Neste último domingo, o treinador Luiz Felipe Scolari, em tom de denúncia, reclamou que estava sendo perseguido pelos árbitros, sendo tal fato uma suposta retaliação à posição da sua equipe nas eleições do Clube dos 13 (o Palmeiras votou contra o candidato apoiado pela CBF). Na segunda-feira, durante o jantar festivo da S.E.P., o presidente Luiz Gonzaga Beluzzo minimizou a acusação, alegando que a perseguição ao Felipão com expulsões e broncas não tinham correlação política, mas sim pelo fato da importância que os árbitros vêem de se destacarem sobre um nome prestigiado (em outras palavras, quís dizer que os árbitros querem se aparecer às custas da fama de Scolari).
Argumentar, levantar hipótese e até contestar as atuações dos árbitros, fora de campo e de maneira respeitosa e educada, são válidas. O que não pode é acusar sem provas, como tem sido feito. Passa-se a idéia de que a CBF e a C.A. conspiram contra o Palmeiras! Cuidado, o torcedor menos informado e mais fanático pode crer nessa história. De tanto falar sobre o assunto, uma hora começa-se a acreditar. Assim, o fracasso da equipe passa a ter como responsável não o técnico, jogadores e diretoria, mas sim o árbitro. O juiz de futebol vira bode expiratório, ganha destaque e ofusca outros assuntos como a má-escalação da equipe, plantel reduzido ou fragilidade do esquema tático.
Dentro desse ideário filipônico/beluzziano que está sendo criado, se acreditarmos nele, temos o seguinte cenário:
1) Na partida de estréia do Felipão, o Palmeiras não venceu pela ansiedade do árbitro em estar atento a possíveis deslizes de Scolari na área técnica (afinal, houve reclamação ao final da partida).
2) Wilton Sampaio, premeditamente, esperava uma grosseria do treinador para expulsá-lo, e justo na primeira vitória do time, só para desmoralizá-lo.
3) Sálvio Spínola Fagundes Filho injustamente repreendeu Felipão a beira do campo para querer aparecer mais do que o treinador. O árbitro queria evitar que Scolari trabalhasse com tranqüilidade.
4) O Palmeiras teve alguns insucessos devido as entrevistas concedidas pelos atletas; afinal, deturpam a fala dos jogadores.
5) A culpa da má campanha é da imprensa e da arbitragem.
Ora, tal discurso pode até funcionar para os mais desavisados, mas não cola para pessoas esclarecidas. A cada desculpa, há sempre uma contrapartida e a elucidação da verdade:
1) Felipão não estaria enferrujado por ter trabalhado em outros centros futebolísticos sem ter tido sucesso (ironizado no comando do Chelsea e sem competitividade no futebol do Uzbequistão)? Leva tempo para voltar a ter ritmo de competição, e muitas vezes a pressão contra a arbitragem é uma forma de se tentar ganhar o jogo na marra, quando não se tem poderio. Time bom ganha do adversário e da arbitragem, caso seja necessário.
2) Wilton Sampaio o expulsou por ter sido, segundo a súmula, chamado de “safado”. O árbitro vai querer expulsar Felipão a toa, dentro da casa do Palmeiras, a troco de notoriedade? Claro que não. Sua equipe vencia, era necessário tal descontrole emocional? Xinga o cara e quer ficar em campo? Aí não dá… (Scolari alegou que não foi expulso nem na Inglaterra e nem no Uzbequistão. Claro, ele não xinga em inglês e nem em uzbeque… e os árbitros de lá, claramente, não falam português)
3) Em Campinas, numa partida de fraco nível técnico, após insistentes e infundadas reclamações contra a arbitragem, Scolari foi advertido verbalmente por Sálvio Spínola. Vai me convencer de que o Sálvio, árbitro da FIFA e com muita experiência, ia querer aparecer em cima do Felipão num jogo contra o Guarani? Tenha dó…
4) Promover a censura a lá Dunga na África do Sul para buscar resultados dentro de campo não parece ser a melhor estratégia.
5) Jogar a culpa dos maus resultados sobre a imprensa e sobre a arbitragem é desculpa mais do que conhecida. Há treinadores experts nisso. Quando perdeu para Honduras na Copa América, Felipão reclamava do árbitro guatemalteco e foi expulso. Luxemburgo, certa feita, pressionado no Santos, criou uma idiota polêmica sobre o árbitro Rodrigo Martins Cintra e a camisa cor-de-rosa, tirando o foco do time. Dunga usou o mau relacionamento com a imprensa e promoveu uma auto-reclusão na África, como fato motivador para os atletas.
Tirar o foco da dificuldade do seu trabalho e alimentar polêmicas paralelas está cada vez mais usual no futebol brasileiro. Uma pena. Com o rótulo de perseguido, Scolari abafa possíveis reclamações quanto ao seu esquema de jogo e capacidade de desenvolver novos esquemas táticos.
Luiz Felipe é vencedor. Respeito ele. Ganhou títulos importantes nos clubes e a maior honraria que um treinador pode almejar, que é a Copa do Mundo. De certo, não precisa ser desrespeitoso e se expor tanto. Ou será que é justamente pela sua má fase que ele precisa se expor, para diminuir as críticas?
E você, acredita que Felipão está sendo perseguido pelos motivos citados por ele ou é tudo cascata? Deixe seu comentário: