A Índia está na moda no Brasil, devido a novela da Rede Globo. Mas o que a novela não mostrou é a “clonagem de marcas” que assusta naquele país. Marlboro vira Marlbore, entre outras piratarias. E ninguém faz nada para acabar com esse crime, pois a cultura da cópia está embutida na cultura local:
Extraído de: http://ultimosegundo.ig.com.br/economia/2009/07/17/artigo+marcas+ganham+clones+na+india+7354925.html
MARCAS GANHAM “SÓSIAS” NA ÍNDIA
As lojas são em número cada vez maior na Índia, graças a uma economia que ainda cresce e uma população jovem ávida por novos produtos de marca. Mas algumas marcas ocidentais – quando conseguem ultrapassar os obstáculos regulatórios para entrar no mercado indiano – podem ter uma sensação de déjà vu.
A Timberland, fabricante de botas de escalada e outros equipamentos para esportes ao ar livre, identificada pela árvore, que é a sua logomarca, e os sapatos duráveis, vai se deparar com a Woodland, que vende calçados e roupas similares e que também usa uma árvore como logomarca.
A Pinkberry, rede de sorvete de iogurte de Los Angeles, vai dar de encontro com a Cocoberry, que vende sorvetes de iogurte, também tem o mesmo logo e uma coleção similar de coberturas de frutas frescas e doces.
E o The Financial Times, jornal britânico impresso em papel rosa desde 1893, está envolvido numa batalha legal com a Bennet, Coleman & Co. Proprietária do maior jornal de língua inglesa da Índia, a Bennet publica, desde 1984, um suplemento de jornal em papel rosa chamado de The Financial Times. A Pearson, que publica o FT original, planeja publicar seu jornal na Índia, mas a Bennett Coleman está contestando esse direito nos tribunais.
Do mesmo modo que Bennett, a Woodland – sósia da Timberland – não é uma simples empresa familiar. Possui 230 lojas em todo o país e tem planos de abrir outras 50.
Os Estados Unidos há muito tempo vêm discutindo problemas de direitos de propriedade intelectual com a China, onde são falsificadas desde bolsas de famosos estilistas até iPhones e automóveis. Mas, como as grandes marcas consideram a Índia uma das poucas oportunidades de crescimento num mercado global anêmico, empresas e governos estrangeiros estão protestando contra a falta de proteção da propriedade intelectual no país.
A Índia poderá ser o melhor mercado do mundo para o crescimento das vendas no varejo este ano, segundo a consultora A.T. Kearney num relatório divulgado em junho. “A classe média educada, e cada vez maior, na Índia, quer lojas melhores e mais marcas e estilos globais.”
Wal-Mart, Carrefour e Tesco estão abrindo grandes lojas atacadistas, que vão vender para restaurantes e proprietários de pequenas lojas.
Dezenas de marcas estrangeiras que não entraram ainda no mercado indiano estão em busca de parceiros para formar joint ventures domésticas – uma exigência para se abrir uma loja no país.
Quando indagado sobre sua fonte de inspiração para a Woodland, Harkirat Singh, diretor gerente e integrante da terceira geração a administrar a companhia de calçados, diz que não é “só porque soa similar” que a Woodland está copiando a Timberland. Ele reconheceu que existe uma “semelhança”, mas acrescentou que “nossa linha é diferente da linha deles”.
Singh afirma que a entrada da Timberland no mercado indiano pode ajudar, e não prejudicar os seus negócios. As marcas estrangeiras “trazem mais percepção do que é um calçado de qualidade”, diz. “Os consumidores indianos compram nosso produto porque é bom e barato.” A porta-voz da Timberland, Robin Giampa, disse que “a imitação pela Woodland, de diversos modelos, reconhecidos e de valor, da nossa marca, é uma preocupação”. A empresa está processando legalmente a Woodland por “pirataria”.
Se a Timberland vai ganhar a ação, é uma dúvida. “Nossos tribunais já reconheceram que você não pode ter um enfoque isolado da lei de marcas e patentes”, disse Gayatri Roy, advogada do escritório Luthra & Luthram em Nova Délhi, sugerindo que os juízes decidem com frequência que marcas que são muito conhecidas no mundo não podem ser copiadas por ninguém na Índia, mesmo que as empresas detentoras dessas marcas não operem na Índia. Os tribunais indianos já decidiram nesse sentido, em favor de empresas como Whirlpool, Dunhill e Volvo, entre outras.
Com relação à Timberland e Woodland, porém, pode ser difícil para a Timberland provar que sua marca tem de ser protegida, disse a advogada. A Woodland começou suas operações em 1992, de modo que já criou a sua própria identidade, disse ela.
Indagado se o sorvete de iogurte Pinkberry foi a inspiração para o seu, o diretor executivo da Cocoberry, G.S.Bhalla, disse que queria criar uma marca “associada com natureza, saúde e responsabilidade social”. Acrescentou que “os nossos produtos, receitas, design da loja e filosofia são exclusivas e muito diferentes de qualquer outra marca no mundo”.
Algumas imitações são tão vagas que não lembram o original e nem podem ser consideradas uma ameaça – é o caso das lojas de conveniência “6Ten”, que, com seu símbolo azul e amarelo e as pilhas de grãos à venda, não devem competir com a 7-Eleven.
Em alguns casos, a imitação não é da marca, mas do que ela representa. Por toda a Índia, inúmeros condutores de motocicletas e patinetes trazem a logomarca vermelha e branca familiar dos cigarros Marlboro nos seus capacetes. Mas, examinando de perto, os logos trazem a palavra “Malborne” ou “Melbourne”. Os capacetes, produzidos por várias fábricas, são “basicamente cópias dos capacetes usados por Michael Schumacher quando corria pela Ferrari”, explicou Rahim Premji, sócio da loja de bicicletas Allibhai Premji Tyrewalla. Schumacher era, então, patrocinado pela Marlboro.
Mas as fabricantes de capacetes foram obrigadas a substituir o nome Marlboro depois que as autoridades indianas proibiram a propaganda de cigarros. E, claro, a Marlboro não entrou com processo contra a propaganda gratuita.