Em qualquer seara, um dos pontos para a conquista do público é demonstrar simpatia. Acima da simpatia, é ainda mais necessário o CARISMA.
Mas como definir o que é Carisma?
Até a segunda metade do século XIX, o vocábulo Carisma se referia exclusivamente a um termo religioso. Dizia o apóstolo São Paulo em uma de suas cartas que “Carisma é um dom extraordinário de Deus que envolve as pessoas, através do Espírito Santo“, e cita-os baseado na sua observação e experiência de fé. Quem mudou o sentido desta palavra foi o eclético alemão Max Weber, que por sua excepcional formação (economista, sociólogo, músico, advogado e teólogo – e defensor ferrenho do capitalismo; sua obra é a contraposição do comunismo de Karl Marx), em um de seus trabalhos (o Socialismo da Burocracia) altera o entendimento “do que é ser carismático”. Para ele, carisma é um “dom que Deus dá às pessoas para que elas possam envolver [outrém]“.
O entendimento é que Carisma sai do contexto religioso e passa para o social. E dentro da sociedade, pessoas carismáticas envolvem, lideram, comandam ou manipulam pessoas e opiniões. Para o bem, ou para o mal. Compare Madre Teresa de Calcutá e Hitler. Ambos são carismáticos. Ambos fascinavam e de modos diferentes: para a prática da solidariedade ou da guerra, do amor ou da força. Ambos encantavam e conquistavam seguidores.
Vemos que pessoas com Carisma conseguem adeptos. Lula e FHC, opositores partidários, são carismáticos. O falecido papa João Paulo II e o sumido terrorista Osama Bin Laden também. Normalmente, os carismáticos contam com inúmeros simpatizantes de suas ações, opiniões e propósitos, sejam legais ou ilegais; morais, amorais e imorais.
Já que definimos o que é Carisma, vai a pergunta: a Seleção Brasileira de Futebol é Carismática hoje?
Sejamos realistas: vivemos um momento diferente de entender o que é Seleção. Outrora, éramos um país chamado de “pátria de chuteiras”. Hoje, o país começa (bem aos poucos) perder a característica de monocultura esportiva e o capitalismo faz com que cada vez mais o time deixe de ser um patrimônio público e assuma a condição de time particular que representa o Brasil em competições internacionais. Isso é condenável? Talvez não. Talvez seja sinal dos novos tempos. A CBF não é uma ONG nem uma entidade filantrópica, é uma entidade privada. No esporte, não soa bem o uso dessa terminologia, mas é assim que funciona.
O problema é que tínhamos jogadores carismáticos em outras copas: Gérson, Pelé, Garrincha, Rivelino, Sócrates, Zico. O carisma desses atletas se confundia com o alto rendimento dentro de campo. Dá para comparar a simpatia e talento de Clodoaldo com a má-educação nas entrevistas e brutuculidade de Felipe Mello? Jogador de antes se desdobrava a atender respeitosamente aos repórteres, e hoje qualquer cabeça-de-bagre só atende a coletiva após filtro do assessor de imprensa.
O fato dos atletas da Seleção não atuarem em sua maioria no Brasil acaba diminuindo o carisma da mesma por parte do torcedor. Os jogadores da Europa apenas chegam, se isolam, jogam e partem logo após o jogo. Não vivem o país, não sentem o calor ou o temor da torcida, não se ambientam com o sentimento nacional, que cada vez mais diminui. São ilustres estrangeiros em seu próprio país. Não ter um número significativo de atletas dos clubes locais impede a torcida de estar mais apaixonada, de se envolver. É a prática do anti-carisma (claro que não estou discutindo ou promovendo escalação de uma seleção nacional com atletas locais, pois talvez não teríamos competitividade suficiente, nem jogador simpático ou sorridente; apenas chegando a uma conclusão lógica da empatia do torcedor com o time).
Torcedores do Flamengo defenderiam a escalação do Léo Moura; os atleticanos do Diego Tardelli, os corinthianos do Roberto Carlos, os gremistas do Victor, os sãopaulinos do Rogério Ceni. E assim os brasileiros torceriam pelos jogadores de seus times, e esses mesmos, por viverem aqui, estariam mais interados da cobrança e investidos de responsabilidade maior.
Confesso que é mais gostoso torcer assim. Torci pela convocação do Victor pelo Dunga e pela (dificílima mas especulada) do Nenê pela seleção espanhola. Passaram por Jundiaí, seriam simpáticas suas convocações a nós daqui. Aumentaria o interesse dos torcedores jundiaienses. Aliás, nosso amigo multienciclopediático Thiago Baptista de Olim (jornalista do Bom Dia e conhecedor profundo do esporte local e nacional – http://blog.redebomdia.com.br/blog/thiagoolim/) poderia nos ajudar: quais jogadores que passaram pelo Paulista FC já jogaram pela Seleção?
Dito (ou escrito) tudo isso, começamos a fechar o pensamento: estamos diante da mais antipática e sem-carisma Seleção Brasileira de Futebol de todos os tempos. E talvez por isso (olha que incrível) tenha tudo para ser um sucesso na Copa do Mundo! Sim, é a grande favorita justamente pelo anticarisma do treinador. Não sorri, não dá entrevista, não agrada e ao mesmo tempo demonstra não ter compromisso com ninguém, a não ser com seu trabalho. Na convocação, Dunga e Jorginho procuravam dar uma patada nos jornalistas a cada pergunta. Mas é inegável: contrariando o dito popular de que “Seleção é momento”, Dunga montou um time com cara de vencedor ao longo dos seus 3 anos e meio de trabalho. Não tem jogadores carismáticos como Ronaldinho Gaúcho ou Neymar (embora alguns contestem o carisma desses atletas), abdicou do futebol-arte pelo de resultado. Conquistou tudo o que disputou em torneios oficiais e convenceu nos números.
Fica claro que a filosofia coerente adotada pelo treinador é a do pragmatismo. A eficácia ao invés da eficiência. A conquista da vitória ao invés do futebol alegre. Está na moda no mundo da administração o termo efetividade. Ser efetivo é ter eficácia e eficiência em plenitude. No futebol, ser efetivo é ganhar e jogar bonito. Dunga não se preocupa com a eficiência (o melhor modo de fazer), mas com a eficácia (alcançar o resultado). Mesmo que isso faça dele o menos carismático dos treineiros.
E o risco é justamente esse: com os carismáticos, há muita tolerância nas derrotas e fracassos. Os antipáticos tem que vencer para convencer. Dunga está sendo ousado a arriscar tanto: isola a seleção, destrata jornalista e se mostra imune às críticas de torcedores. E por mais irônico que possa ser, nesses novos tempos do futebol, esse é um dos caminhos para a conquista do Hexa (não confundamos antipatia com incompetência). É um linha difícil de atuação em qualquer setor de atividade, seja ela esportiva, política ou empresarial. Mas com muita seriedade, pode frutificar em vitória.
Para reforçar o anti-carisma: o uniforme de passeio da Seleção! Amigos, que coisa descaracterizada promovida pela Nike! A camisa de passeio mostrada ontem, na visita do time ao presidente Lula, é semelhante ao extremo com a camisa de jogo da seleção da Nova Zelândia de 4 anos atrás. Curiosamente, são do mesmo fornecedor. Faltou criatividade. Não que eu seja conservador nem saudosista (embora ainda tenha uma grande saudade: a de ver em campo a camisa tricolor do Paulista de 1984, com calções e meias brancas), defendo os terceiros ou quartos uniformes e a livre expressão criativo-poética em material de treino. Mas que dessa vez não tem nada de Brasil na roupa… ah, não tem.
O espaço está aberto. Quer falar sobre o carisma seja da Seleção ou de qualquer outra área? Deixe seu comentário aqui.

Caro Prof. Rafael,
Por um problema no meu computador, hoje tomei conhecimento do seu Blog e do tema sôbre Carisma, com o qual eu concordo.
Parabens. Prof. José de Souza Teixeira
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