– Da Arte de Linchar

Nesta semana, o jornalista Leonardo Attuch, em sua coluna semanal na Revista IstoÉ (edição 2088, 18/11/2009, pg 47), fez uma analogia perfeita da tradicional composição de Chico Buarque “Joga Pedra na Geni“, com os 2 fatos marcantes: a agressão verbal ao árbitro Carlos Eugênio Simon e à estudante Geisy Arruda.

Sem o julgamento moralista contra Simon e Geisy, nem acusações infundadas, Attuch destaca as semelhanças dos dois episódios: um professor universitário e um corpo discente de universitários, 2 idênticos desequilíbrios emocionais!

Compartilho a seguir:

DA ARTE DA LINCHAR

por Leonardo Attuch

Valentão, Belluzzo tentou incitar um linchamento, assim como os trogloditas da Uniban

Joga pedra na Geisy, joga bosta na Geisy, ela é feita pra apanhar, ela é boa de cuspir, ela dá pra qualquer um, maldita Geisy! Nos milhares de vídeos colocados no YouTube sobre o cerco à estudante Geisy Arruda, a trilha sonora é composta por urros, berros e agressões verbais. Mas se todo esse barulho pudesse ser substituído por uma única canção, ela seria “Geni e o Zepelim”, do compositor Chico Buarque. Aquela em que a vítima apanha porque pediu para apanhar. Ou porque, à primeira vista, na superfície, parece ser diferente dos outros.

Em todos os linchamentos, a lógica é idêntica. Sempre há uma fagulha, um líder que espalha a chama da violência e uma multidão ensandecida que carrega as tochas da intolerância. No caso de Geisy, a faísca que a fez “merecedora” das agressões foi um vestido curto, como se uma simples minissaia pudesse abalar a moral e os bons costumes de São Bernardo do Campo, em pleno país do fio dental. Mas os agressores da sociedade brasileira não são apenas os trogloditas da Uniban. Eles estão por toda parte – e, em alguns casos, são tidos até como pessoas cultas, esclarecidas e refinadas.

Na mesma semana em que Geisy foi cercada pela turba, o presidente do Palmeiras, Luiz Gonzaga Belluzzo, que se apresenta como um intelectual do futebol, sugeriu que “enchessem de porrada” o juiz Carlos Eugênio Simon. Depois, ao ser questionado sobre a incitação à violência, ele foi além. “Espero que o torcedor decida de acordo com sua consciência e com as circunstâncias.” Foi como se soprasse nos ouvidos da Mancha Verde, a torcida organizada do seu time, a mesma canção: Joga pedra no juiz, joga bosta no juiz, ele é feito pra apanhar, ele é bom de cuspir…

O curioso é que, em geral, os promotores de linchamentos são valentes apenas quando estão em grupo. Individualmente, costumam ser covardes, misóginos, homófobos e até medrosos – incapazes de encarar uma simples formiga. Mas a multidão os protege. No livro Massa e Poder, o italiano Elias Canetti decifrou o fenômeno.

Na agressão, “todos os braços saem como de uma e da mesma criatura”. E não há perigo porque a superioridade ao lado da massa é total. Por fim, consuma-se a execução. “Um assassinato sem risco, permitido, recomendado e compartilhado com muitos outros.” Na semana passada, Belluzzo, que além de presidente do Palmeiras é também dono de uma faculdade privada, demonstrou ter todos os atributos para ser reitor da Uniban. Mas no jogo seguinte, quando seu time foi favorecido pela arbitragem, o valentão se calou.

Um comentário sobre “– Da Arte de Linchar

  1. Porcari, tem acontecido uma grande inversão de valores: o Simon não é culpado, é vítima de pessoas que querem justificar seus erros administrativos e procuram um culpado.
    Se o senhor tiver contato com ele, diga que os árbitros estão torcendo por ele. Aqui na Bahia, todos somos Simon FC.

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  2. Só para tirar a dúvida: Simon FC joga com a camisa do tricolor das laranjeiras, por que não deu o gol, ou com a camisa do palmeiras, por que não expulsou o obina?
    professor, naum tem geito… sempre sobra para vocês…

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  3. KRA SÓ DEVE TER CEGO NESSE MUNDO. VCS ESTÃO DEFENDENO O SIMOM,? O BELUZO TÁ CERTO, PAU NELES E NA CAMBADA DE JUIZ LADRÃO QUE ESTÃO ROBANDO O PALMEIRAS.

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  4. Caríssimo, a estudante da Uniban não é nenhum exemplo a ser seguido, mas a idiotice dos estudantes deve ser condenada. Como torcedor de futebol, acho que se o árbitro errou, não deveria se ter tanta repercussão. Parece mais falta de espírito esportivo do presidente-torcedor.
    Deve ter gasto muito dinheiro e agora tem que justificar o fracasso.

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  5. É até gostoso ver o choro desses caras. Na Unibambi não gostam de vestido curto, né?
    Beluzo, monta time e não chora.

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  6. Simon errou! Ato falho, mas digno de qualquer ser humano. Falível. Teve seus bons momentos há anos, mas hoje sofre em mau momento na carreira. Deveria parar. No entanto o Palmeiras, apesar de liderar a competição por quase 20 rodadas, foi incompente quando precisou provar o espírito de campeão e perdeu seguidas partidas. Culpa única e exclusive do pobre Alviverde.

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  7. Acho que estão sendo muito rigorosos com o árbitro. E concordo com esse texto: derrepente o Simon virou o pior árbitro do mundo? É claro que não. Se o Palmeiras estivess ebem não tinha acontecido.
    Essa história da Unibambi foi legal.

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