Fernando de Barros e Silva, da Folha de São Paulo, relatou ontem (citações abaixo) o depoimento de um bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, onde ele orienta seus colegas sobre táticas de aumentar a arrecadação nas coletas, além de propôr acordos entre criminosos. Algumas falas foram assustadoras: “nosso problema não é bandido, nosso problema é a polícia”.
Reproduzo a impressionante matéria, extraída de: http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/4/14/fe-sem-lei
FÉ SEM LEI
É claro que impressiona a maneira ao mesmo tempo vulgar e estudada com que o bispo Romualdo Panceiro orienta seus pastores a arrecadar o dízimo em época de crise. Mas suas dicas “bíblicas” de como arrancar dinheiro dos fiéis não chegam a surpreender quem já conhece os métodos da Igreja Universal. Muita gente de boa-fé pode ter razões para se escandalizar, mas até aqui estamos no terreno das transações lícitas.
As coisas mudam de figura e têm outra gravidade quando assistimos, na Folha Online, ao segundo vídeo que acompanha a reportagem de Rubens Valente, na Folha de ontem. Nessa fita, o mesmo bispo Panceiro dá uma palestra a um grupo de pastores reunidos numa sala. A certa altura, desliga o gravador e diz: “O nosso problema não é bandido. O nosso problema é a polícia“.
Panceiro explica então por que razões acreditava que o assalto na véspera a um carro-forte que carregava R$ 52 mil arrecadados num culto havia sido realizado por policiais. E vai além: orienta os pastores para que procurem os “chefes” dos bandidos das comunidades onde atuam a fim de criar com eles uma relação de ajuda mútua:
“A gente é companheiro ou não é? Fala assim!”. “Já falei para vocês fazerem (isso). O bispo quer que isso seja feito em todo o Brasil, como nós fizemos aqui”. O “bispo”, como é fácil presumir, é Edir Macedo, o líder da Universal, o dono da Rede Record, hoje um dos homens mais ricos e poderosos do país. E Romualdo, que fala em seu nome, é apontado pelo próprio Macedo como seu sucessor dentro da igreja.
O que choca, portanto, não é mais o proselitismo agressivo e tosco com fins mercantis. É a sugestão de uma teia de cumplicidades entre a cúpula da Igreja Universal e o crime organizado. Além, é claro, da “denúncia” involuntária de que a polícia jogou como bandido.
Pragmatismo sem peias, mistura entre business e fé, aliança entre igreja e criminosos, agentes do Estado agindo fora da lei. Parece que estamos mesmo no novo Brasil.
Abaixo, vário vídeos reproduzidos no ideocast da Folha sobre as falas e orientações. Para assisti-los, CLIQUE AQUI