Ontem morreu o Ceará. Um ilustríssimo morador do Bairro Medeiros, típico personagem do folclore local. Passaria batido se sua impressionante história não fosse descoberta no leito da sua morte.
Ceará era um servente de pedreiro que se mantinha alcoolizado 24h por dia. Sempre bebum, mas alegre! Não conseguia fazer uma tarefa bem feita. As vezes arrumava briga por aí. Torrava o pouco dinheiro que ganhava com pinga. Andava como um andarilho à noite, bem embriagado e sujo.
Sobreviveu tanto tempo graças a caridade do Jorge e sua família, um construtor que o empregava, e unicamente por interesse fraterno e solidário o acolhia, dando comida, emprego, e até pouso! Sem parentes e amigos, sem nada, sua história seria esquecida no anonimato se não fosse a descoberta no último dia de vida.
No derradeiro dia, conseguiu-se um telefone de um suposto vizinho de um suposto amigo de um suposto parente distante (que loucura, não?). Após um dia inteiro de telefonemas, descobriu-se que o Ceará ainda tinha a mãe viva e 8 irmãos, todos em Pernambuco. Possuía primos em Araras-SP, e há 14 anos era dado como desaparecido. O que acontecera?
Aconteceu que ele era, vejam só, administrador da chácara do ex-prefeito da cidade, e gozava a reputação de um sujeito respeitado, letrado e grande trabalhador. Homem sério e esposo dedicado. Entretanto, a mulher o abandonou, e desde esse dia caiu no alcoolismo e sumiu no mundo.
Aqueles que o conhecem jamais pensariam na sua história. O desaparecido apareceu no dia em que se foi. Que descanse em paz!
