Que país é este em que os militares precisam ir aos supermercados fiscalizarem os preços nas gôndolas? Onde a imprensa não tem voz e nem vez? E que importa 80% do que consome?
É a Venezuela… rica em petróleo, pobre em democracia e ironicamente em dinheiro. O que entra, vai para gastos militares.
Não basta ter recursos. É necessário ter competência para que eles se transformem efetivamente em riquezas.
Abra o olho, presidente Lula! É este o seu amigo… mui amigo!
Extraído de: Revista Época (clique no link para a citação)
O BOLÍVAR FORTE FICOU FRACO
A economia da Venezuela entrou cambaleante em 2010. A crise global reduziu a demanda por petróleo, responsável por 94% das exportações venezuelanas, e levou o país a sua primeira recessão em cinco anos – queda de 2,9% do PIB em 2009. O presidente Hugo Chávez estava pressionado a tomar medidas para inverter o cenário recessivo. E a solução chavista veio na semana passada: desvalorizar o bolívar forte, a moeda venezuelana. Desde o dia 11, o câmbio fixo de 2,15 bolívares por dólar, em vigor desde 2005, passou para um regime duplo. Para a importação de produtos essenciais, como alimentos, remédios e maquinários, cada dólar valerá 2,60 bolívares. A outra faixa cambial, na qual o bolívar perdeu 50% do valor (4,30 por dólar), vai incidir sobre os artigos não essenciais, como automóveis, eletrônicos e celulares.
A jogada de Chávez está na segunda taxa. Cada dólar recebido pela estatal PDVSA com as exportações de óleo passa também a valer 4,30 bolívares. A mudança fará dobrar os ganhos da PDVSA e sua arrecadação ao Estado, o que dá um respiro ao governo para honrar seus compromissos da dívida pública. O mercado financeiro internacional gostou. Não se pode dizer o mesmo do povo venezuelano. No fim de semana anterior à adoção do novo câmbio, milhares de pessoas correram aos supermercados para comprar o que fosse possível, antes de o comércio aumentar o preço dos produtos.
É fácil explicar: quase 80% dos artigos de primeira necessidade são importados – comprados em dólar. Com a moeda americana valendo mais, é lógico esperar que o varejo repasse o aumento de custos. Em seu já conhecido estilo, Chávez mandou o Exército às lojas para impedir a remarcação de preços, dizendo não haver motivos para “especulação”. Em outra medida pirotécnica, anunciou que um navio está vindo da China carregado de televisores, geladeiras e máquinas de lavar, para serem vendidos a preços baixos à população. Mas o próprio Ministério das Finanças estima um aumento da inflação de 3 a 5 pontos porcentuais no fim do ano. A Venezuela fechou 2009 com inflação oficial de 25,1%, a maior do continente pelo quarto ano seguido.
Enquanto a população se vira para ajustar a renda ao novo cenário, o governo não faz esforço para conter suas despesas. No ano passado, os gastos públicos chegaram a cerca de R$ 145 bilhões, 17% a mais que em 2008. “Não há mágica para melhorar a situação fiscal. Tem de haver redução de gastos e, eventualmente, aumento de arrecadação”, diz Zeina Latif, economista-chefe do banco ING no Brasil. Analista de América Latina do Barclay’s Capital, Alejandro Grisanti afirma: “É inexplicável como Chávez foi tomar uma medida impopular em ano de eleições legislativas”. Sem dinheiro no bolso, os venezuelanos podem deixar os aliados do governo sem votos nas urnas.
