Chegará em breve no Brasil o Kindle, um leitor de livros eletrônico. A novidade é um sucesso há 2 anos nos Estados Unidos, e seu fabricante, a loja virtual Amazon, promete revolucionar aqui também.
Hoje, a cada 100 livros vendidos nos EUA, 52 “são de papéis” e 48 digitais, ou seja, para esses leitores eletrônicos. Pudera, cada aparelho, do tamanho de um gibi, pode armazenar 200 mil livros! É uma biblioteca na palma da mão.
Confesso que particularmente acho sem graça. Primeiro, porque gosto do formato de papel, é charmoso e prático. Segundo, pois detesto ler em telas e não gosto da tecnologia “Touch”, onde se deve usar com o toque dos dedos na tela. É que o meu dedo é “gordinho”, e sempre me dou mal com esses equipamentos.
Diferente da evolução ds LPs para CDs e Ipod’s, agora não há inovação, mas um outro produto a ser fabricado. Aguademos a aceitação no Brasil!
Em: http://veja.abril.com.br/141009/brasil-rota-kindle-p-104.shtml
O BRASIL NA ROTA DO KINDLE
Antes que nos lancemos às especulações sobre o futuro do livro digital é preciso fazer um exercício que se tornou clássico. Esse exercício analisa o livro comum impresso em papel do ponto de vista do mais exigente usuário do universo. Ele diria que se trata de um produto que funciona sem bateria, dispensa o manual do usuário, suporta quedas, é barato e pode ser substituído a um custo mínimo. É, portanto, uma invenção tecnologicamente perfeita. Não por acaso, atravessou mais de quinhentos anos de história como o mais simples e prático instrumento para o registro e a transmissão de ideias. Mas, mesmo com todas essas imbatíveis características, o livro evolui. A cara mais conhecida dessa evolução, que começa a ser vendida aos brasileiros na próxima semana, é o Kindle, da Amazon, um leitor digital de textos que já vendeu mais de 1 milhão de unidades nos Estados Unidos. O Kindle, cujo nome deriva dos verbos acender e iluminar em inglês, passará a ser vendido em 99 países, além do Brasil. Tecnicamente é um “e-reader”, ou leitor eletrônico. Seu fabricante, a Amazon, é um gigante do comércio varejista na web. Ela é maior do que seus três principais concorrentes somados. A versão que chega ao Brasil custará 279 dólares e só poderá ser comprada no site da Amazon. Acrescidos os impostos de importação e frete, chega-se a uma conta final equivalente em moeda brasileira a 585 dólares – 1 016 reais na sexta-feira passada. “Estamos animadíssimos. Não sabemos quanto nossas vendas aumentarão, mas nosso alvo imediato são os 90 milhões de consumidores da amazon.com que já temos espalhados pelo mundo. Esse é um número considerável”, disse a VEJA Jeff Bezos, o presidente e fundador da superloja virtual.
De posse do Kindle, o usuário brasileiro terá acesso sem fio ao estoque de mais de 200.000 livros digitalizados à venda no site da Amazon. O aparelho se conecta automaticamente a uma rede de telefonia celular 3G, a mais rápida. Na ausência do sinal mais veloz, o Kindle se conecta pela segunda melhor opção, o Edge. A ligação não é gratuita, mas seu custo está embutido no preço do livro, que deverá ser pago com um cartão de crédito internacional na transação eletrônica aferida pelo próprio site da Amazon. O limite de tempo gasto para baixar o livro no Kindle é de sessenta segundos. A estante digital da Amazon já oferece também revistas e jornais. Adicionalmente, o usuário pode transferir para seu aparelho conectado a um computador quaisquer arquivos gravados em PDF – a sigla de Portable Document File –, um formato-padrão pré-instalado na imensa maioria dos PCs. Para carregar arquivos de outros formatos, a Amazon oferece ao usuário um serviço em que ele envia por e-mail para a empresa um documento qualquer e ela o devolve com a formatação correta, para ser lido pelo Kindle. Para receber o arquivo por e-mail e fazer a transferência para o leitor, o serviço é gratuito. Quem desejar receber o arquivo pela rede 3G ou pelo Edge diretamente no e-reader pagará uma taxa de pouco mais de 1 dólar.
A oferta de e-books, como são chamados em inglês os livros digitais oferecidos via internet, cresce exponencialmente, o que é uma comodidade para o usuário, mas uma grande preocupação para os editores brasileiros de livros de papel (veja quadro). A Amazon lidera esse mercado, que avança rapidamente. Em setembro passado, O Símbolo Perdido, o novo título de Dan Brown, autor do best-seller O Código Da Vinci, foi lançado em formato digital e no tradicional impresso. O digital vendeu mais do que o livro de papel. No início do ano, as versões eletrônicas de livros representavam 13% dos títulos comercializados pela Amazon. Em maio, esse número chegou a 35% e, agora, passa dos 48%. Dados da Associação Americana de Editores (AAP) corroboram o avanço. Indicam que as vendas de e-books somaram 20 milhões de dólares em 2003, ante 113 milhões de dólares em 2008. O aumento nesse período foi de 465%. Só no primeiro semestre de 2009, o crescimento foi de 150%. “Hoje, os e-books representam apenas 1% do mercado, mas não tenho dúvida de que esse ritmo de crescimento vai incentivar todo o setor a mergulhar nessa tecnologia”, disse a VEJA Edward McCoyd, diretor da AAP, em Nova York.
Entusiasmo semelhante percebe-se na produção de e-readers. Eles se multiplicam – e se diversificam. A Amazon tem o Kindle internacional, com tela de 15,2 centímetros, e o DX, vendido nos Estados Unidos, com monitor de 24,6 centímetros. O trunfo de ambos é a conexão wireless por rede 3G com a imensa biblioteca virtual da empresa (nos Estados Unidos, são 350 000 títulos). A companhia não divulga números de vendas de seus produtos, mas uma estimativa do analista Mark Mahaney, do Citigroup, mostra que foram comercializados 500 000 Kindles em 2008. Neste ano, mesmo sem o avanço internacional, devem dobrar. Em agosto, a Sony anunciou o lançamento de três modelos numa só tacada. Dois deles têm tela sensível ao toque (touch screen). A japonesa Fujitsu vende no Japão um e-reader com tela colorida. Os problemas são o preço (mais de 1 000 dólares) e o reflexo que incide sobre o monitor. Marcas como Samsung, Asus (que criou o primeiro netbook comercial), Plastic Logic, iREX e até mesmo genéricos chineses também estão entrando nesse ramo. Em 2009, devem ser vendidos 3 milhões de e-readers. Em 2014, tal cota pode atingir a casa dos 30 milhões.
Há forte expectativa de que a Apple também lance um produto para a leitura de livros, mas parecido com um tablet (computador com tela touch screen). Steve Jobs tem desmentido com veemência tal possibilidade – o que, na prática, não significa muito. Recentemente, os rumores sobre o novo produto da empresa recrudesceram depois que a companhia registrou a patente número 20080204426, nos Estados Unidos, de um sistema que “simula uma página sendo virada em uma tela a partir do movimento de um dedo”, como num livro de átomos. O Google é outro gigante firme nesse páreo. Ele não tem um produto, mas 1,5 milhão de livros digitalizados. Detalhe: quer chegar a 5 milhões em meados de 2010.
O problema dessa leva de concorrentes é a própria Amazon. Um dos poucos sobreviventes da bolha da internet, que explodiu em 2000, a Amazon tem um chefe, Bezos, obstinado e duríssimo na queda. Hoje, posicionou-se no mercado editorial de maneira impressionante – e abrangente. Tem dois serviços, o BookSurge e o CreateSpace, que permitem a impressão de títulos sob demanda e auxiliam autores, cineastas e músicos a produzir, divulgar e distribuir suas obras. Somente em 2008, a Amazon comprou a Audible.com, uma empresa de audiolivros, a AbeBooks, uma espécie de sebo on-line, e a Shelfari, uma rede social de leitores assíduos. Em abril, adquiriu a Lexcycle, que criou o Stanza, um aplicativo para a leitura de livros no iPhone. Tem ainda um programa chamado AmazonEncore. Com base nas vendas do site da companhia, ele identifica livros com bom potencial de vendas e os imprime numa nova edição. É uma espécie de caça-talentos cuja peneira é feita eletronicamente. O Encore, no limite, representa uma nova forma de intermediação entre o público e a obra, com base em informações fornecidas diretamente pela audiência.
