Amigos, não está fácil a vida de árbitro de futebol. Que pressão sobre os apitadores nesta reta final de campeonato! E temos que estar preparados, lógico. Somos cobrados, até por coisas indevidas, mas sabemos que é do ofício…
Fora de campo, também estamos em reta final para a chegada de mais provas, já visando o Paulistão-2010. No próximo sábado, teremos mais uma avaliação teórica; na segunda, dia 30, é a vez da escrita.
Para quem não sabe, somos avaliados ao logo do ano por:
– 2 testes físicos oficias da FIFA,
– 2 testes escritos,
– 1 Avaliação de gordura X massa (pesagem ou COFES)
– Média das notas de jogos apitados.
Fisicamente tudo bem, mas a minha carga de trabalho me obriga que daqui há pouco (às 04:30h) levante nesse domingão (talvez) chuvoso e vá treinar. É o custo do gosto pelo que se faz!
Mas vamos falar de coisas bacanas. Como sou impedido por questões éticas de fazer comentários sobre lances das partidas profissionais de meus colegas, então compartilho uma explicação didática da jogada à luz das regras de jogo. E, claro, o assunto predominante foi sobre o jogo há pouco, no Corinthians X Náutico, num lance que resultou em pênalti à equipe do “Timbu”. A polêmica foi a seguinte: Escudeiro segurou o atacante adversário. Se marca a falta onde ela começa ou onde ela termina? Nessa noite, alguns programas pós-jogo divergiam do lance.
Sem querer julgar acerto ou erro da marcação do árbitro, a regra de jogo diz o seguinte:
– Você tem que marcar a falta no local de origem da infração. Exemplo: se um atacante avança para dentro da área (corpo, cabeça e um pé dentro da área) e o outro pé ainda está fora, e o zagueiro o toca justamente neste pé, tem que marcar fora da área, ou seja, na origem (ou com um termo melhor: no local do ato).
– Se a falta é estendida, ou seja, o local é prolongado, você tem que marcar onde o ato infracional se consome de fato. Exemplo: se um atacante avança em direção a área, é puxado pela camisa estando fora da área, mas consegue entrar dentro da mesma ainda puxado, entretanto o agarrão o desequilibra ali dentro, é pênalti, pois tem que se marcar onde ocorreu o ato infracional. Isto foi orientado mais objetivamente em 2002, e passou a se chamar “falta continuada”. Assim, nestes lances se marca onde se consome a falta.
Portanto, você tem que marcar a falta na origem do lance; mas se for um ato prolongado (uma falta continuada), deve se marcar onde termina. Vide o lance do centroavante Luizão naquele polêmico Brasil X Turquia. Muitos, na oportunidade, disseram que o árbitro errou; mas só quem estava bem atualizado na regra sabia que ele acertou.
Outro lance: a cobrança de pênalti do atacante Aílton. Não julgarei se o árbitro errou ou acertou; mas a regra diz que é permitido ao batedor realizar fintas, desde que não sejam excessivas. Como estamos relembrando o milésimo gol de Pelé nesta semana, será fácil exemplificar: aquela paradinha na cobrança do pênalti é o limite aceito. Acima disso, vira “paradona”, o que não é válido.
Apenas para avaliar ponderadamente as situações polêmicas, se alguém perguntar sobre o erro ou acerto do árbitro na jogada que resultou na expulsão do atleta do Náutico, Bruno Mineiro, no segundo tempo, leve em conta a seguinte consideração para marcar uma falta: Você deve analisar a imprudência, temeridade, ou uso de força excessiva.
– Jogar de maneira imprudente é quando o atleta não se dá conta das consequências da sua ação; desatento. Por exemplo, se você corre mais do que pode, o campo está molhado e você escorrega e atinge um atleta, é lance imprudente! Marca-se tiro livre direto e não se aplica cartão.
– Jogar de maneira temerária é quando o atleta não leva em conta o risco de lesão ao adversário. Por exemplo, se você dá um carrinho (que sempre é um lance onde há temor de machucar). Marca-se tiro livre direto e se dá cartão amarelo.
– Jogar de maneira com força excessiva é quando o atleta emprega uma ação completamente desproprocional na disputa de bola, tornando os lances violentos. Por exemplo, um carrinho certeiro por trás nas pernas de um adversário, que se encontra parado e não tem como “se defender” (entenda como “se defender” o ato de fugir da falta). Aqui, independe se o atleta atingiu ou não o adversário. Marca-se tiro livre direto e cartão vermelho.
Viu como não é fácil apitar?
