É o mesmo quarto-árbitro que tenta organizar o banco de reservas, fazendo com que os treinadores e atletas se comportem adequadamente; é o fiscal dos gandulas, que usualmente são orientados a trabalhar com desempenho diferente, mediante o resultado da partida. É também o quarto-árbitro uma espécie de “dedo-duro”, fofoqueiro, alcagüete do jogo; pois, afinal, é ele quem denuncia as ofensas e xingamentos que extrapolam a boa educação fora das quatro linhas. Vide os treinadores e reservas expulsos – na sua maioria, a expulsão se dá após o árbitro receber o chamado do quarto-árbitro. Por fim, é ele quem deve ficar atento a lances fora do campo visual do árbitro (uma agressão não vista pelo árbitro; a opinião de um lance duvidoso e que ele tenha convicção, etc). Pode ele estar presente em todos os lugares da periferia do campo, embora sua base seja a equidistância dos bancos (não pode ser estático, senão, ao invés de “árbitro”, “vira mesário”). Também não deve irresponsavelmente abandonar a sua posição a qualquer situação, pois, afinal, a sua maior área de atuação é próxima às comissões técnicas.
Abaixo, elenco alguns lances interessantes envolvendo decisões relevantes dos quarto-árbitros:
Copa das Confederações 2009 – Brasil 4 X 3 Egito: quando o jogo estava 3×3, Lucio chutou para o gol e uma mão na bola do zagueiro egípcio tira a bola em cima da linha do gol. Howard Webb, árbitro inglês, não vê a mão e dá escanteio, mas o quarto-árbitro informa pelo rádio que foi mão intencional. “Desmarcou” o escanteio e marcou o pênalti. (nesse jogo, houve polêmica pois acreditava-se que o quarto-árbitro avisou o árbitro após ver a repetição no telão; FIFA alegou que o telão não tinha replay).
Copa do Mundo 2006: Final Itália X França – fora do lance de bola, Matterazzi e Zidane discutem. O atento quarto árbitro vê a forte discussão, e quando ia chamar a atenção deles, Zidane cabeceia a barriga do italiano. Ato contínuo, o quarto-árbitro espanhol Medina Cantalejo avisa Horácio Elizondo que sem titubear expulsa o francês.
Corinthians X Barueri: Série B 2008- zagueiro Duílio fez falta na meia lua em Herreira, que caiu dentro da área. Pênalti marcado pelo árbitro Domingos de Jesus Viana Filho. Imediatamente o quarto árbitro avisou ao árbitro que tinha certeza que a falta houvera sido fora da área (detalhe: quarto-árbitro paulista). Árbitro crê no quarto-árbitro, volta atrás e marca tiro livre direto (fora da área).
Benfica X Vitória de Guimarães: Campeonato Português 2010/11 (há 1 mês, processo em julgamento): O jogador Romeu do Vitória Guimarães agrediu seu adversário fora do lance de jogo. Na primeira paralisação, o quarto árbitro João Ferreira avisa o árbitro Duarte Gomes do ocorrido. Agressor expulso, e protesto da equipe de Guimarães (o clube pede anulação da partida por erro de direito, alegando que o quarto árbitro, antes de informar ao árbitro, tirou suas dúvidas num monitor da TV que transmitia o jogo).
Santa Rita X União de Palmares: Campeonato Alagoano da Segunda Divisão: o árbitro Francisco Carlos do Nascimento (Aspirante à FIFA atualmente e que apitará Corinthians X Avaí nesta quarta-feira), encerra a partida após o quarto árbitro denunciar que a equipe mandante, em vantagem no placar e com 7 atletas em campo, estava orientando o goleiro a simular uma contusão (pelo tempo de jogo, se o goleiro contundido não pudesse continuar na partida e com as 3 substituições já realizadas, a equipe sairia de campo vitoriosa). O goleiro cai e o árbitro não espera o tempo de recuperação (que é de direito nesse caso). Ele encerra a partida imediatamente por atitude inconveniente e antidesportiva (o árbitro considerou a relevante informação do quarto árbitro; assim, ao invés do mandante levar os pontos, o adversário, por causa do quarto árbitro, conseguiu a vitória).
Coritiba X Santos: Campeonato Brasileiro 2008: o árbitro recém promovido à FIFA na época, Marcelo de Lima Henrique, se dirige ao treinador do Coritiba, Dorival Júnior, que insistia em reclamar veemente de todas as marcações do árbitro. Após uma advertência verbal de Marcelo de L Henrique, o quarto-árbitro (que era paranaense) diz ao árbitro que Dorival havia extrapolado, que o correto era expulsá-lo. O árbitro aceita a sugestão do quarto-árbitro e o expulsa. Curiosidade: no STJD, a testemunha de defesa do técnico Coxa Branca Dorival Júnior era o então treinador do Santos, Cuca (seu adversário naquela partida).
Vasco X Flamengo: (Campeonato Brasileiro 2010, dias atrás) PC Gusmão, descontente com a arbitragem de Gutemberg de Paula, faz gestos incitando a torcida do Vasco a pegar no pé do árbitro. O quarto-árbitro flagra, informa o árbitro que expulsa PC Gusmão. O treinador vascaíno insiste que seria impossível o árbitro ver tais incitações, já que deveria estar prestando atenção no jogo.
Botafogo X Boa Vista: Campeonato Carioca 2009 – lateral botafoguense Alessandro chuta para o gol, a bola fura a rede e entra no gol. Árbitro e bandeira dão gol. Mas aí vem o quarto-árbitro e alega ter certeza que foi por fora. Após muito tempo paralisado e o árbitro duvidando da informação do quarto-árbitro, o árbitro resolve voltar atrás e confiar na acertada informação. Foi, inclusive, jogo de TV da Globo, que rendeu elogios do Arnaldo César Coelho à atenção do quarto árbitro.
Finalizo repetindo a questão: Até onde o quarto-árbitro é importante? O árbitro precisa mesmo dele? Deixe seu comentário:
(você pode acompanhar este e outros textos no Blog do Rafael Porcari no portal da Rede Bom Dia, em: http://blog.redebomdia.com.br/blog/rafaelporcari/comentarios.php?codpost=3947&blog=6&nome_colunista=963)
