Mas é contra a Paris Hilton! A badalada socialite encabeça uma propaganda inusitada de prosecco, mas voltada às massas. Os produtores italianos estão em “pé-de-guerra”. Segue abaixo com nota de referência:
A Itália contra Paris
A socialite Paris Hilton lançou um prosecco em lata na Áustria – e os produtores do tradicional espumante italiano decidiram declarar guerra aos copiadores
Por Carolina Meyer | 05.03.2009 | 18h37
Revista EXAME – http://portalexame.abril.com.br/revista/exame/edicoes/0938/economia/italia-paris-425384.html
A modelo, atriz e socialite americana Paris Hilton, de 28 anos, já se meteu em problemas de natureza bastante diversa. Primeiro, um vídeo que mostrava Paris em chamegos íntimos com um ex-namorado caiu na internet e acabou virando filme pornô. Como se não bastasse, já foi presa por dirigir alterada e escolhida pelas animadíssimas Britney Spears e Lindsay Lohan como parceira de noitadas. Em sua última confusão, porém, Paris mexeu num vespeiro – profanou um dos símbolos nacionais da Itália, o vinho. A patricinha lançou, na Áustria, uma marca de prosecco, espumante que tem origem na região do Vêneto, no norte da Itália. O objetivo de Paris e da Rich, fabricante da bebida, não é ganhar prêmios de qualidade em concursos internacionais. Longe disso. O vinho, desenvolvido para cair no gosto da juventude austríaca e ser vendido em boates, vem numa latinha dourada e custa apenas 2 euros. Outdoors de Paris totalmente nua, com o corpo coberto por uma fina camada de tinta dourada, foram a maneira escolhida pelo fabricante para popularizar o prosecco. O produto foi lançado em 2007, mas só agora deve chegar ao mercado americano, maior do mundo depois da Itália. E os produtores do tradicional prosecco do Vêneto, feito há quase 200 anos, decidiram declarar guerra – à latinha de Paris e, de quebra, às garrafas de todos os produtores de prosecco fora da Itália.
O consórcio dos produtores entrou na Justiça para tentar impedir que espumantes produzidos em qualquer região que não o Vêneto possam se autodenominar “prosecco”. A decisão do tribunal italiano deve sair nos próximos meses. “Na Itália, o prosecco é uma instituição”, afirma Artur Azevedo, diretor executivo da Associação Brasileira de Sommeliers. “Qualquer medida que altere a tradição do espumante é encarada como sacrilégio.” O movimento não é, exatamente, original. Ao apelar para o governo italiano – e, em última instância, à Comissão Europeia -, os produtores pretendem se valer do mesmo expediente adotado pelos vinicultores húngaros da região do Tokaj, uma das mais tradicionais zonas viníferas do mundo. Há cerca de dois anos, eles conquistaram na corte europeia o direito de exclusividade sobre a utilização do rótulo Tokaj para os vinhos produzidos naquele local, obrigando alguns produtores italianos que empregavam a mesma nomenclatura a substituí-la pelo termo “friuliano”. Os produtores das regiões de Champagne, na França, e do Porto, em Portugal, obtiveram vitórias semelhantes.
Embaixo de toda essa espuma, esconde-se uma feroz disputa comercial. Os italianos pretendem fazer do prosecco o espumante mais vendido do mundo até 2020, à frente do champanhe, seu rival mais tradicional e caro. Para isso, pretendem aproveitar a atual crise econômica como forma de catapultar as vendas de prosecco, apresentando-o como uma alternativa mais barata aos concorrentes franceses. Na Europa e nos Estados Unidos, uma garrafa de prosecco chega a custar até um quinto do valor cobrado por um champanhe original. O problema é que, com tamanha popularidade, tornou-se inevitável que surgissem milhares de produtores em outros países querendo pegar carona no sucesso do prosecco italiano – que é produzido de acordo com regras rígidas estabelecidas pelo governo local. Hoje, a região do Vêneto, que concentra cerca de 150 vinícolas, produz apenas 60 milhões dos 150 milhões de garrafas de prosecco vendidas anualmente no mundo. O temor dos produtores é que a onda de proseccos à Paris Hilton prejudique a marca – confundindo o que é bom e o que não presta e causando desvalorização nos preços.
Alguns fatores, porém, tornam improvável o sucesso dos vinicultores italianos. Seu principal objetivo, afinal, não é proteger uma localização geográfica que produz um tipo único de vinho, com clima próprio e solo peculiar – o chamado terroir -, a exemplo do que ocorre em regiões como a de Champagne ou do Porto. “Prosecco” é o nome da variedade da uva da qual se faz o espumante e, como tal, dificilmente terá seu uso limitado pela corte italiana. “Não existe precedente para uma ação desse tipo”, afirma Azevedo, da ABS. “É como querer proibir a utilização dos nomes de outras uvas, como chardonnay e cabernet sauvignon.” Ainda que os produtores italianos saiam vitoriosos em sua campanha, porém, é quase impossível que isso cause algum efeito fora da Europa. Isso porque, para ter valor legal, tal medida deve ser ratificada por todos os países que hoje cultivam a uva, incluindo o Brasil, quinto maior mercado do mundo – o que, evidentemente, obrigaria os produtores locais a adotar outro nome para o popular espumante. “Se for preciso, entraremos com uma ação no Tribunal Internacional para garantir o direito de utilizar o termo prosecco”, afirma Antônio Agostinho Salton, presidente da Salton, líder nacional na produção de espumantes. A guerra das borbulhas promete.
