Max Gehringer aconselha Kaká

Lembra sobre a polêmica envolvendo a transferência de Kaká, onde falamos da sua discutível decisão, sob o título de “Carreira ou Dinheiro?(Clique aqui para ler a matéria citada) Pois bem: Max Gehringer, grande consultor de RH no Brasil, simplesmente, segundo a Revista Época, aconselhou: não pense duas vezes, aceite!

Para quem se surpreendeu com a reportagem, olha a matéria completa abaixo (ops, no fórum de debates da revista, há diversos comentários. Entre eles: Max Gehringer é o Pelé na consultoria de RH, mas como comentarista esportivo é apenas o Zoca).

Extraído de: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI24892-15228,00-POR+QUE+KAKA+DISSE+NAO+AO+CITY.html

 

Por que Kaká disse não ao City

Há mais que amor à camisa na decisão do brasileiro de recusar a maior oferta da história do futebol

Imagine que você é um executivo bem pago em uma empresa líder de seu setor. Seu trabalho agrada a seus chefes, os colegas gostam de você, sua família está feliz na bela casa onde todos moram. Então você recebe uma proposta para ganhar três vezes mais em outra cidade, fazendo exatamente o mesmo trabalho, numa empresa menor – mas que acabou de receber uma grande injeção de capital e conta com seu talento para torná-la a número um do mercado. Você recusaria?
Diante de uma situação dessas, um executivo não tem muito o que pensar. Tem mais é que ir correndo”, diz o consultor e colunista de ÉPOCA Max Gehringer, especialista em relações de emprego (leia os conselhos de Max na reportagem de capa desta edição). Mas o personagem desse exemplo real, Ricardo Izecson dos Santos Leite, conhecido aqui como Kaká e na Itália como Ricky Kakà, tomou a decisão contrária. O jogador brasileiro, que ganha R$ 25 milhões por ano no Milan, rejeitou uma proposta salarial de R$ 85 milhões anuais, do Manchester City, da Inglaterra. As partes não confirmam esses valores, mas é certo que se tratava da maior transação da história do futebol.
Clube de porte médio na Inglaterra (seu rival local, o Manchester United, é muito mais poderoso), o City foi recém-comprado pelo xeque Mansur bin Zayed al-Nahyan, dos Emirados Árabes, que quer transformá-lo num supertime. Já havia contratado (por R$ 100 milhões) outra estrela da Seleção Brasileira, o atacante Robinho, e teria oferecido ao Milan R$ 240 milhões por Kaká (fora a parte que caberia ao jogador).
A negociação comoveu a Itália. Alguns torcedores milaneses acusaram Kaká de ceder à tentação do dinheiro – o que não deixa de ser irônico, considerando que é o Milan que costuma tirar craques de outros clubes a peso de ouro. No estádio de Milão, um torcedor estendeu uma faixa com os dizeres “I belong to money” (“Eu pertenço ao dinheiro”), uma referência ao “I belong to Jesus” da camiseta que o protestante Kaká usa por baixo do uniforme quando joga.
Depois de uma semana de idas e vindas, e quando a transferência já era dada como certa, o dono do Milan – o primeiro-ministro da Itália e magnata da televisão, Silvio Berlusconi – anunciou por telefone, ao vivo, em uma mesa-redonda na TV, que Kaká decidira ficar. A vibração dos jornalistas foi tão efusiva e constrangedora que o vídeo se tornou um dos mais vistos na internet na semana. “Viva, Kaká! Ele é um modelo para todos!”, disse Berlusconi. (Para piorar a vida do xeque Mansur, na semana passada Robinho fugiu da Inglaterra, alegando razões pessoais.)
À TV oficial do Milan, Kaká brandiu o argumento do amor à camisa: “Tomei a decisão certa. Sinto grande satisfação ao ver como me amam aqui (em Milão)”. Nem todos viram assim sua decisão. O sério jornal La Repubblica enxergou no episódio uma jogada política de Berlusconi: ao segurar Kaká, ele assumiria o papel de salvador do futebol italiano contra a sanha inglesa. No fim da semana, porém, Berlusconi já se via às voltas com outra proposta por sua joia rara, desta vez do Real Madrid, da Espanha.
Na decisão de Kaká pareceu ter pesado um cálculo de longo prazo. O Milan é um clube mais sólido que o Manchester City. O projeto do xeque Mansur ainda é nebuloso, e a crise financeira mundial atingiu em cheio o futebol inglês, financiado por mafiosos russos e fundos americanos. O Milan, por sua vez, costuma tratar bem seus ex-jogadores. Um exemplo é outro brasileiro, Leonardo, campeão mundial pelo Brasil em 1994 e hoje dirigente do clube italiano. Hoje, com 26 anos, Kaká ainda tem pelo menos quatro temporadas de alto nível à frente, e o futebol costuma ser um ambiente impiedoso e de memória curta. Basta citar o caso recente do técnico Caio Júnior. Em setembro, quando treinava o Flamengo e seu time estava entre os favoritos ao título brasileiro, ele recebeu uma oferta astronômica do emirado do Catar. A torcida gritou seu nome no Maracanã, o Flamengo ofereceu-lhe aumento e um contrato mais extenso. Caio Júnior decidiu ficar. Dois meses depois, o time perdeu alguns jogos, terminou a competição em quinto lugar e ele foi demitido. Ninguém se lembrou das juras de amor da primavera carioca. 

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